Como que eu vou dizer pra ela?
Que eu gosto do seu cheiroDa cor do seu cabeloQue ela faz minha pupila dilatar
Pupila – ANAVITÓRIA
Jess olhou para Matias de novo. O silêncio, que ele estava decidido a manter, estava a incomodando. Ela não sabia ao certo o que o deixara tão mal-humorado. Matias era um rapaz alegre e reservado, raramente algo o tirava do sério.
— Teus... Fala comigo.
Ela tentou uma vez mais.
— Estou vendo o filme — ele ladrou para ela, deixando-a irritada.
Eles se encontravam uma vez na semana para fazer uma sessão de cinema na casa de algum dos dois. Naquela tarde, o lugar escolhido fora a casa dela e, apenas por isso, ela permanecia na presença dele.
— Foda-se, então!
Virando-se de barriga para cima, Jess decidiu se concentrar no filme. O clima estava ruim, e isso era uma das poucas coisas que a deixavam irritada. O celular apitou ao seu lado. Ela estendeu o braço para pegá-lo na mesinha de centro e se deparou com os olhos atentos de Matias.
A sala quadrada, com três sofás, um em frente e dois ao lado da Tv, permitiam que eles pudessem se sentar juntos no grande tapete, quando estavam amigáveis, ou, como era o caso naquele momento, cada um deitado em um sofá, nos dias em que estavam brigados.
Ela odiava as vezes em que brigava com Matias, mas, quando acontecia, sabia que o melhor era dar tempo e espaço. Só que, daquela vez, ela não tinha ideia do motivo da briga. Irritada, descontou nele.
— O que é?!
Foda-se essa coisa de tempo e espaço. Ele não era o único a ter direito a ficar irritado.
— Seu namoradinho?
"Ahh, então era isso", ela pensou. Sem conseguir se conter, Jess caiu na gargalhada. Aquela ridícula rixa de Matias com José estava passando dos limites. O garoto era legal.
— Ai, Matias, não acredito que está bravo com isso. Como você ainda não superou a Duda?
— O quê? Duda?
A expressão confusa no rosto do garoto a fez se levantar e estreitar a sobrancelha. Não era aquele o problema?
— Por que você acha que estou preocupado com o que a Duda faz? – continuou ele.
— Você fica de má vontade com José só porque descobriu que os dois ficaram antes de você e a Duda.
— Está maluca?! Não me importa o que rolou com os dois, ok?
O garoto se levantou do sofá e pegou os tênis jogados no chão para calçá-los.
— Então, se não é por conta da Duda, qual o motivo de ser tão intragável com o pobre coitado?
— Você!
Ele se levantou em um pulo.
Os olhos da garota se arregalaram. Ele era um garoto calmo e sereno, amigo de todos e sempre sorridente. Era ridículo dar crise de ciúmes daquela forma. Mas se ela queria a verdade, ela a teria.
Era isso, precisava falar a verdade para ela. Dizer que os malditos hormônios da adolescência estavam mexendo com a cabeça dele e já nem sabia quando ele parou de achar graça na irritante mania dela de envolver os longos fios negros em um coque e que não durava dois minutos para achar a cena encantadora.
Eles tinham dezessete anos. Já havia treze anos que eram os melhores amigos, mas só agora ele a queria de outra forma. As tardes juntos, conversando e dividindo pipoca; as noites estudando; os risos e as confidências. Nada mais daquilo era suficiente.
Havia meses, talvez até anos, ele não sabia ao certo, porém desejava muito mais de sua melhor amiga. Queria carinhos, beijos, leves e intensos, queria dormir de conchinha depois de uma longa noite juntos na cama.
— Não acredito que você está dando uma de melhor amigo ciumento. Já falei que você pode ser como um irmão para mim, mas não pode agir como um pai autoritário! — o grito dela o despertou.
Um balde de água fria.
"Você pode ser como um irmão para mim", ecoava em sua cabeça. O coração se agitou no peito. A verdade caindo em seu colo e sendo escancarada na cara. Era isso o que ele era. Um irmão. Um amigo de longa data. Uma pessoa querida, mas não desejada. Ele podia explicar para ela os sentimentos dele, mas a que custo?
Pensou em todos os anos de amizade e cumplicidade. O coração se apertou apenas ao imaginar não a ter por perto. Fechou os olhos, incapaz de aceitar tal possibilidade. Se contasse o que vinha pensando para a garota que o considerava como um irmão, ela correria para longe. Pelo amor de Deus, como ele pôde imaginar que isso daria certo?
— Desculpe!
As bochechas ficaram subitamente vermelhas.
— O quê?
Ela levou a mão à orelha e sorriu.
Com uma careta, ele resmungou:
— Não vou repetir. Você entendeu.
— Te deixo em paz, mas você vai ter que prometer nunca mais agir tão idiotamente.
— Essa palavra não existe.
Ele riu da carinha sorridente dela.
— Promete!
Ela levantou o dedo e apontou para o peito dele. Ele levou a mão direita ao coração e levantou a mão esquerda para cima.
— Prometo!
— Seu bobo.
Jess correu ao seu encontro. Os dois caíram no sofá apertado, e ela fez cosquinhas nele que, para descontar, bagunçou os cabelos pretos, longos e tão bem penteados.
A coxa grossa e firme se enrolou nas pernas dele. Instantaneamente, ele afastou a garota de seu colo e respirou fundo. Pensar e decidir ignorar a atração que sentia por ela seria mais difícil que fazer. Suspirando bem alto, ele apontou o sofá do outro lado da sala para ela. Uma revirada de olhos foi o suficiente para ele entender.
Voltaram o filme, mas, daquela vez, se sentaram no chão, um ao lado do outro.
Aquele pequeno episódio ficou esquecido entre tantos outros momentos que compartilharam. Jess nunca mais reclamou da super proteção do amigo, mas sempre pensou em como ele tentou cuidar dela e como estava certo de se preocupar com isso. Ela merecia, nada mais nada menos, que o melhor homem possível.
Matias aprendeu a se controlar quando opinava sobre os namorados de Jess. Com o tempo, também relegou a vontade de beijá-la, o desejo de tê-la para ele e os momentos de extremo deslumbramento. Mulheres se tornaram uma constante em sua vida. Ele tinha Jess como melhor amiga, e ela e a mãe dele eram as únicas mulheres com quem ele precisaria realmente se preocupar.
Dez anos depois, a única verdade que realmente importava era a intensa amizade que um tinha pelo outro. Afinal, nem todos tinham a sorte de ter um amigo de e para a vida toda.
Ahhhh... é tão bom voltar...
Mais um capítulo para vocês!!! Como eu disse, um romancezinho fofo, viu?
Alguém aí quer spoiler?
Só posso dizer que semana que vem teremos nossa Jess narrando...
Obrigada mais uma vez pelo carinho e cuidado!
Beijos imensos!!!
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[DEGUSTAÇÃO] Por que não eu?
RomantiekMatias e Jéssica se tornaram amigos ainda na pré-escola. Anos se passam, os colegas de escola se tornam melhores amigos de uma vida. Quando Jéssica ganha mais uma desilusão amorosa e Matias lança um livro do qual Jéssica nunca ouviu falar, muitas c...