Capítulo 8

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Uma andorinha não cria um verão mas um som de ganso, clivando a escuridão do degelo de Março, é a primavera.

- Aldo Leopold

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Levantando-se cedo alguns dias depois, antes mesmo de o sol espalhar seus raios pálidos sobre a terra primaveril, Lisa tomou banho, se vestiu no quarto e saiu para a cozinha. Madeira carbonizada queimava em um vermelho profundo nas cinzas do fogão a lenha e preparou algumas torradas com uma espessa camada de geleia de morango de Jennie, antes de vestir o casaco e calçar as botas de caminhada.

Saindo para o convés, encontrou uma grande camada de névoa obscurecendo a água, abafando os sons de patos nadando em sua superfície, e rapidamente subiu a escada. Os degraus estavam tão frios e queimavam tanto que pareciam fogo em suas mãos enquanto se arrastava para o telhado escorregadio de orvalho.

Escalando a parede, cruzou o gramado em frente à cabana escura, sua respiração visível à sua frente e seus pés esmagando a fina camada de gelo enquanto a manhã amarga congelava até seus ossos. Era estranho, caminhar através da linha das árvores, pisoteando cogumelos selvagens e arbustos que prendiam sua calça jeans, e a umidade se agarrava a seu cabelo escuro enquanto seu coração batia forte em seus ouvidos.

Foi dar um passeio nas colinas, embora estivesse muito nublado e não pudesse ver muito à sua frente. O frio era bom contra suas bochechas, deixando-as rosadas porém descia por sua garganta e transformava seus pulmões em gelo, fazendo com que cada inspiração se transformasse numa dor aguda em seu peito. Através da grama alta e sobre colinas íngremes, Lisa caminhou, o céu nublado tornando-se um cinza profundo quando o amanhecer foi surgindo.

Foi uma boa maneira de começar o dia, sentindo-se rejuvenescida depois de uma boa noite de sono, e quando a neblina se transformou em uma névoa tênue e a camada de gelo no em orvalho, Lisa desabou sobre um trevo úmido no pico de uma colina. Com os braços em volta dos joelhos, observou o que estava à sua frente, pensando em tudo o que tinha acontecido, e tudo o que ainda estava por vir, observou enquanto o amanhecer se dividia, queimando um vermelho profundo e um laranja flamejante enquanto lascas de luz do sol derramavam sobre o cobertor verde. Ela ficou até que o sol quase estivesse no horizonte, antes de voltar para o chalé. Na luz da manhã, conseguia ver os telhados do pequeno vilarejo aninhado entre as cidades, e partiu em direção a um bosque que seguia a faixa azul serpenteando pelo campo. Estava calma e Lisa caminhou com as mãos nos bolsos, a respiração mais fraca no ar à sua frente e o vento menos cortante. Ao se aproximar do chalé, avistou algo se esgueirando pelas sombras das macieiras que cercavam a parte de trás do lugar, logo atrás das colmeias.

E do galinheiro.

Cautelosamente contornando a lateral do recinto, Lisa avistou a pequena figura com pelo castanho-avermelhado arranhando a tela de arame e percebeu que era uma raposa esquelética, saindo de sua toca na floresta para tentar esgueirar-se de volta ao galinheiro e comer uma galinha.

"Ei!" Gritou Lisa, correndo pelo jardim para enxotá-la. Ele estava com o arame na boca quando se aproximou e virou-se assustada, olhos escuros a observando, antes de correr para as árvores, um raio de sol iluminando brevemente sua pelugem cor de ferrugem, antes de se fundir nas sombras da vegetação rasteira, perdida entre samambaias e hamamélis.

Olhando para o arame amassado na base da cerca, Lisa se agachou e suspirou. A madeira estava cortada em lascas dentadas e felizmente seus dentes não tinham sido capazes de roer o arame, ainda. Abaixando-se, tirou um punhado de terra da base da cerca e puxou com cuidado a parte inferior da tela, observando enquanto se levantava facilmente, arrancando grama e minhocas rosa que se contorciam no ar frio.

I'm almost me again (She's almost you)Onde histórias criam vida. Descubra agora