As janelas estão abertas (EXPLÍCITO)

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Meia hora depois, Lançarote estava destrancando o alçapão, com um pote de comida debaixo do braço. O potinho entregue pelo veterinário estava escondido dentro da sua suéter, e em sua mente tentava lembrar das instruções dadas sem pensar em como era uma ideia de jerico. Ao menos ele ia receber uma excelente quantia de dinheiro em troca, o veterinário ficaria feliz e a besta não lembraria de nada, o que poderia ser melhor porque não queria ter que ter uma conversa constrangedora sobre o que estava prestes a fazer.

Entrou no sótão, olhando para dentro. Estava bem organizado, o que o surpreendeu, porém ele via teias de aranha por toda parte e escutava um som baixo que parecia alguém dedilhando uma viola. Entrou e o som parou, para começar o som de rosnados agressivos.

— Calma, calma. Eu vim em paz. — murmurou, sem olhar na direção de Destino. — Trouxe comida.

Ouviu o som de batidas leves atrás de si, e pelo canto do olho percebeu a besta encarando o pote com muito interesse. Claro, trancado ali em cima desde da noite anterior, ele deveria estar morrendo de fome. Com cuidado, deixou o pote na mesa e, antes de se afastar, foi levemente empurrado para o lado enquanto uma pata abria o pote e examinava o sanduíche oferecido. Apertou o pote dentro do bolso e começou a se mover para trás, seu pé desfazendo um fio de teia que ainda estava preso na perna da besta.

Destino virou a cabeça tão rápido que Lançarote jurou que ouviu seu pescoço estalar, mantendo todos os seus olhos nos olhos do humano. Lentamente o olhou de cima a baixo, então de volta para o pote de comida, e de volta para ele, e isso se repetiu algumas vez com dois pares de olhos fixos no homem. Então desviou o olhar e virou a cabeça devagar, como se tivesse decidido que ele não era uma ameaça. O ator soltou a respiração, mais aliviado.

— Você me assustou. — não recebeu resposta. — Espero que goste da comida. Eu só vou ficar aqui, tá bom? Paradinho. Sem fazer nada.

As orelhas se moveram para ficar ouvindo. Destino não usava a capa, as patas bem visíveis e encolhidas, a camisa com um enorme buraco para suas patas terem liberdade. Mas as patas se moveram, deixando suas costas e cauda bem à mostra, e ele percebeu que ele havia movido o rosto só o suficiente para encará-lo de canto. O que estava esperando para comer? Estava começando a ficar nervoso. Ele estava o testando? Mas por qual motivo? Tirou a mão do bolso, deixando o pote ainda escondido, e mostrou as mãos para mostrar que havia nada para ele se preocupar, entretanto... Destino apenas moveu a cauda para os lados de leve, ainda fingindo que não estava vigiando o amigo pelo canto do olho e esperando alguma coisa.

Lançarote se manteve parado, até notar que Destino se curvou um pouco e estava mordiscando os cantos do sanduíche ao invés de simplesmente comer inteiro como deveria. Estava obviamente fingindo estar distraído para que o homem fizesse alguma coisa, mas o quê era um mistério. Começou a olhar para os lados, procurando alguns sinais que poderiam indicar o que deveria fazer, então olhou para de novo para a besta e para a pose que ele estava fazendo. A ficha bateu com força quando caiu em sua cabeça.

— Destino, você é meu amigo, e eu acho que deveríamos conversar sobre a sua situação...

A besta deixou o sanduíche no pote e se virou completamente, parecendo impaciente.

Fala. — resmungou, a voz rouca de tanto tempo apenas rosnando. Lançarote engoliu em seco.

— Então, somos amigos.

Somos.

— E você está em sofrimento.

Sem resposta dessa vez.

— Mas não sou o melhor para cuidar disso. Então, só come, e quando anoitecer...

Eu não vou atacar você.

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