Quando a idéia não vai pra frente, mas você não quer desperdiçar o capítulo

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Opa, tudo bom?

Como estão? Passando bem? Agora faltam trinta minutos pro dia 29/04, ou seja...Meu aniversário.

Então, eu decidi por postar esse capítulo com mais uma história. No caso, esse capítulo do livro não deu certo, e eu não conseguia ir com ele pra frente, mas eu tinha a história montada.

Pra quem acabou não vendo, essa era a sinpose:

Ⓔ︎Ⓜ︎ Ⓞ︎Ⓤ︎Ⓣ︎Ⓡ︎Ⓐ︎ Ⓔ︎Ⓡ︎Ⓐ︎.

Alice sempre tinha o mesmo sonho desde pequena, onde ela corria pela floresta com outra mulher, e então tudo ficava escuro. Mas ela nunca soube o que aquilo significava, nem quem era a mulher que aparecia neles.

Agora com quase vinte e cinco anos e tentando alavancar sua carreira de pintora, tendo que conciliar seu noivado e seu trabalho ela sente estar ficando louca ao reconhecer a mesma mulher dos seus sonhos na floricultura na frente da galeria de artes onde conseguiu trabalho.

Mary nunca achou que sua vida fosse ter alguma surpresa guardada pra ela, não desde que os pesadelos pararam. Os pesadelos...era aquilo que a assustava, ela nunca entendeu seu significado, mas eles estavam ligados à algo, ou alguém.

Depois da morte da mãe a poucos meses, nada seria fácil pra uma jovem de dezenove anos, mas por sorte ela conseguiu emprego na floricultura da tia no centro da cidade. Ela estava por conta própria agora, não podia voltar atrás.

"𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚎́ 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘...𝚎𝚕𝚊?"

"𝚀𝚞𝚎𝚖 𝚎́ 𝚟𝚘𝚌𝚎̂?"

A tia não é mais tão boa em sinopses como antigamente.

Só que acabou que não foi pra frente, porém, porém, eu decidi postar o capítulo aqui pra não acabar desperdiçando.

Espero qu gostem.

(A história irá intercalar o ano de 1823 com 2018/2019, onde seria contado e mostrado a relação de Alice e Mary numa época em que era praticamente proibido ser homossexual e onde ainda existiam escravos, junto dos dias atuais.)

Capítulo I.
                               A Fuga.

- Rápido! - Eu gritei enquanto ajudava Mary a soltar a barra do vestido dos galhos. - Daniel e seus homens não estão tão longe daqui. 
 
- Ali, não vamos conseguir! - Soluçava enquanto puxava a barra rasgada do vestido velho. - V-vão nos matar...Eu sei disso!   
 
- Não vão, eu te prometo. - Eu dizia a falsa promessa em voz alta.
 
  Eu tinha a respiração ofegante. A fuga mal sucedida nos custará demais naquela madrugada, nós duas estávamos machucadas e o que pior me preocupava era Mary, por minha culpa ela seria morta se nos capturassem, poupariam minha vida, mas não a vida de uma escrava.
 
  Se eu a perdesse, seria como se meu mundo tivesse acabado. E se alguém merecia ser morta naquela noite, seria eu.
 
  Faziam quase cinco meses desde que mantínhamos nosso complicado relacionamento. Nos escondíamos no celeiro da fazenda de meu pai, seu senhorio, e trocávamos carícias. Nenhuma entendia se aquilo era certo, se duas jovens escondidas desvendando sobre seus corpos era algo pecaminoso, até a missa de domingo, onde o Padre Alfonso recitou uma parte da Bíblia que me deixou ansiosa:
 
 "Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticam um ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a morte."
 
   Se para meu sexo oposto aquilo era dito, então para mim seria igual. Mulheres não deviam se deitar juntas, nem mesmo trocar afeto. E foi aquilo que disse a Mary na noite de domingo, atrás dos montes de feno.
 
  Nos afastamos depois daquilo, mas eu não podia esquecê-la, o rosto jovial, a pele chocolate, os olhos de cor âmbar, como duas pepitas de ouro, os cabelos longos e cacheados, aos quais eu acariciava todas as noites. Os lábios pintados em vermelho com a tinta amassada de cerejas...Depois de passar semanas sonhando com ela, eu ignorei tudo que a Bíblia dizia, o que Deus dizia. 
 
  Eu a amava, e não queria esconder, mas se eu gritasse em plenos pulmões que eu, a filha de um senhor, de um homem rico, cuja mão era de outro homem, estava apaixonada por um negro, eu seria apedrejada. Pior ainda, por uma mulher, negra e escrava.
 
  Desde então começamos a planejar nossa fuga.
 
  Saíriamos no meio da noite, depois que todos estivessem dormindo. Íamos atravessar o rio e depois passaríamos a cerca que separava o terreno do meu pai. Fugiríamos para outro país, com nomes falsos, eu seria uma jovem viúva com sua serva. Vivendo com o resto da herança que meu falecido marido havia me deixado. E então, ficaríamos juntas até o fim de nossas curtas vidas.
 
  Mas nada deu certo, e agora, estávamos as duas fugindo de meu noivo, Daniel. Enquanto rezávamos para o Deus que dizia que nossa relação era do diabo, para que livrasse nossas almas.
 
 - Ali! - Não tive tempo de olhar, mas apenas o grito de dor me fez pensar o pior. - A-alice...
 
  - Boa caçada, meus amigos. - Daniel saiu do meio das árvores, com a espingarda em mãos. Eu me abaixei segurando Mary, o vestido manchado de vermelho. - Vejamos...Uma escrava e...Minha futura esposa. - O sorriso dele aumentou. - Que belo prêmio.
 
 - Mary, por favor...Aguente, eu não posso te perder. - As palavras quase não saiam, minha garganta se fechava e eu sentia meus olhos arderem. - M-mary...
 
 - A-Alice. - Ela suspirava meu nome com as forças que restavam. - Eu não vou...Não vou conseguir.
 
 - Nós vamos conseguir, aguente mais um pouco... - Não conseguia falar direito, sentia o nó do meu pescoço aumentar. - Mary, não! - Ela respirava cada vez mais fraca.
 
  Os homens em seus cavalos nos cercavam em um meio círculo, nem se quiséssemos poderíamos fugir, não com minha amada naquele estado.
 
 - Eu não vou voltar com você, Daniel! - Gritei enquanto sentia as mãos de Mary agarrando meu vestido, nós não conseguiríamos.- A morte seria melhor do que me ver casada com um mulherengo bebum igual a você!
 
 - Cale a sua boca, mulher! - A arma dele foi apontada pra mim, mas eu não reagi. - Terminem de matar a escrava, e levem Alice. O pai dela vai ficar muito feliz de saber que a filha dele tinha um caso com uma escrava suja.
 
 - Não vou sair do lado dela, me mate! Acerte um tiro em mim. Tudo, tudo é melhor do que viver sem a pessoa que eu realmente amo! - Mary já não respirava mais em meu colo, os olhos abertos cobertos de lágrimas, eu não aguentava aquela visão, eu nunca poderia viver sem ela. - Atire, o que está esperando?! Eu disse pra atirar!
 
  Eu chorava, esperneava e berrava, implorando para ser morta, eu só queria aquilo.
 
  - Levem o corpo da escrava. - Ele virou o cavalo. - Esquartejem e joguem no rio mais próximo. Stefan, Arthur...Levem ela até a fazenda.
 
 - Não! - Gritei enquanto os dois homens puxavam Mary de mim, o corpo sem vida dela seria jogado num rio. Eu não podia salvá-la, dar-lhe um enterro digno.
 
  Eu não podia jazer ao lado dela.

******

Ele ficou bem curto, o que me desanimou bastante, mas eu demorei muito e fiz muitas alterações ao longo de dois anos, e acabou que essa versão me agradou mais.

Porém, ainda acho que ela serve para algo, mas receio que ficará pra outros dias. E eu também estou pensando alterar um pouco mais, colocar mais detalhes, só não quero que fique formal demais, as vezes cansa, certo?

Mas então, foi o capítulo de hoje, gostaram? 

Até!

𝑭𝒂𝒏𝒇𝒊𝒄𝒔 𝑨𝒃𝒔𝒖𝒓𝒅𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑹𝒖𝒊𝒏𝒔... - 𝕃𝕚𝕒𝕣 'Onde histórias criam vida. Descubra agora