Exausta e duvidando da minha dignidade após ter vomitado o caminho inteiro até aqui — meu almoço, resumido em ovos de codorna em conserva —, desço no ponto que, por sorte, fica na esquina do meu flat.
Digo, não é beeeem um flat, é um cômodo alugado em Burnaby, que modéstia à parte, eu deixei bem charmoso.— Boa noite! — Cumprimento os trabalhadores que estavam carregando um caminhão de mudanças.
— Boa noite, moça! — O tom galanteador de um deles me chamou a atenção. Ele não percebeu o meu estado deplorável?
O encarei enojada franzindo o cenho, mas o que realmente me prendeu o olhar foram as coisas que estavam no meio da calçada e dentro do caminhão.
— Por que minhas coisas estão na rua? — Barrei um dos caras que levava meu colchão.
— Ordem de despejo, sua aprendiz de caloteira! — atrás de mim veio a voz do Sr. Epaminondas, dono do prédio de cinco andares.
— Senhor Epaminondas, como pode fazer isso comigo? Eu fui sua primeira inquilina, sou tecnicamente a moradora mais antiga daqui! — Falei com a voz chorosa.
Isso não podia estar acontecendo. De novo não…
— Três meses de aluguel atrasado, suas coisas estão sendo penhoradas por tudo que me deve, apenas suas roupas estão naqueles sacos pretos. — Arregalei os olhos sem acreditar.
— Você não pode fazer isso! — Afirmei em vão. Não é como se o cara precisasse de uma ordem de despejo oficial. Ele riu presunçosamente.
— E a quem você vai recorrer? — Perguntou, baixo e cruel. Senti-me realmente inválida, sem ele, eu não parecia ser nada.
Minha vista ficou turva, mas não permiti que nenhuma lágrima fosse derramada. Atrás dele surgiu minha televisão de 65° polegadas, aí eu me desesperei.
— Minha TV não! — Barrei os dois carregadores.
— MINHA TV! — O pançudo gritou.
— Quer saber? — Perguntei, reparando nas pessoas que estavam parando na rua para olhar a cena. Nunca me senti tão humilhada. — Levem minhas coisas daqui, nessa pocilga eu não fico nem mais um minuto. O senhor Epa-mi-nondas é um péssimo locador. — Apontei o dedo para ele encenando, como se eu tivesse me mudando por livre e espontânea vontade. — Aquele lixo cheio de infiltrações, e você tem coragem de me cobrar alguma coisa? Me poupe, eu estou indo para um dúplex em Vancouver, pegar o que é meu de herança! Rapazes, vocês já sabem para onde levar essas coisas!
— Você ficou maluca? — Por sorte ele era muito lerdo para entender o que eu estava fazendo, e por um minuto eu acreditei que em algum lugar algo me esperava, mas não. É daqui para debaixo da ponte, tenho nove dólares no bolso que vão me alimentar por uns dois dias se eu viver de enlatados.
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E Se Ele Não Cair? - Disponível Na Amazon
Storie d'amoreE se o que era para ter sido um clichê, não tivesse tido um fim? E se o mocinho, não fosse tão mocinho assim? Molly queria voltar para casa, mas já não sabia o que era um lar. Sentia que ainda tinha sonhos, mas não sabia por onde começar. Ela não l...