Surtos e Tratamento

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Tronco:

   Os gritos continuavam. Puxei a coberta do colchão e a mordi com força. As vozes... Não paravam de me perturbar... Lembranças... A maioria ruim. Eu tinha uma coleção de traumas. Conseguia ouvir o que os trolls diziam nas lembranças... Uma voz era minha... "Mamãe? Papai?" "Mãe." "Do que você me chamou?" "De mãe."

Tronco: Não seu idiota... Não chama ela assim...

    O que eu poderia fazer? Deitei no colchão com os pés virados pro lado da parede e a luz do outro lado da porta batendo no meu rosto. Eu não posso fazer nada além de ouvir essas vozes.

Tronco: Que comece a tortura. 

   "Mãe, pra onde levaram meus pais? Quando vou ver a mamãe e o papai?" "É eu também quero ver eles!" Essa última voz era da minha irmã. "Eu... Vou levá-los até eles..." Ouvi gritos alegres de duas crianças. Tapei os ouvidos com as mãos. Sabia que era inútil mas eu tentava mesmo assim.

Tronco: CHEGA!!

   Antes tivesse continuado com aquela lembrança... Eu comecei a ter ilusões. Eu vi minha versão criança nesse mesmo quarto, tentando escapar da troll de olhos vermelhos que tinha uma injeção com líquido nas mãos. "O-o que vai fazer?" "Ah... Não se preocupe com isso." A troll agarrou o braço da minha versão criança e injetou o líquido. O meu eu criança se sentiu cansado. Eu me lembro bem do que aconteceu... Fechei os olhos com força.

Tronco: PARA!!

  A ilusão continuou. Me sentei e comecei a bater a cabeça na parede onde estava manchada com meu sangue.

Tronco: CHEGA!! EU SEI O QUE ACONTECEU NÃO ME LEMBRE DO MEU PASSADO CHEIO DE TRAUMAS SEU CÉREBRO FODIDO!! VOCÊ NÃO SERVE PRA NADA ALÉM DE ME FAZER SURTAR?!?!

   "Bata com mais força." Era a voz suicida... Minha testa já estava sangrando. Eu havia retocado a pintura da parede. Parei. Não queria obedecer a voz. Toquei o sangue na parede, olhei minha mão, sorri e comecei a rir. Depois ouvi a risada de minha irmã e depois da Gabi. Logo estavam todos rindo. Eu parei.

Tronco: Isso não é divertido?!

    Olhei para a parede. "Seria se fossem risadas de alegria e não de surtos psicóticos!" A voz de Poppy ficou na minha cabeça... Não é novidade. Logo ela vai sumir se não for outro trauma.

Tronco: Poppy, sua chata! Não entende nosso lado.

     "Ela entenderia se você explicasse" Disse a voz boazinha.

Tronco: AH CALE A BOCA!!

      Desenhei uma faca sangrenta com o meu sangue. Fiz outros desenhos como um troll com "x" nos olhos. Quando terminei eu toquei o ferimento. Estava doendo. Mas eu gostava da dor. Deitei com a cabeça virada para o lado da parede e me cobri com o cobertor. Cobri minha cabeça também. Como uma criança com medo do escuro, dormindo sozinha, com medo de algo puxar seus pés.

   Em uma noite eu quero me divertir. Na outra só quero ficar em paz. Mas as vozes não me deixam. "Mamãe... Eu não consigo dormir... Tem umas vozes me dizendo o que fazer... Eu não consigo fazê-las parar!" Peguei o travesseiro e abracei. Não ligava se estava agindo como uma criança. Afinal é o que mais faço: agir como uma criança psicopata. Todos deixam isso claro quando se referem a mim como... "a Criança do Hospício". Mas tem outro motivo também...

Lírio: TRONCOOOOOOO!!

   Não! Nada vai me fazer sair daqui!

Gabi: TRONCOOOOOOO!!

   Não vou sair daqui! O relógio tocou. Usei o travesseiro para tapar os ouvidos mas não deu certo. Eu gritei e fechei os olhos com força. Me lembrei de quando era pequeno... Me lembro de sentir alguém me abraçando forte e sussurrar no meu ouvido: Está tudo bem, eu vou proteger vocês.

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