Capítulo 14

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Chaeyoung,

Conheci alguém. Ela me lembra de você. Vocês não são parecidas, mas há muito de você nela. Sua luz, sua bondade, sua suavidade, suas risadas soam tão diferentes, mas ainda sim ela ri como você, é um som de pura alegria, alto e descarado, e me faz sentir melhor só de ouví-lo. Estou começando a rir como antes também. Pareceu que uma eternidade havia se passado antes de eu rir pela primeira vez desde que você foi embora, e quase não notei o que tinha acontecido, apenas que me sentia leve por dentro.

Sinto que tenho um pouco de cor em minha vida, como se eu tivesse uma chance de ser feliz agora. Estou curando, lentamente, mas quando chegar a Paris, acho que vou ficar bem. Não importa qual seja o resultado, se te encontrar lá ou não, acho que vou ficar bem, e hoje é a primeira vez que me sinto assim desde que você foi embora. A primeira vez que realmente acreditei.

Acho que pensei que sempre doeria daquela maneira. E eu descontei minha raiva em você por me machucar, mas percebo agora que estava sofrendo mesmo antes de você quebrar meu coração. Mesmo agora, mesmo quando ainda dói muito, ainda quero o melhor para você, independentemente do que fez comigo. Sinto que há muito tempo não sei como ser uma pessoa da maneira certa e tenho tempo para descobrir isso agora. Tem sido bom para mim estar presa aqui neste barco no rio. Não tenho nada além de tempo, e há tantas coisas para pensar e fazer que estou começando a me entender um pouco melhor.

Mas ainda sinto sua falta.

Lisa.

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Uma semana depois, o barco de Lisa foi finalmente libertado da ponte, para sua grande irritação. Estava esperando há alguns meses e, claro, apenas depois de seu barco quebrar que foi finalmente libertado. Porém não foi uma tarefa fácil e ela assistiu da margem do rio, bebendo uma xícara de chá com um olhar sombrio no rosto enquanto um helicóptero golpeava as árvores, galhos e troncos rangendo enquanto se curvavam sob a força das hélices que chicoteavam. Tinha um guindaste preso a ele e foi a única maneira que conseguiu fazer com que fosse rebocado, sem estradas que levassem à margem do rio e nenhum barco pequeno o suficiente para caber ali e ao mesmo tempo ser capaz de puxá-lo para fora.

O helicóptero o arrastou ao longo da superfície do rio, a água ondulando contra o fluxo da corrente e alguns homens com capacetes e coletes laranja esperaram ao longo das margens enquanto o barco era puxado para cima. Água jorrou das rachaduras e o velho barco gemeu quando meia dúzia de pares de mãos agarraram a grade de metal da popa e levantaram enquanto o helicóptero pairava acima. Eles montaram uma série de postes de metal para ajudar a rolar o barco em direção ao barracão de Jennie, e Lisa vagarosamente andou ao lado dos trabalhadores, observando enquanto ele era puxado pela floresta e colocado em um suporte para barcos.

O velho barracão cheirava a água de rio, lama e madeira úmida, uma velha lanterna iluminando o grande galpão e as pilhas de barcos a remo e caiaques bem arrumados. Estava apertado com o barco de Lisa ocupando a maior parte do espaço no meio, e as portas não podiam ser fechadas porque a proa se projetava alguns metros, mas Jennie garantiu que estava tudo bem.    

Foi um alívio ter o barco removido, mesmo que Lisa não se sentisse tão melhor com o fato. A arcada sob a ponte parecia estranhamente vazia agora, e o helicóptero e o guindaste foram caros, embora Lisa tivesse preenchido o cheque como se não fosse nada, mas parecia que estava fazendo algo para seguir em frente. Parecia que estava menos presa agora, embora ainda estivesse essencialmente tão presa quando comparado ao dia que se meteu nessa confusão. Pelo menos agora poderia trabalhar para consertar o barco e chegar a Paris.

Após pensar muito, decidiu consertá-lo sozinha. As chances de ter alguém na zona rural que era mestre em construção de barcos eram pequenas o suficiente para dissuadir Lisa de sequer tentar procurar, e depois de pesar a decisão de pagar a um especialista uma quantia exorbitante para passar semanas a fio na pequena cidade, decidiu que conseguiria fazê-lo sozinha. Aprendeu carpintaria quando criança, aprendendo a retirar a casca de tábuas recém-cortadas, lixá-las e usar polimento ou verniz para dar acabamento. Como juntar peças em um ângulo perfeito, como esculpir padrões para substituir peças podres ou lascadas de antiguidades, como envelhecer a madeira para combinar perfeitamente. E sabia o básico de eletricidade também, tendo trabalhado com relógios elétricos complicados e lâmpadas antigas.

I'm almost me again (She's almost you)Onde histórias criam vida. Descubra agora