Hospício

Analfabeto

Tronco:

         Amanheceu, eu ainda estava sentado na beira do terraço, encarando as luzes da cidade quando Dayse chegou. Eu deveria ir para meu quarto, mas permaneci ali. Outros psiquiatras começaram a chegar, ouvi alguém se aproximar de mim.

Dayse: Deveria estar em seu quarto!

       Não respondi.

Dayse: Poppy me disse que não conseguiu dar um remédio para você ontem, bem nesse caso...

         A ouvi mexer em sua bolsa, me virei e apontei uma faca para ela. A mulher riu sem medo algum.

Dayse: Isso não é algo de se brincar. E é feio ameaçar quem cuidou de você por anos!

         Cuidou?! A faca tremia em minhas mãos, senti meu corpo esquentar, eu não conseguia me mover direito nem responder. Isso pareceu alegrar Dayse.

Dayse: Ora, ontem você estava conversando normalmente comigo! Era por que tinha mais gente? Era?

           Dayse me conhece bem, odeio isso. A faca acabou caindo no chão, eu a encarei, me abracei e comecei a tremer. Dayse colocou a mão dentro de sua bolsa e estava prestes a tirar algo quando Poppy apareceu desesperada e me encarou.

Poppy: TRONCO!! EU FIQUEI PREOCUPADA, NÃO TE VI NO QUARTO E--

           Ela notou minha situação e correu até mim. Dayse fechou a bolsa e cruzou os braços.

Poppy: Ah meu deus, o que aconteceu?

Dayse: Eu o encontrei aqui, queria ajudá-lo mas ele me ameaçou com uma faca e logo depois começou a tremer. Acho que vai ter uma convulsão.

Poppy: Vou levá-lo para o quarto.

          Poppy me conduziu até meu quarto, tomou cuidado nas escadas e me ajudou a sentar. Eu queria dizer: "Não me toque!" Mas não consigo. Queria empurrar Dayse lá de cima, mas não consigo...

Poppy: Eu vou pegar um remédio, não vou demorar.

          Consegui balançar a cabeça negando.

Tronco: P-por que se preocupa?

        Queria soar desafiador e assustador, mas disse em um tom desesperado por causa do medo de antes.

Poppy: Tem um troll com problemas mentais na minha frente prestes a ter uma convulsão! A pergunta que deveria se fazer é: "Por que não me preocuparia?!" Se for pra responder: "Eles não se preocupam!" Eu já te disse: NÃO SOU COMO ELES!!

           Poppy cobriu a boca.

Poppy: Desculpa! Não queria gritar com você...

            Minha tremedeira diminuiu. Puxei o cobertor, me enrolei e fechei os olhos.

Tronco: Não preciso da sua preocupação.

         Poppy ficou em silêncio...por um segundo.

Poppy: AH SEU...PACIENTE DIFÍCIL!!

Tronco: Isso não é um xingamento.

Poppy: Minha intenção nunca foi xingar você.

          Abri os olhos ao sentir um peso a mais no colchão. Poppy pegou o travesseiro e passou os dedos pelo rasgo.

Poppy: Fez isso depois que saí não foi?

            Não respondi. A garota suspirou e se levantou.

Poppy: Vou trocar a fronha.

        Ela se levantou e saiu do quarto. Me lembrei de minha faca, não consegui pegá-la antes de voltar para cá... Me levantei e fui em direção ao terraço.