New Little Friend (YumiHisu)

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Respirei fundo, terminando de assinar o último papel antes de jogá-lo na mesa, próximo a pilha cheia de tratados e cartas de outras nações. Era cansativo, mas gratificante. Nenhuma guerra, nenhum ataque, apenas acordos de exportações e tratados de paz. Boa parte disso era graças ao grupo de embaixadores, que apesar de terem diminuído o ritmo de reuniões por um tempo devido à gravidez de Annie e o afastamento de Armin - eu não podia dar folga apenas para ela e fazer Armin perder esse momento, nunca impediria um pai de acompanhar a gestação da filha -, ainda conseguiam cumprir seus objetivos com êxito.

Suspirei, cansada. Era final de semana, os dois dias na minha vida em que eu não era rainha; eu era simplesmente uma mãe passando um tempo com a filha. Porém, nesse final de semana em especial, precisei trazer o "trabalho" para casa, já que fiquei a semana inteira atolada em reuniões e conferências com aliados de outras nações, e não tive tempo de avaliar com calma todos os papéis da parte burocrática da coisa. Felizmente, havia conseguido finalizar em poucas horas e ainda tinha o resto do dia para aproveitar com minha pequena.

E falando nela, o cheirinho de sopa me lembrou que estava na hora do almoço e precisava chamá-la para comer. Levantei da mesa da cozinha para caminhar até o fogão a lenha, provando com cuidado a sopa quente e sorrindo ao perceber que estava boa. Cozinhar nunca foi meu forte, mas de uns tempos para cá acabei adquirindo alguns dons.

Separei dois pratos e talheres, colocando-os lado a lado na mesa e enchendo as superfícies com a sopa quentinha - deixando, claro, um deles com uma quantidade menor já que minha pequena ainda não come tanto quanto um adulto. Certificando-me de que já estava tudo certo, virei para sair da cozinha e subir as escadas, afim de chamar a pequena que brincava em seu quarto.

Conforme me aproximava, já conseguia ouvir sua vozinha animada enquanto brincava.

- É, minha mamãe é uma ótima rainha - alguns segundos de silêncio.

Ela estava conversando com alguém?

- Ah, eu gosto de ser princesa também, lá no castelo eu tenho um quarto enooorme todo rosa e cheio de brinquedos, mas prefiro essa casa aqui mesmo, a mamãe fica mais tempo comigo quando a gente tá aqui. Quer mais chá?

Franzi o cenho, finalmente alcançando a porta com um sorrisinho desconfiado no rosto ao vê-la servir chá imaginário em uma xícara posicionada a sua frente na pequena mesinha.

- Oi, meu bem, tá conversando com quem? - falei com cautela, não querendo assustá-lá com minha presença.

Ela me encarou e sorriu, mostrando os dentinhos onde um estava faltando - havia caído no dia anterior, e ela ansiava pela visita da fada do dente.

- Oi, mamãe! - ela pareceu se lembrar de algo. Encarou o espaço a sua frente rapidamente antes de voltar os olhinhos azuis para mim - Eu fiz uma amiguinha nova! Ela tá brincando comigo, sabia? E a gente tem o mesmo nome! Não é legal?

Senti meu coração errar uma batida.

- O-o que?

- É! Meu nome é Ymir e o dela também, somos gêmeas de nome! - ela riu, divertindo-se com a própria brincadeira.

Prendi a respiração involuntariamente, abrindo um sorriso nervoso. Era impossível, era só a imaginação fértil de uma criança de cinco anos. Não tinha como...

- Ah, é, filha? E como é a sua amiguinha? - perguntei baixo. Ela novamente encarou o espaço a sua frente.

- Ela tem cabelo curtinho, é marrom e tá preso. E ela tem vááárias estrelinhas pelo rosto - sorriu - Ela é muito bonita, mamãe.

Não podia ser...

Meus olhos marejaram e eu encarei o espaço vazio. Não havia nada ali, mas meu coração acelerou. A imagem de Ymir - ou o que eu ainda conseguia lembrar dela - veio em minha mente e eu sorri fraco.

- Eu sei, meu amor... ela é - segurei as lagrimas, encarando minha filha novamente e lembrando o que havia ido fazer ali - O almoço está pronto, é a sopa que você adora, vamos?

- EBA!

E antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela se levantou correndo até a porta, mas parando no meio do caminho para encarar o lugar que estava antes.

- Tchau, Ymir, foi legal conhecer você! - e saiu por fim, em disparada para a cozinha.

Fiquei ali, parada por alguns segundos sem perceber quando havia começado a chorar. Meus olhos estavam presos no espaço vazio, uma parte de mim rezando, implorando para que, se de alguma forma ela estivesse mesmo ali, eu pudesse ver pelo menos um vislumbre de seu rosto. Mas foi em vão.

- Isso é jogo sujo... - ri fraco - Você conversa com a minha filha mas não fala comigo...

Enxuguei as lágrimas rapidamente. Talvez fosse idiotice e eu estivesse levando a imaginação de uma criança a sério demais, mas o que eu não daria para vê-lá de novo?

Um vento frio invadiu o quarto e eu me encolhi, virando em direção a janela aberta apenas a tempo de ver uma pequena flor de craveiro amarela* repousar sobre o parapeito. Sorri triste enquanto meus olhos marejavam novamente.

- Você também é meu destino.

Respirei fundo depois de um tempo, finalmente me recompondo e caminhando para a cozinha, onde a minha pequena Ymir já estava me esperando para comer.

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*Um Craveiro/Cravo Amarelo pode significar "Você é meu Destino"

Love • Coletânea de One-ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora