A vida, não é apenas sorrisos. Assim como não é apenas choros. Ela é um meio termo. Você pode estar feliz, mas alguém pode te fazer chorar. Você pode chorar, mas alguém pode te fazer sorrir. Ninguém falou que a vida é um paraíso, por que ela nãoé. A vida é difícil, e tem lutas. Muitas lutas. Temos que ser fortes. Duros como pedra pra aguentar a dor. É o que eu faço. Tomei um bom chá de camomila antes da aula, antes da minha mãe morrer, ela dizia que se eu ficasse com os sentimentos fora de controle, eu devia tomar chá, todo tipo de chá pra acalmar. E eu faço isso. Se tudo que posso ter são lembranças, então eu irei querer lembrar de cada uma delas. Pois é tudo que tenho.
Cheguei na escola e Rachel minha única amiga estava a minha espera.
- Mel! Você tá atrasada! - Rachel exclamou abismada.
- Eu tive problemas com o sono - falei. E era é verdade.
- Você sempre tem problemas com o sono - ela falou de forma quase inaudível.
- Tudo bem, vamos para aula - falei indo em direção a porta.
Rachel é uma garota impaciente, agitada e irônica demais. Sinceramente, ela é uma garota estúpida, por natureza. Ela não faz as coisas com diligência. É sempre muito brusca.
Rachel do nada vira o seu olhar para o lado, e depois alterna entre mim e o mesmo.
- Por que seu pai está aqui Mel? - ela falou com terror nos olhos.
- Eu não sei. Nem sabia que ele viria aqui - falei, depois de olhar para meu pai, que agora falava com a diretora.
Por que ele viria aqui? Por exemplo, ele não se preocupa comigo, nem com as notas que tiro - aliás, elas são boas. Ele não falou nada a mim, exceto as coisas de sempre.
Ele me vê. Meu olhar encontra o dele. Só pode ser algo ruim! Corro para o banheiro que fica no lado oposto no qual ele está. Entrei em uma daquelas "cabines" de fazer xixi e me tranquei lá.
- Melanie! - Rachel falou, alto demais. --Sei que você está aí! Abre a bosta dessa porta caramba.
Fiquei quieta. E depois de um tempo... BUM! Ela arrombou a porta.
- Se descobrirem que foi você quem fez isso, vão te matar Rachel! - falei.
- Eles iriam me fazer um grande favor! Isso sim!
Deixa eu explicar pra vocês. Rachel já ficou na reabilitação por tentar se matar. Tudo bem, não é a amiga mais perfeita que eu poderia ter arrumado, mas eu gosto dela.
Ela é depressiva. Sempre foi. Desde que a conheço... Nós damos um jeito de nós entender. E sempre deu certo. Mas odeio quando ela pensa que quer morrer. Por que a mais dolorosa e triste verdade, é que todos, todos, cujo um dia já quiseram morrer, ou não, no fundo, no cantinho mais fundo do peito, o que mais desejavam era viver. Sei disso. Por mais que negassem.
- Cale a sua boca Rachel - falei, pegando minha mochila e saindo do banheiro. Ou toalete se você preferir esse vocabulário.
☆ ☆ ☆
Claro que, levamos bronca do professor por chegar atrasadas na sala. Tivemos que ir na diretoria pegar uma porcaria de uma autorização pra entrar numa sala de aula que eu nãoqueriaentrar. Mas o que fazer? Esta é minha vida! Quando entrei na sala, confesso que dormi um sono bom. E o professor não percebeu. O triste, é que, eu perdi todo o conteúdo. Mentira, isso não é triste. Estou nem aí pra esta escola mesmo. Não sei como tiro notas boas, sendo que sempredurmo. Dormir é tão vida!
☆ ☆ ☆
Estava subindo para o meu quarto, mas a voz do meu pai me adverte:
- Melanie! - falou, e eu virei para ele. - Venha aqui.
Ele está sentado na sua poltrona com o jornal na mão. Seu olhar é duro. Sua face é inexpressiva. Seus traços o davam um ar de maldade. E eu estava com medo. Apanhar? Sermão? O quê? Desci os dois degraus da escada que eu havia subido e parei a sua direita.
- Sente-se! - ordenou. - Temos que conversar.
Me sentei. Mas não me atrevi a dar um pio. Eu estava realmente com medo. Ele parecia vazio. E o vazio dele estava transbordando para esta casa inteira.
- Então, vou te mandar para um internato. Estou fazendo isso para o seu bem - falou tentando parecer calmo.
- Para o meu bem? Isto é para o meu bem, ou para o seu bem? - Era tão estranho proferir estas palavras. - Para o seu bem, não é? Se livrar da filha problemática! - Eu quase gritei.
Ele se levantou, e o meu mundo congelou.
- Vá arrumar suas malas Melanie! - gritou, com o tom mais frio que eu já havia visto. - Agora! Você parte amanhã!
Eu obedeci, e subi. Eu partiria amanhã. Que legal. Novata. Mandada pra uma escola de loucos e eu não sou louca.
☆ ☆ ☆
- Seja uma boa garota Melanie! - faloume dando um abraço muito falso. Eu só pensava que eu não me despedi da Rachel.
- Claro pai.
Como posso ainda o chamar assim?
Depois do momento "tchau". Embarquei no avião. Sim. Num avião. Não sei de onde ele tirou dinheiro. Estou nem aí, já que ele me obrigou a vir para cá.
- Com licença - um homem alto pediu. Ele era no banco da janela. Óbvio que meu pai não compraria na janela, ele não gostaria que eu aproveitasse nada. Nem isto.
Apenas sorri educadamente.
Afundei nos meus pensamentos nada sensatos. E assim foi minha partida, para nãoseiaonde.
☆ ☆ ☆
No meio dos pensamentos excessivos, Melanie não percebeu que, o homem que ela disse que o vazio transbordou, era a única família que lhe restava.
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Sorriso Sangrento
RandomUma escuridão cobria as montanhas à minha frente, suas árvores balançavam de modo lento. Isso me assustava. As árvores começaram a balançar mais rapidamente, por conta do vento. E uma voz, vinda do bosque cheio de árvores me chama. - Melanie... - r...