E aí seu gays? Tudo bem?
Boa leitura, erros é só falar.... Hm... Lembrei, votem por favor. Custa nada não.
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Quando eu acordo, NUNCA demora mais que alguns segundos para eu me lembrar de tudo de novo, daquilo que está rolando na real. Um soco no estômago - a raiva sorri maliciosamente para mim. A depressão está ao lado dela, prendendo-me à cama. Faz um mês que meu pai foi embora, e eu, minha mãe e Taylor nos mudamos para a casa da tia-avó dela, Josephine. Quer dizer, ex-tia-avó. Aqui faz o maior frio. Meus dedos estão tão gelados que nem consigo fechar a mão. É tão frio que Tay dorme comigo e todos os nossos cobertores, e ainda assim continua frio.
A gente precisa deixar as janelas abertas por causa do cheiro. O aquecedor só pode ser usado em caso de emergência, por questões econômicas. Só não morro de frio quando estou na cama, e demora um tempo para degelar porque os cobertores elétricos já eram.
Tem seis quartos aqui, incluindo aquele onde Josephine morreu. Aquela porta sempre fica fechada. Escolher meu quarto foi fácil: vim direto para aquele que fede menos. Estou passando bastante tempo na cama desde que a gente se mudou para cá. É como se meu corpo estivesse me mandando hibernar e estou obedecendo. Vai ser um assunto fascinante para aquela famosa redação "Minhas férias".
E olha só: no final das contas, nem somos os donos da casa. Minha mãe herdou apenas o direito de usufruir da casa enquanto estiver viva. Quando minha mãe morrer, a casa será tombada pelo Patrimônio Histórico e irá para o governo, não para mim, ou para Chris, muito menos pra Tay.
Se ela morrer logo, eu e Tay vamos para o olho da rua. Ou vamos ter de morar com o nosso pai. Acho que isso me forçaria a voltar a falar com ele, pelo menos. É uma pena ela não poder vender a casa, que vale um dinheirão. Eu vi a vitrine da imobiliária aqui perto. Para deixar esse lance de herança ainda mais bizarro, tem uma mulher que mora lá nos fundos, no antigo estábulo. Pelo jeito, também faz parte da herança. Nós ainda não fomos dizer oi. Ela está viajando.
Minha mãe não está curtindo muito esse novo jeito de viver. Mas, como ela diz, pelo menos temos um teto sobre a cabeça – o que é mais do que teríamos se não fosse a herança. Estamos totalmente lisos. O carro também vai embora no fim do mês, quando o contrato de leasing acabar.
Bom, não conseguiríamos pagar a gasolina mesmo.
Havia uma chance de Josephine ter deixado um dinheiro para a minha mãe, mas não rolou. Ela deixou a grana para a Galeria Nacional, que eu duvido que precise desse dinheiro tanto quanto nós.
A única coisa que o advogado deu para a minha mãe quando nos encontramos com ele foi um porta-jóias preto de ébano. Os olhos da minha mãe brilharam, mas deu para ver que o cara ficou meio sem graça. Então eu soube que ela não encontraria aquilo que estava procurando.
-Quem ficou com os diamantes?-perguntou ela finalmente.
- O dono de uma loja aqui perto.
-Está bem - disse minha mãe.
O porta-joias continha contas de vidro transparentes com listras brancas, um carretel de madeira com linha cor de laranja, alguns bilhetes de trem, nove alfinetinhos dourados, algumas moedas de 1 e 2 centavos e um punhado de insetos e animais entalhados a mão.
-Creio que eles tenham valor sentimental, não? - perguntou ele, a comiseração escorrendo pelas riscas do seu terno.
Minha mãe sorriu.
– Eu brincava com eles quando era pequena. Eu os colocava em fila no batente da janela.
Tempo bom. Ainda bem que eu não era criança naquela época.
O advogado pigarreou, ficou mexendo no punho da camisa e deu uma olhada de relance no relógio. É claro que ele tinha outros clientes esperando sua vez de serem decepcionados.
- A senhora tem interesse em contestar o testamento?-perguntou ele.
- Não, absolutamente. Josephine era lúcida.
O advogado pareceu muito satisfeito. Você até pode achar que não, porque ele poderia ganhar um dinheiro a mais, mas deu para perceber que ele achara a resposta da minha mãe muito honrosa. Eu também achei.
A gente herdou a cadelinha também. Grace. Embora tecnicamente, na contabilidade da herança, é um número negativo, porque teremos de dar comida a ela. É claro que ser honrosa não impediu minha mãe de ficar doida da vida. Tive de falar para ela diminuir a velocidade no caminho de casa. Não temos grana para pagar multas de trânsito. E, sim, estamos no fundo do poço, mas tenho certeza de que nenhum de nós dois está a fim de morrer ainda. Ela estava fazendo um barulho meio parecido com um rugido assustador, por entre os dentes cerrados.
-Quer conversar?-perguntei. Esperando obviamente que a resposta fosse "não".
- Conversar, rá-rá. Não sei que sentido isso tudo tem, Lauren — disse ela. Achei que estivesse falando do sentido da vida, da existência etc., e não de conversar. Estava na cara que ela precisava de um papo com um psicólogo, sei lá. Mas essa habilidade ainda não faz parte do meu currículo.
– Bom, acho que a gente pode ver o copo meio cheio, não é?
– Isso só funciona quando há alguma coisa dentro do copo - retrucou. -- Infelizmente, nosso copo está vazio.
– Mas há a casa.
– Tá, a casa. Um mausoléu, com certeza, mas pelo menos é melhor que a rua.
Nivel de estresse: extremo. É como se ela fosse um pote de vidro com a tampa fechada com força demais, e lá dentro do vidro morassem picles, picles com ódio do mundo, e eles estivessem fermentando e prestes a explodir. Não gosto de picles.
- No que você está pensando?-perguntou.
- No almoço.
Ela soltou um grunhido. Mas foi melhor que o rugido.
Melhor que a rua. Melhor que o rugido. E as coisas poderiam ser piores. Mas não muito.
Agora a nossa casa fica exatamente no meio de uma fileira de cinco casas. É um sobrado enorme, em estilo vitoriano gótico. O telhado forma uma ponta que se ergue acima de todas as casas, e sua beirada parece ter sido cortada com aquelas tesouras de picotar. Há uma sacada com pilares de tijolos no primeiro andar e umas gargulazinhas apoiadas nos cotovelos, com cara de poucos amigos, em cada canto. Dá para acreditar que essa casa consta em um livro sobre arquitetura australiana? No livro, eles a chamam de "exemplar significativo". E horrível; o tipo de lugar onde se poderia gravar um filme de terror. Os tijolinhos à vista vermelhos escureceram com o tempo, ou com a poluição, ou, sei lá, as duas coisas.
A gente demorou uns cinco minutos para fazer a mudança.
Foi nesse dia que vi Camila pela primeira vez.
Invisível atrás de uma cortina meio transparente, eu estava na janela da sacada na parte da frente da casa, pensando em como queria estar em qualquer outro lugar no mundo, querendo que fosse dois meses antes e eu tivesse um poder mutante que me deixaria mudar o rumo da história, quando ela passou pela rua, distraída, totalmente inconsciente dos abalos sísmicos que
provocava em meu coração a cada passo.Ela parou do lado de fora de nossa casa e ficou olhando para os galhos pelados da árvore perto da entrada. Depois de checar se não havia ninguém por perto, começou a girar lentamente, levando a mão aos olhos para emoldurar sua visão do céu cheio de galhos secos.
E então ela entrou na casa ao lado, meio tonta, sorrindo e levando meu coração.
Ela gosta desse tipo de céu.
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Impossible Things
FanfictionComo lidar com coisas impossíveis? Romance Falência Separação Escola Um pai gay que abandona a família. Bullying Uma casa cheia de xixi E um sótão...