Capítulo II - Neblina espessa.

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Elizabeth se levantou de sua cama ainda um pouco sonolenta após ouvir o chamado de sua mãe e desceu as escadas descalça. Na cozinha encontrou sua mãe, já calçada com suas botas pretas e seu famoso casaco azul escuro e uma xícara de café em mãos. Ela encarava o piso de madeira séria, enquanto apoiava sua mão livre sobre a pia. Estava tão cansada pela noite mal dormida que por alguns segundos não percebeu a presença da menina.

Elizabeth cumprimentou sua mãe com um 'bom dia' carinhoso, e pegou um dos últimos pães que restavam na despensa, puxando a cadeira para se sentar. Margaret sorriu retribuindo o olhar, terminando de beber o café e lavando rapidamente a xícara. "As suas malas já estão arrumadas, minha filha?"

"Sim mãe, eu arrumei ontem de manhã como você pediu" Elizabeth disse. "Tem certeza que você não está esquecendo de nada? Colocou todos os seus vestidos na mala? E a sua escova de pentear o cabelo? Não esqueça sua escova de dentes." Margaret se virou inquieta para a menina. E Elizabeth simplesmente sorriu, tentando tranquilizar a mãe, terminando seu pão "Está tudo pronto, mãe. Eu chequei ontem todas as vezes que você me mandou."

A mulher não conseguiu conter um suspiro percebendo o quão tensa estava. Foi em direção a menina e se curvou, olhando diretamente nos olhos de Elizabeth. "Me perdoe, filha. Estou apenas angustiada. Não quero que nada dê errado" e tocou as mãos dela com devoção, analisando os desenhos marcados nas luvas. "Nossa despensa está quase vazia, e só poderei fazer compras semana que vem com a ajuda do seu tio, e você sabe como ele é... Essa é a última chance que eu tenho para te dar uma vida melhor."

Margaret estava com o coração quebrado. Não era uma escolha fácil, ou ela mandava a menina para perto de Peregrine, ou teria que lidar com o futuro inevitável. Podia quase enxergar com os próprios olhos sua filha em seus braços, pedindo apenas um pedaço de pão, e ela tendo que responder que não tinha como comprar. Os seus olhos começaram a marejar mas Margaret não se permitiu chorar. Não permitirei que isso aconteça com ela, pensava em silêncio.

"Troque de roupa, filha" se levantou, chamando Elizabeth para segui-la "Está na hora de irmos, será uma viagem longa."

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Depois de algumas horas as duas já pegavam o terceiro trem, e Elizabeth apertava com suas luvas de couro o seu casaco contra o corpo tentando ignorar o frio congelante daquele dia, enquanto olhava para as pessoas ao redor em claro desconforto. Nunca havia visto tantas pessoas apertadas em um espaço tão pequeno antes, e o cheiro de carvão queimando preenchia os seus pulmões. Mas sua mãe que estava ao seu lado, enrolou seus braços ao redor da menina, ternura transbordando em seus olhos. "Está tudo bem, Elizabeth. Eu estou aqui. Segure minha mão."

Elizabeth seguro a mão direita da mãe. Sim, estava tudo bem. Sua mãe estava ao seu lado. Ela não estava sozinha. Estava tudo bem. Sorriu satisfeita.

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No dia seguinte, as duas se encontravam dentro de uma barca. Elizabeth segurava sua mala, os dedos tamborilando nervosos, e as suas mãos suavam dentro da luva de couro. Ela sentia a ansiedade dominando seus pensamentos. E o frio na barriga não colaborava com suas tentativas de se acalmar. "Já estamos chegando, Elizabeth" sua mãe se virou, sussurrando em seu ouvido.

A paisagem parecia vinda direto de um conto de terror, uma neblina espessa não permitia que enxergasse com clareza à frente. A barca passava cuidadosamente entre os penhascos, e Elizabeth olhando para baixo notou sombras misteriosas que pareciam se esconder abaixo das águas, vagando no silêncio que parecia dominar aquele lugar inóspito.

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