CATORZE

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Uma diligência veio me buscar no dia seguinte. Tudo na cidade era voltado para Pablo nesse dia.

            O evento parecia uma versão movimentada das fotos pertencentes à coluna social do Jornal de Amberlin. Certamente minhas irmãs reconheceriam a maior parte das pessoas que se encontravam presentes. A festa acontecia em um espaço da mansão de Pablo que eu nunca havia entrado antes. Um espaço que possuía um teto alto e ostentava um lustre do tamanho de uma casa pequena.

            Pablo me recebeu a partir do momento em que atravessei as portas, me presenteou com um beijo acalorado na frente de todos e andou de mãos dadas comigo, na maior parte do tempo, me apresentando a todos como a sua namorada.

            Apenas achei curioso o fato da maior parte dos homens presentes ostentarem grossos bigodes.

            – Foi incrível! – Pablo me contava. – Eles ficaram tão impressionados com o meu dirigível que se esqueceram de cronometrar o tempo. – Ele quase esbarrou em um servo, por andar enquanto olhava para mim e gesticulava. – Eles não queriam me dar o prêmio por conta do erro deles! Deles! A população simplesmente se REVOLTOU contra o clube. As pessoas clamavam por justiça. Consegue imaginar todas essas pessoas interessadas em um aeroclube? Pois essas estavam! O clube foi obrigado a ceder depois da pressão popular. – E deu risadas.

            – Eu vi o seu rosto estampado em um chocolate – disse, lembrando da imagem do jornal.

            – Ah sim, isso aconteceu também. Eu trouxe uma tonelada de presentes para você, mas nenhum com o meu rosto estampado, pode ficar tranquila.

            – Ah! Isso é uma pena!

            Rimos juntos.

            – Eu vou precisar sumir por alguns minutos, para conversar com aqueles cavalheiros. Você sobrevive sem mim?

            – Posso tentar.

            – Ótimo. Eu não posso garantir o mesmo, eles são conhecidos mundialmente por matarem as pessoas de tédio, por onde quer que passem.

            – Confio em você.

            Ficar sozinha no salão foi tão assustador quanto pensei que seria. Eu usava um vestido tão bonito quanto o de qualquer outra pessoa presente, mesmo assim, por algum motivo eu não me sentia arrumada o suficiente. Conferi o meu cabelo pelo menos quatro vezes, não havia nada de errado comigo. Mas nada me afastava a sensação de que havia e eu não sabia o quê.

            Por sorte, os criados me levaram até uma mesa onde eu poderia ficar parcialmente invisível até Pablo voltar. Por azar, essa mesma mesa foi ocupada por outras duas senhoras, com longos chapéus, que se preocupavam em conversar entre si sem nem ao menos olhar para mim. Até que uma pessoa com a faixa etária próxima da minha resolveu sentar ao meu lado:

            Isabel.

            – Aproveitando a festa? – ela disse.

            – Sim – respondi de forma seca.

– Eu só vim ter certeza se você está bem – disse ironicamente. – Eu sei que na sua casa vocês usam apenas um tipo de garfo e daqui a alguns momentos será servido o jantar com dezessete tipos de talheres diferentes, você vai precisar de ajuda?

            – Não, obrigada.

            – Então você sabe usar os talheres?

MAIS LEVE QUE O AR (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora