california

dois.

- Sophie Charlotte.

Era junho, e eu nunca fiz uma mala tão rápida em toda minha vida. Um sentimento de entusiasmo e nervosismo percorria por cada gotícula de sangue em minhas veias.

Respiro fundo ao pisar no aeroporto sentindo a atmosfera mudar completamente. Pessoas se despedindo, pessoas se reencontrando, tudo isso dava um nó em meu estômago.

Deixo que minha mãe resolvesse toda aquela burocracia de aeroporto enquanto permanecia parada abraçada com minha irmã. Era difícil ter que deixá-la aqui.

— Promete que não vai se esquecer de mim? — escuto ela sussurrar com a cabeça encostada em meu peito.

— Nenhum dia da minha vida. — sussurro de volta apertando mais ainda meus braços em sua volta. — Não acredito que vai me fazer chorar aqui.. — olho para o teto por alguns segundos tentando impedir que aquelas lágrimas caíssem na frente dela.

— Você vai ficar bem né? — sinto seu corpo se mexer e baixo o olhar para olhá-la e abro um pequeno sorriso. — Digo, em relação a tudo aquilo.. — seu tom de voz agora era mais baixo que antes, ainda era difícil falar sobre aquilo.

— O mais importante dona Kenzie, é que agora você vai ficar bem, em segurança, sem mais perturbações. — dou uma piscadinha desviando de sua pergunta e aperto suas bochechas voltando a olhar para minha mãe que se aproximava.

O clima de despedida me abraçava cada segundo e ver minha mãe ali de braços abertos me fazia repensar tudo aquilo. E se não desse certo? Eu conseguiria voltar para Allens e seguir minha vida? Eu não conseguiria se falhasse novamente.

Escuto a chamada do meu vôo e abraço fortemente minha mãe guardando cada palavra que saía da sua boca. Respiro fundo e beijo sua cabeça antes de me virar para minha irmã. Passo a mão em sua bochecha secando suas lágrimas e abraço novamente a garota que conseguia ter uma estatura mais baixa que a minha.

— Seja forte e única, Sophie! — escuto minha mãe dizer com seu tom firme e lanço um enorme sorriso para ela. Aquelas palavras significavam muito para mim.

Ajeito a mochila nas costas e sigo em direção para a sala de embarque, deixando toda uma parte da minha vida para trás com um aceno sutil para minha família. Mostro meu passaporte para a gentil moça que me indica por onde eu devia seguir.

Caminho até meu lugar no avião sentindo a ansiedade aumentar cada vez mais. Não podia acreditar que finalmente estava saindo daquela cidade. Sento em minha poltrona que felizmente ficava ao lado da janela e agradeço mentalmente por isso.

Sinto um leve aperto quando o piloto anuncia que estávamos decolando e limpo uma lágrima solitária que escorria pela minha bochecha. "Agora não tem mais volta, Sophie" penso com uma baixa risada pegando o pequeno travesseiro que havia levado comigo e permito-me descansar por alguns minutos antes da minha vida realmente virar uma loucura.

Em poucas horas, eu estaria em um solo totalmente novo, prontíssima para escrever uma história totalmente nova, com novos capítulos, novos enredos, novos personagens e novas aventuras.

No final das contas estava ansiosa por poder viver uma experiência nova. E isso me deixava pensativa e não conseguira dormir mais que alguns minutos. Minha cabeça trabalhava pensando em toda e qualquer possibilidade, se enchendo de perguntas. Adaptaria-me ao castelo? As outras garotas seriam gentis? O príncipe era uma pessoa boa? Quais as reais chances de eu me apaixonar?

Solto um baixo suspiro vendo que não pararia de pensar em nenhum segundo até que minhas perguntas fossem respondidas. Balanço a cabeça para afastar aqueles pensamentos e pego meu fone de ouvido, conectando ao tablet e deslizando o dedo pela tela até o aplicativo de streaming.

Se tinha uma coisa que poderia me acalmar era um bom documentário. E nada melhor que "Um conto de bailarina", documentário este que estava na minha lista há tempos, mas nunca tive tempo de assistir. Acomodo-me na poltrona e mantenho o olhar fixo na tela do aparelho, deixando de lado toda a ventania do mundo externo.