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Mayla

               Eu não queria deixar Rodrigo sozinho naquele momento, mas entendia que talvez fosse o que ele precisava. Quando seu carro parou em frente ao prédio onde eu morava, o encarei por alguns segundos enquanto procurava palavras adequadas, mas não havia nenhuma. Passamos a viagem inteira silenciosos e eu sentia que era completamente inútil por não poder fazer mais para ajudar.

               Nossa despedida foi simples naquele dia em que visitamos o cemitério, apenas algumas repreensões e um abraço. Aprendi que às vezes um abraço guarda muito mais consolo do que qualquer palavra dita e talvez Rodrigo tenha aprendido o mesmo naquele dia.

               Voltei a procurá-lo diariamente para saber como ele estava. Confesso que senti que era uma completa idiota por estar tão preocupada com alguém que considerava tão ruim quanto Tom. Parte de mim estava irritada e confusa por continuar sentindo vontade de ajudar.

               Considero que aqueles foram os dias mais cinzentos e silenciosos daquele ano, não por causa do clima nublado e frio, mas sim por causa de Rodrigo. Seu olhar sempre parecia vazio e perdido quando eu o encontrava. Ele não sorria e, de alguma forma, aquele era um desespero torturante para mim.

               Havia também o tempo que eu passava sozinha em meu apartamento após os expedientes e aos finais de semana. Os terríveis momentos em que eu era obrigada a encarar meus próprios problemas, aqueles dos quais tentava fugir enquanto entretia minha mente com Rodrigo, meus novos amigos e o trabalho. O toque insistente do meu celular atraía a minha atenção ao número de Tom, que estava estampado na tela. Ele ainda tentava ligar às vezes.

               Pensei em bloquear aquelas ligações, mas ainda esperava pelo momento em que teria coragem suficiente para atender e falar tudo o que eu deveria ter dito no dia em que o vi no clube. Deixei o celular tocando e caminhei até o banheiro para olhar meu próprio corpo no espelho.

               Minha tristeza por Tom já havia acabado, agora restavam apenas a raiva e o pavor de envolver-me em outro relacionamento. Se alguém tão bom e amável pôde trair, qualquer pessoa poderia. Ninguém jamais seria confiável.

               Havia algo mais: minha autoestima completamente destruída. Usar maquiagem não resolveu aquele problema, parecia que nada resolveria. Inclinei meu corpo em frente ao espelho para encarar minhas costas. Rodrigo elogiou alguns dias antes. Respirei fundo, sentindo-me ridícula.

               Os elogios de Gabriel, Clary e Rodrigo não serviam para nada. Eu não conseguia ver a beleza que eles viam e tinha certeza de que falavam coisas boas por compaixão, porque sabiam do que Tom havia feito. Eu não queria compaixão e estava cansada de receber apenas isso.

               Eu nunca seria alta, loira ou teria os olhos claros. Tampouco teria a beleza de uma pele negra e cabelos crespos cheios. Meus seios nunca seriam enormes ou perfeitamente redondos naturalmente. Eu era apenas a Mayla. E isso não era suficiente, nunca havia sido.

               Balancei a cabeça para sair de meu devaneio quando senti meus olhos lacrimejarem. Aqueles pensamentos não me levariam a lugar algum.

               Aqueles dias cinzentos e silenciosos transformaram-se semanas. Duas semanas, para ser exata. Rodrigo ainda estava muito triste, mas agora começava a dar seus primeiros passos para uma recuperação. Seu olhar já não parecia perdido e seu péssimo humor costumeiro já estava de volta. Aparentemente eu era a única no escritório feliz por isso.

Império PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora