Quinto

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A dor da saudade queima no meu coração. Eu me sinto como se estivesse perdida em uma escuridão fatal. Nenhuma luz no caminho dessa escuridão. É como se eu fosse o vento, caminhando entre as árvores, e elas não me vissem. É como eu me sinto, eu ando entre as pessoas, mas me sinto como se fosse invisível.

É ruim ver que estou sozinha em um lugar cheio de gente. Um lugar com luz, onde só você carrega a escuridão. Meu peito se atormenta de dor, sabe, eu não sei o que fazer. Essa dor, esse vazio em mim, estão me matando. Eu só queria um abraço verdadeiro, daqueles que curam as piores feridas de alguém. Aqueles abraços que significam mais do que as palavras. Um gesto tão lindo, puro e que pode curar dores. Mas não cura pra sempre. Tudo que é bom acaba.

Eu queria alguém pra dizer o que eu sinto, ou dizer o quão bosta eu me sinto. Às vezes, eu tenho vontade de pedir para me acharem, pra ver se me encontram, porque eu me perdi.

É como um caminho sem volta. Meu passado condena a minha vida no presente. O vazio em mim apenas cresce, por consequência do passado. Por falta de uma mãe. Por falta de uma amiga, uma companheira.

Eu me sinto perdida. Eu estou perdida.

Estou perdida em mim, no meu ser. Perdida na minha escuridão, nas minhas dores.

Sinto as feridas no meu coração abertas, pedindo por cura. Uma cura que não posso dar elas.

Porque eu não tenho.

                        ☆☆☆

Essa semana passou rápido, já é sexta a noite. Peter me convidou para uma festa, mas eu não curto festas, então vou tentar dormir sem ter pesadelos. Ronnie foi a festa sozinha e sem ser convidada. Cara de pau mesmo. Uma batida na porta me tira dos desvaneios na minha mente.

— Melanie? — Era voz de Peter.

A voz de Peter era grossa e rouca, tão rouca que faz você se arrepiar em uma única palavra.

— Oi — falei.

— Posso entrar? — ele pediu.

Fiquei pensando sobre isso ser ou não ser uma boa idéia. Mas no fim, meus pensamentos foram a nada.

— Claro.

Ele sorriu e sentou na beira da minha cama, nossa que sorriso. Ele me olhou atentamente. Seus sentimentos estavam escondidos, não conseguia descobrir o que ele sentia, mas quando olhei nos seus olhos, eu vi um olhar faminto, eu vi uma pessoa diferente do Peter que eu conheci pela primeira vez. Mas obviamente ele estava aqui para me perguntar porque não vou a festa ou talvez me convencer a ir.

— Se você veio tentar me convencer a ir a esta festa, você pode ir embora — falei sem paciência.

Ele me olhou com aqueles olhos escuros, mas que combinavam perfeitamente com ele. Eu poderia ficar olhando para ele por dias, aquela boca, aqueles olhos, Deus, ele é tão lindo. Seu olhar fulmina o meu coração. A sua beleza não deveria mecher tanto comigo.

Mas meche.

Não só a sua beleza, a sua voz, o seu cheiro, o seu jeito de fazer as coisas.

Mas não posso me render a isso. É ridículo não sou assim. Eu não me rendo aos sentimentos.

— Não vim tentar te convencer — disse. — Mas posso ficar aqui com você até a sua amiga voltar. Na verdade, eu gostaria muito de ficar aqui.

Não é que eu não gostasse de Peter, na verdade era o contrário, ele me fazia sentir coisas que eu não queria sentir.

— Olha, eu...

— Mel, eu sei que você vai me negar isso, mas não quero lhe fazer nenhum mau. — Ele pegou minha mão. — Só deixa eu ficar perto de você.

Eu apenas fiz que sim com a cabeça.

— Vem, vamos comprar doritos. — Ele me puxou da cama.

Nós fomos até a coisinha de comida, compramos o doritos e voltamos para o meu quarto. Peter se sentou na minha cama com o doritos então fui do lado dele, por causa da comida né?

Estávamos comendo e vendo um filme na TV. Na verdade, eu estava em pensamentos e não sei de Peter. Mas ele também não dava muita atenção para o filme.

— Vem cá — ele falou. Ele veio pra frente e passou o seu dedo nos meu lábios.

— O que foi? — perguntei.

— Hã, eu... — ele não sabia muito bem o que falar. — Mel... — Ele se aproximou de mim, e fazia carinhos com o polegar sobre o meu rosto.

— Peter — eu falei baixinho quando já sentia a sua respiração junto com a minha.

Ele me olhou, eu olhei pra ele. E não precisamos falar mais nada.

— Por favor — ele sussurrou no meu ouvido.

Ele já estava pronto pra me beijar, mas eu sabia que ele não faria isso se eu não quisesse.

Eu me afastei dele e olhei pra ele.

— Desculpa, mas eu não acho que... — ele me interrompeu.

— Tudo bem, desculpe a mim. É que a sua boca parece tão beijavel — ele falou. Dei um sorriso.

                              ×××

No dia seguinte eu fiquei sem fazer nada. Só no quarto. Deixando entrar uma calma em mim fora do normal. Eu comi, eu dormir, afinal era sábado.

Apesar de ser um dia calmo, era um dia calmo. Liguei o ar e fiquei sem fazer nada. O que era muito bom.

Ficar sozinha é bom, deixar nossos pensamentos fluir. Por que na verdade, eu sempre me sinto muito sozinha, mesmo com tanta gente perto de mim. E assim, deste modo ao menos, estou realmente sozinha, e não apenas me sentindo sozinha.

                             × × ×

Alguém a via. Alguém estava observando Melanie. Ela não estava sozinha. Melanie nunca está sozinha. Algo bate contra a janela, fazendo Melanie sentir o medo de forma intensa, o dia já havia passado, agora a noite escura reinava no céus e no mundo. Ronnie estava em uma festa, e Melanie estava "sozinha" novamente.

— Melanie. — A voz não era audível aos outros, apenas para Melanie. — Melanie. O modo com que a voz falava o nome dela era como se estivesse cantando uma música.

— Seu destino está próximo — sussurrou voz bem próxima ao ouvido de Melanie.

Melanie estava paralisada de medo, não sabia o que fazer, falar ou até mesmo pensar.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2015 ⏰

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