É muito fácil se acostumar com as coisas agradáveis.
Virou parte da minha rotina, sempre ao final da aula fazia uma pequena caminhada até a casa do Pablo para conversarmos, nem que fosse por dez minutos. Apesar de programados, esses encontros eram muito mais espontâneos do que os que havíamos tido até então, o que me proporcionou a oportunidade de conhecer Pablo mais profundamente.
Eu sempre o encontrava no meio da sua rotina e quase sempre trabalhando na sua máquina voadora. Ela ainda não tinha forma, era apenas um monte de pedaços desconexos jogados pelo espaço, mas era possível vislumbrar levemente o que Pablo tinha em mente através dos desenhos e projeções que ele fazia. Elas quase sempre mudavam, mas percebi que uma das bases que ele usou foram as observações de voo do Magrelo, seu dragão.
Conhecê-lo melhor foi gostoso e me trouxe uma nova série de coisas que eu gosto e desgosto nele:
Gosto: da forma como me olha.
Desgosto: parece absorto demais no trabalho com a máquina, às vezes. Quando chego, ele me olha como se levasse um susto, toda vez. E parece ter certa dificuldade para sair desse fluxo de pensamento.
Gosto: de como ele é bondoso. Do tipo que se mostra incomodado com qualquer tipo de injustiça e parece capaz de qualquer coisa para defender aqueles que ama.
Desgosto: de como é quieto às vezes.
Gosto: da forma como me beija e suas mãos nunca ficam paradas.
Gosto: do jeito como ele sempre consegue me fazer rir.
Gosto: do "algo novo" do dia.
Gosto: de como enxerga o mundo.
Gosto: do seu cheiro.
Admito, tem mais "gostos" do que "desgostos" no final das contas.
Em uma dessas visitas que aconteceram ao longo dos meses, o encontrei embaixo da máquina voadora, apertando algum parafuso:
– Oi, Mel! – Disse enquanto saía de baixo. Ele passou a me chamar assim depois de um tempo.
– O que é isso no seu pulso? – Perguntei.
– Isso o quê?
– Isso. – Disse, enquanto me aproximava e segurava o seu braço.
– Ah sim. É o meu relógio.
Realmente era um relógio. De ouro maciço, com uns quatro ponteiros diferentes, movendo-se com uma precisão perfeita.
– E por que o relógio está no seu pulso?
– É uma longa história. Eu perdia tempo demais para tirar o relógio do bolso enquanto trabalhava na máquina. Também é perigoso quando se está em um balão, eu precisava ter as minhas duas mãos disponíveis sempre. Então fui a um joalheiro e pedi que resolvesse esse problema para mim. – Ele mostrou as costas dos pulsos para exibir como funciona o cordão que prende o relógio ao seu braço. – Depois de algumas semanas, o joalheiro chegou nessa solução. Simples, não?
– Parece que você está usando uma pulseira. – Brinquei.
– Não me importo. É prático! E se é prático, tenho que usar. Não posso ficar perdendo tempo com bobagens.
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MAIS LEVE QUE O AR (HISTÓRIA COMPLETA)
RomanceMelissa é uma garota comum, exceto por um detalhe: ela é capaz de conjurar flores. No Reino de Amberlin fazer magia é como tocar um instrumento musical, qualquer um é capaz de aprender se tiver interesse. É lá que ela conhece Pablo, um rapaz misteri...