A importância de camisinhas e protetores de orelhas

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Samantha e Jasmyne, ou Sam e Jass, estavam outra vez brigando. Enquanto a feiticeira tentava pensar em um exorcismo que funcionasse, a rainha do submundo queria continuar possuindo a mais nova. Ambas já foram amigas um dia, e, pelo jeito que brigavam, não mudara muita coisa desde quando Jasmyne pertencia à Terra.

- Eu já disse, vou sair quando eu quiser! - reclamou Jass, os olhos vermelhos bem visíveis. Os olhos verdes voltaram, junto da voz original de Sam.

- Não, você vai sair agora! SAI, CAPETA!

- NÃO SAIO!

- SAI SIM!

- Madame, 'stá tude bem? - perguntou Sutil, com apenas metade do corpo atravessado pela parede. Era bizarro a mistura de um corpo sólido com algo negro e fumacento, mas os olhos transmitiam a mesma áurea familiar de sempre.

- Já disse para não me chamar de "madame". - virou as costas antes que o marido visse seus olhos. - E eu 'tô ótima.

- Ouvi-te grritar...

- Eu só bati a perna na mesa.

- Mesmo?

- Mesmo.

- Machucou?

- Não, só doeu.

- Enton, vou estarr na cozinhe, 'stá bem?

- Belê'.

Então, ele voltou para dentro da parede. Samantha suspirou pesadamente; não podia enxotar o marido para sempre. E Jasmyne estar mexendo seu pé esquerdo não facilitava nada sua linha de pensamento. Sam levantou-se e começou a fuçar entre os livros, mesmo que toda vez que tentasse abrir um suas mãos - controladas por Jass - não obedecia, ela não parava. Mal notou que Sutil entrou e deixou uma caneca de café em cima da mesa, depois saiu em completo silêncio.

- Ele sempre prestando atenção em tudo... Não é fofo? - comentou a voz de Jass, quase que de repente. Sam precisou olhar para a caneca para entender.

- Mais fofo é a cara de carente dele. - murmurou, andando até a mesa e provando do café. Do jeitinho que ela gostava. - Eu tenho tratado ele mal desde que você me possuiu...

- Por que ainda não contou para ele?

- Porque ele ia surtar.

- Acho que não. Nós nem ao menos tentamos para saber.

- Eu conheço meu marido.

- E eu conheço meu grand prére.

- Conhecia.

- Ele ainda sabe quando alguém está mentindo? - Sam hesitou. - Então, é melhor falar de uma vez.

As duas ficaram paradas e em silêncio. Jass tinha razão, e Sam sabia disso. Suspirou pesadamente outra vez, bebeu todo o café e saiu do escritório. Sentou no sofá da sala e brincou com os dedos até juntar coragem para chamar Sutil. Quando o fez, não se assustou com a mesma figura de antes saindo do teto e caindo no tapete. Nem quando se endireitou e ela reconheu o marido.

- Oi. - cumprimentou, baixinho. Sutil piscou. Não dava para perceber pelo modo em que os cílios cobriam os olhos e davam a ilusão do lobisomem estar sempre de olhos fechados, mas ele piscou. - Então... eu... - respirou fundo. Ele continuou na mesma posição. - Senta aqui. E encosta no sofá.

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