Parte 14

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Hinata falou mais alguma coisa. Contudo, eu estava ocupada demais segurando a porta aberta do meu carro, um pouco curvada, tentando de todas as maneiras não colocar meu café-da-manhã para fora em cima das belas flores de Mikoto. A náusea me consumia, mas isso não impediu que o desespero também surgisse quando notei que a baixinha aproximava-se de mim. A última coisa de que eu precisava no momento era do interrogatório Uchiha. De maneira muito desajeitada, joguei-me no banco do motorista.

— SAKURA! VOCÊ NÃO PODE DIRIGIR NESSE ESTADO. — ela gritou, chegando cada vez mais perto.

Liguei o carro. Com esse gesto, ela pareceu perceber que a ofensiva direta não surtiria efeito. Tentou algo mais sutil. Abaixou o tom e parou de andar:

— Sakura, desça do carro. Vamos conversar. Diga-me o que está acontecendo. Nós podemos passar por isso juntas. Somos amigas, lembra?

Engatei marcha-ré e coloquei o carro de volta na estrada de saída.

— Preciso ficar sozinha, Hinata. Depois eu ligo. — consegui falar, apesar do bolo terrível em minha garganta.

— Sakura, NÃO!

Acelerei e deixei a propriedade para trás antes que ela pudesse dizer alguma coisa que me fizesse mudar de ideia. Alguma coisa que me fizesse correr para o colo da minha melhor amiga e chorar todos os meus problemas para ela... o que provavelmente faria com que a família inteira dela passasse a desprezar Sasuke. Então seria mais um peso para eu carregar em minha já-muito-sobrecarregada consciência.

E o pior de tudo é que o "obrigado" não era exatamente um motivo para eu correr para minha melhor amiga. Os outros até que foram. O estúpido plano para enganar a todos, todas as mentiras no meio do caminho, os beijos "falsos". Esses, sim, eram motivos para um desabafo, mas o agradecimento de Sasuke não era.

Afinal, ele havia deixado bem claro, no dia em que pediu a minha ajuda para realizar esse plano, que as coisas durariam até o dia que a avó dele fosse embora. Depois seriam mais alguns dias de um fingimento raso, então terminaríamos por "incompatibilidade de gênios". Dessa vez não houve qualquer mentira por parte dele e também não houve nenhum deslize de minha parte. Foi o imprevisto que encurtou a viagem da sra. Uchiha e o nosso teatrinho.

Era engraçado como dessa vez não havia um culpado para quem eu pudesse apontar o dedo. E, paradoxalmente, isso tornava tudo pior. Nas outras vezes, podia culpar a mim mesma. Não era o melhor sentimento do mundo, mas, ao menos, existia algum responsável. Dessa vez era como se o destino estivesse interferindo diretamente para que nós nos separássemos o mais rápido possível... quase como se fosse errado ficarmos juntos – mesmo que fosse tudo de mentira.

E, para melhorar meu humor, eu nem acredito nessas bobeiras de "destino" e "signos do zodíaco" e coisas ABSURDAMENTE comprovadas do tipo. Para se ter uma noção de quão desesperadora estava a situação. Até o Destino tinha arrumado um lugarzinho na minha cabeça. Totalmente deprimente. Porque, antes, quando era tudo um erro humano – e, na maioria das vezes, meu – não restava mais esperança, pois havia estragado tudo.

Só que, quando a situação parece estar acima de você, quando depende de coisas sobre as quais você não tem qualquer tipo de controle, e, muitas vezes, não pode nem mesmo ver o que está chegando... essa é o pior tipo de situação. Porque ainda resta uma pontinha de esperança e, por mais que se lute contra, a esperança continua lá. Quase como se sussurrasse que ainda era possível conseguir o controle da situação... e... e ajeitar tudo.

Meu cérebro continua gritando que isso não era viável. E que eu deveria estar feliz por finalmente tudo ter acabado, mas a única coisa que eu conseguia sentir era um estranho vazio.

Pequena ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora