I'm almost me again (She's almost you)

Capítulo 1

Estou de volta! E já vou avisando, se você achou "Como se nunca tivéssemos dito adeus" triste, talvez você não esteja preparado para essa...
Brincadeiras a parte, preciso agradecer demais a Rosefeat  que fez essa capa linda pra história!!
Se quiserem falar qualquer coisa podem ir no meu twitter @/paperjisoos e vamos começar.

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Sentada no assento de couro macio da primeira classe, Lisa moveu o copo de uísque entre os dedos, encarando o vórtex fascinante diante de si. Estavam voando fazia três horas, o ar lotado de oxigênio pressurizado fazendo seu caminho pela cabine, e ela estava pálida e rígida em seu lugar, dedos finos apertando o copo enquanto passavam pelas nuvens brancas com tanta gentileza que poderia confundir a velocidade real do avião com a de uma caminhada por um parque. Do lado de fora, o céu estava azul cristalino e ela encarava pela janela oval, encontrando castelos e animais nas nuvens, imaginando como seria mergulhar nelas, mergulhar no vapor congelante e cair no vazio abaixo. Já estavam sobrevoando o Oceano Atlântico Norte e ela conseguia imaginar a massa cinza embaixo de si. Ia doer, cair de um lugar tão alto. Não que fosse sobreviver a queda, mas era um pensamento quase pacífico, imaginar cair descontroladamente até que ondas gentilmente a tocariam e o oceano a abraçaria. Lisa imaginou que o choque com a água gelada do mar iria servir como agulhas e deixariam seu corpo dormente.

E seu corpo já estava tão dormente que não conseguia sentir coisa alguma. A única coisa que registrou foi a queimação do uísque enquanto tomava dois copos na primeira hora, após a costumeira taça de champanhe que sempre vinha. Mal ouviu a aeromoça falando com ela, sem pensar murmurou algo em resposta antes de pedir a bebida e estava congelada em seu assento desde então. Nem tinha percebido que estava tremendo, seus dentes batendo um no outro em meio à dormência, os lábios entreabertos enquanto observava a televisão desligada em sua frente, o cobertor macio que foi entregado a ela completamente ignorado.

Ao invés disso, Lisa estava inteiramente consumida pela escuridão cada vez maior que surgiu em seu peito. Se sentia completamente vazia. Era como se tivesse sido drenada de qualquer sentimento, qualquer sensação com apenas algumas palavras e um coração partido, a capacidade de processar tudo tinha sido roubada de si enquanto uma dor inimaginável a consumia. Nunca em sua vida pensou que algo doeria tanto.

Doeu mais do que imaginava ser possível, então fez a única coisa que pôde imaginar e dirigiu direto para o aeroporto comprando uma passagem para o próximo vôo que saísse de Seul. Estava a caminho de Inverness, uma cidade no norte da Escócia. Teve uma curta parada em Londres no meio do caminho, o que seria  uma escolha mais prática se fossem circunstâncias normais, mas ela estava à procura de uma fuga. Algum lugar muito longe de qualquer coisa que poderia lhe trazer dor, e Inverness parecia uma uma ótima ideia enquanto entregava seu passaporte com mãos trêmulas e comprava uma passagem para a primeira classe.

Não tinha bagagem para despachar. Nada além de sua bolsa, um relógio Cartier Tank quebrado, um dos modelos antigos, e uma fotografia dobrada no fundo do bolso de sua jaqueta. Com a passagem em mãos, fez seu caminho pelo lugar indo na direção do bar mais próximo, logo se sentou em uma mesa e pediu uma bebida. Três copos depois, um após o outro, seu vôo estava sendo chamado.

Depois de duas horas na primeira parte da viagem, não conseguia formular um pensamento. Tudo que sabia era que doía e quanto mais bebia, menor era a dor. Encheu o vazio dentro de si com álcool que a queimou de dentro para fora, mas não o suficiente para tirar a frieza impenetrável que assolava seu coração. Lisa não achava que ia se sentir aquecida novamente. Em algum momento, ela foi para outro lugar. Não estava exatamente dormindo, mas também não estava inteiramente consciente do que acontecia ao seu redor. Sua visão estava desfocada, sons sendo sussurrados como plano de fundo e ela segurava forte o copo vazio, os dedos rígidos e as unhas levemente roxas. Não foi até o piloto anunciar sua descida em Londres que relaxou, tentando acordar completamente enquanto sua mente voltava para seu corpo.