Ela não conseguia entender e isso a deixava frustrada. Seu pai a havia cuidado para ser ingênua demais para esse mundo porque nunca pensou que ela sairia de baixo de suas asas... mas ela acabou saindo e se arrependeu disso. Segurava delicadamente os dois pacotes em seus braços, e encarava sua mãe.
- É sua obrigação se casar! Engravidou, agora deve se juntar com Fred e honrar sua família!
- Mamãe, eu não quero e não sou obrigada a cuidar de tudo sozinha...
- Sim, é sua obrigação! Você já é uma mulher e mãe!
- Mas B...
- Ele não tem nada a ver! Não sabe de nada! Te tirou de nós quando você era pequena, acha mesmo que a opinião dele vale de algo?! Você deve fazer o que é melhor para os seus filhos!
Millie olhou para os recém nascidos. A princípio, se sentiu aliviada de que eles estavam vivos e saudáveis, mas... não sentiu o mágico amor que sua mãe descreveu, nem o famoso instinto materno, eram só dois pequenos seres que ela era obrigada a cuidar. E se deu conta do motivo de ter ficado tão chateada quando seu noivo disse que preferia que os gêmeos morressem a perdê-la.
Nunca quis ser mãe, o pavor que tinha de engravidar só a fez não querer engravidar de fato. E então... seu emocional sempre abalado, seu psicólogico um completo lixo, seu corpo todo deformado pela gravidez, as dores que foi obrigada a sentir, a tristeza de seu noivo preferir ver se ela tinha cozinhado o jantar ao invés de já dar a atenção que ela queria depois de tanto tempo (em sua visão de grávida carente e cheia de hormônios) separados, muitas vezes nem dizia nada porque ele revirava os olhos quando se queixava de dor ou demonstrava algo sobre os bebês estarem chutando. Ela só não desistiu de continuar a gravidez porque Fred insistia que queria ter uma família completa, e ao ver ele desprezar involuntariamente seu sacríficio no momento em que contou que preferia Millie viva em vez dos filhos, a deixou profundamente magoada.
Devagar, colocou os dois o mais longe que conseguia de si, ainda na cama, e se abraçou. Ninguém entendeu, até ela virar o rosto e murmurar:
- Eu nunca os quis, assim como você não me queria. Ainda lembro do quanto me desprezou antes que eu sumisse, não me pegava no colo por mais de cinco minutos... não vou viver sua vida miserável. Não os quero. Pegue pra você.
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Pequenos Contos
RandomCompilado de one-shots originais inspirado no livro "Curtas dos meus bebês" de MaryonMega, recomendo dar uma olhadinha porque é bem divertido