O nome sussurrado pelo vento

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Avisos de gatilho: Menções a morte, menções a luto, descrição de feridas, sangue, descrição de mortes, sentimento de perda de entes queridos, ataques de pânico, violência explicita, dissociação, menção a escravidão, menção a tortura.

Neil sentiu a neve primeiro em seu rosto.

O que não era bom, já que suas botas estavam encharcadas, suas roupas molhadas com sangue e tudo à sua volta era branco e frio. Ainda assim, no instante em que um pequeno floco caiu abaixo de seus olhos, foi quando ele sentiu.

E foi quando suas pernas desabaram e a dor o tragou para baixo. Como se a terra fosse um ímã.

Ele estava cansado. Seus pulmões doíam com o simples esforço para respirar o ar gelado e Neil sentia que estava congelando de dentro para fora. E isso, de alguma forma parecia... parecia certo. Ele foi forjado em fogo.

Fazia sentido morrer no gelo.

Uma risada surgiu em sua garganta quando ele deixou seus olhos caírem para o chão — para seus pés. A neve manchada de vermelho, o calor do sangue fresco que escorria por suas feridas derretendo a neve macia e branca. Era quase mais doloroso ver a imensidão alva maculada por algo sujo como seu sangue.

Neil se perguntava, alguém iria encontrá-lo? Eles entregariam seu corpo para seu pai?

A risada presa ficou mais forte. Ele gostaria de ver a expressão do pai quando visse que o herdeiro que ele buscou por cinco anos havia morrido por culpa de uma de suas aranhas indisciplinadas. Um dos carrascos mal treinados que não podia atirar uma rajada decente de magia sem atingir tudo à sua volta.

E bem, por mais que Neil fosse bom o suficiente para se defender, ele ainda era lento. Lento demais.

O galho que se cravou em seu estômago era áspero ao toque quando ele o puxou, o arrancou de suas entranhas e correu. Correu até aqui, mesmo que não soubesse onde "aqui" era.

Ele só esperava que estivesse longe de Selmia. Longe de Beren e longe de Amyani.

Longe das pessoas que queria proteger, longe das pessoas que queria libertar e longe das pessoas que o queriam como a arma que Neil se recusava a ser.

Fechando os olhos, ele descobriu que poderia morrer feliz. Com culpa por desistir tão facilmente, sim. Mas feliz. Ele não estava quebrado além do ponto, afinal. O sorriso que cresceu em seu rosto com esse pensamento apenas aumentou ao imaginar a imagem furiosa de sua mãe, as mãos pesadas e olhos lunáticos o empurrando para correr. "Não é nada, você está bem. Está ouvindo? Você não pode não estar bem" ela diria "continue correndo. Não pare, não se deixe ser morto. Sua vida não é sua, não desperdice".

Exceto que quase não haviam mais motivos para isso agora. Ela estava morta. Neil queimou seu corpo até que os ossos não fossem nada além de pó que se misturava com a poeira já existente no vento. E ele não estava em melhores condições.

Se ela foi queimada até o pó, ele congelaria até que sua pele partisse e ele se tornasse tão pedra quanto as rochas que cortavam seus pés sempre que ele corria.

Isso soava bem.

Seu Anam ficaria bem. Ele iria perdoá-lo. Ele sempre disse que a morte de um dos dois seria inevitável.

Neil se deixou cair no chão, as roupas grudadas em seu corpo, o calor do sangue o aquecendo tão pouco que o frio ainda o fazia tremer. Ou poderia ser o choque e dor. Ele não poderia dizer agora.

Fechando seus olhos, Neil contou até dez em todos os idiomas que forçou seu cérebro a guardar. Ele esperava que caísse no sono e não acordasse mais antes do terceiro, mas um som externo o fez abrir os olhos novamente.

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