Eu sinto sua falta, papai

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ALERTA DE GATILHO: Luto, Perda, Você vai chorar igual um bebê!


Horror encarava o marido, incomodado pelas agulhas que penetravam suas veias mágicas. Não gostava de vê-lo chorar, então estendeu a mão para Dust. O silêncio prevaleceu enquanto sentia o aperto, a mão quente contra a sua gelada, até que os soluços voltaram acompanhados de mais lágrimas.

- Horry... ah, Horry... - sussurrou, como se repetindo o apelido alheio pudesse ficar mais distante da despedida final. Não queria deixar o amor de sua vida partir, maldita doença oportunista! Por que viera para arrancá-lo de si? Não poderia esperar mais alguns anos, para que partissem juntos na velhice? Não. Ver Horror ali, segurando sua mão com várias máquinas o cercando era demais para sua própria alma.

- Não chore... olha para mim... - murmurou o enfermo, sério. Quando recebeu o contato visual, porém, sorriu de forma triste. - Cuida bem da Jane, 'tá bom? E ensine ela a tocar violão, só para manter a tradição da família Machado. - em vez de rir, tossiu. - Também ensine que, quando ela crescer, não deverá ouvir outra voz além da própria. E que é para estudar mais do que namorar, e se namorar, que o sortudo ou sortuda saiba valorizar a nossa menininha. E se não valorizar, fazer igual o Lust fez com o Killer, okay?

- Okay. - sorriu trêmulo, lembrando do acontecido a anos atrás. Desfez o sorriso logo depois, pois Horror voltou a tossir. Dust acariciou a mão do marido, não estava preparado para deixá-lo ir. Foi um alívio momentâneo quando a tosse parou.

- Dust... Dustyn... Mudirino Dustyn da Silva val Sam... - sussurrou, fechando as órbitas. Apenas o som do nome do amado já fazia-o sorrir. Continuou a sussurrar. - Seja forte... não desista... eu ainda quero sair do inferno para puxar o seu pé de madrugada... - (Dust riu nasalado, sussurrando um "Adoraria que isso acontecesse"). - Heh... só, por favor, viva por nós dois.

Dust assentiu, beijando a mão do marido. Iria tornar-se o velho doido dos gatos, porém, com uma filha pequena para criar sozinho, estaria bem ocupado pelos próximos anos.

- Axe Horrico da Silva... eu quero que não se esqueça que eu te amo. Eu te amo muito, muito mesmo. - murmurou, a mão alheia pressionada contra onde seriam os lábios. Depois, pousou a cabeça no peitoral do marido, mantendo contato visual.

- Eu... q-quero... quero seu coração... - ouviu o sussurro quase inaudível, observando as pálpebras ósseas abaixando devagar. A alma de Horror rompeu-se no exato momento que a máquina emitia um som contínuo e fúnebre, simples mas que significava que o esqueleto estava em um lugar onde não poderia ouvir o chamado do monstro que amou incondicionalmente.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

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Um esqueleto de capuz e profundas olheiras - mesmo que não seja compreensível como ele tem olheiras - segurava a mão de uma garotinha esqueleto que não parecia ter mais de seis anos. Os dois caminhavam entre os corredores de lápides e mais lápides, parecendo à procura de um nome conhecido que infelizmente estaria ali gravado. Dust parou, sentindo um calafrio ao ler o nome que estavam procurando em uma lápide simples sem retrato.

Axe Horrico "Horror" da Silva - amado pai, irmão, sobrinho, tio e marido. "NASCI TROUXA, VIVI TROUXA, casei com o homem mais lindo do mundo, E MORRI TROUXA"

Permitiu-se sorrir com a frase escolhida para lápide. Pôs um espelho próximo, com o pensamento de ainda implicar com a autoestima inversa à própria beleza de Horror. Olhou para a filha, Jane, fazendo sinal para a menina colocar o buquê de flores simples junto ao espelho.

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