23. Hora da verdade

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MARÇO DE 1830,

QUANDO CHEGA A HORA DA TEMIDA CONVERSA.

Elisa não sabia quanto tempo tinha dormido, mas tinha sido muito pouco. Seu corpo pedia por mais descanso e sua mente estava terrivelmente cansada quando a parteira a acordou, instruindo-a sobre como amamentar sua filha, já que a bebê ainda não tinha sido amamentada desde que nascera. Ela tinha certeza que fazia pouco tempo que tinha caído no sono, pois o sol apenas começava a se pôr do lado de fora da janela.

Ela segurava a pequena Violet no colo pela primeira vez, com um sorriso bobo nos lábios enquanto a menininha mamava. Ela era linda, extremamente parecida com a família de Elisa, ela reconhecia cada um dos traços, parecia até que Nate mal tinha tido participação naquele pequeno milagre, mas Elisa torcia para que ela tivesse herdado os lindos olhos azul-acinzentados da família Hildegart, ou então os olhos castanho-esverdeados de Nate. Violet ainda não tinha aberto os olhos e provavelmente levaria alguns dias para isso acontecer, era como se Elisa estivesse esperando por outro parto. A pele dela não era como a de Elisa, talvez fosse a maior prova da participação de Nate, pois era uma mistura do tom de pele dos dois, mas, mesmo assim, ela ainda era uma dama preta e, como a sua mãe, seria uma mulher forte e corajosa que não se importaria com o preconceito e teria orgulho de ser uma mulher preta.

O coração de Elisa estava cheio de amor enquanto ela observava sua filha se alimentando. Não parecia real todo aquele sofrimento durante o parto, parecia ter sido apenas um longo pesadelo que enfim chegara ao fim, e Elisa passaria por ele todo outra vez se a recompensa fosse ter sua filha nos braços como tinha naquele momento.

Quando a menininha rejeitou o seio da mãe, já de estômago cheio, Elisa ficou apenas admirando-a e sorrindo para a menina. Margot, que estava sentada naquela poltrona no canto do quarto, a encarava com um sorriso bobo nos lábios.

- Sei que deve estar cansada, mas acho que tem algumas coisas para conversar com Nate. – Margot disse.

Elisa ergueu o olhar para ela, o sorriso sumindo dos lábios. Será que ela sabia a verdade?

- O que quer dizer? – indagou ela, receosa.

- Nate gritou com o agente no corredor, dizendo que a bebê era dele e não do seu falecido marido. – Contou ela e Elisa suspirou. – Ele veio ver a bebê enquanto você dormia e me contou tudo.

Elisa engoliu em seco, desviando o olhar de Margot para a bebê.

- E... o que a senhora acha de tudo isso? – ela perguntou em um sussurro.

Margot se levantou da poltrona e se sentou na beirada da cama de Elisa, tocando a mão dela.

- Teria sido muito mais simples se tivessem resolvido tudo da primeira vez que se viram. – disse Margot. – Mas entendo seus motivos para fazer o que fez, mulheres não têm liberdade no mundo em que vivemos e somos obrigadas a fazer coisas das quais não nos orgulhamos, como dar as costas ao homem que amamos para nos casar com outro que não nos ama e nem nós os amamos. Não julgo você, Elisa, mas preciso saber o que pretende fazer, porque Nate a ama e sofreu quando foi embora, não posso vê-lo sofrer mais uma vez. Se sente algo por ele, se tem alguma intenção de ficar, precisa dizer isso a ele. Eu adoraria tê-la em nossa família, não só porque faria Nate feliz ou porque é mãe da minha primeira neta, mas porque acabei me apegando a você também nessas últimas semanas, a considero uma filha e ficara triste em perder uma filha e uma neta mais uma vez.

Elisa apenas encarou Margot, um lágrima escorrendo pela própria bochecha, e apertou a mão dela.

- Acho... – disse ela, hesitante. – Que preciso falar com Nate. Agora. – Completou.

Amores roubadosOnde histórias criam vida. Descubra agora