Parte 9

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"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal." (Oscar Wilde)

Eu soube que estava em apuros assim que a frase saiu da boca dele. Aliás, quem é que não sabe que arrumou problemas ao ouvir essa frase? "Precisamos conversar" é eufemismo para "você fez algo errado e estou bravo com isso."

- Podemos sentar aqui fora? – ele fez um gesto com a mão, indicando as cadeiras de madeira sobre o alpendre.

- Claro.

Ainda incerta sobre o motivo daquela situação, me afastei da porta e me acomodei em um dos móveis. Ele puxou outra cadeira e a posicionou de modo que ficasse de frente para mim, então se sentou.

Será que sua visita estava relacionada à minha ausência no jogo?

- E ai, demos uma surra neles? – brinquei, me referindo ao time adversário, tentando acabar com o clima pesado e constrangedor que se instalara.

Sua expressão se suavizou um pouco quando disse:

- Sem sombra de dúvida, minha cara. – fez um tom galanteador, então voltou a colocar a máscara de seriedade – Sakura, nós precisamos conversar sobre o seu namoro. – o tom mudou ao dizer a última palavra, ficando ainda mais sério.

Engoli em seco.

- Meu namoro? O que você quer conversar sobre o meu namoro, Naruto? – tentei soar menos amedrontada do que me sentia.

Eu não aguentaria a humilhação se Sasuke tivesse contado ao loiro sobre a farsa. Não aguentaria ter que escutar dele o que eu já sabia e que me recusava a compreender. Já era ruim o suficiente ter só minha consciência gritando comigo. Ouvir mesmo, sentir as palavras passando por meus ouvidos, vindas de outra pessoa, seria humilhante demais.

Isso, claro, sem contar que ele sabia como Sasuke realmente se sentia em relação a minha pessoa.

Dependendo da resposta do meu loiro favorito: na melhor das hipóteses, eu não teria mais coragem de encará-lo nos olhos; na pior, eu fugiria para o México e mudaria meu nome para Maria de La Esperanza - tamanha a vergonha sentida.

- Bem... você não acha tudo meio estranho?

- Estranho?

- É. Você sabe... – tentou encontrar as palavras – Vocês não agem como um casal normal...

O.k. Talvez nós não fossemos os melhores atores do mundo - principalmente com um papel complicado como um casal de adolescentes – mas eu considerava nosso trabalho razoavelmente bom para convencer as pessoas ao redor. Então, Naruto só não era enganado devido aquele dia em que Sasuke desabafou com ele.

- Eu não estou entendo nada, Naruto.

- Eu não sei, Sakura. Vocês só não são como Hinata e eu ou Izumi e Itachi ou Sai e Ino.

Seus olhos azuis brilharam de maneira estranha e eu soube que não era isso que ele queria dizer. Percebi então que Naruto não dizia o que queria porque assim ele teria que admitir que sabia demais.

- Somos diferentes. Isso não significa que não somos um casal. – dei de ombros.

Por enquanto estava tudo sendo bem melhor do que eu imaginava. Ao que parece, o loiro não sabia do nosso pequeno segredo sujo¹.

Ele olhou para o lado, em um típico gesto de quem tenta controlar o temperamento. Eu nunca pensei que viveria para ver Naruto Uzumaki esse tipo de problema. Justo ele que sempre foi tão bom em controlar as próprias emoções e em "ler" as emoções dos outros.

Pequena ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora