Presa entre Quatro Paredes

24 8 0
                                    

A única vista que Jezebel tinha para o lado de fora era a janela de sua casa.
Ela girou as rodas da sua cadeira de rodas e ficou rodando de um lado para o outro. A vontade de sair de casa era inabalável, mas ela simplesmente não podia.
Desde que ela se entendia por gente, era assim. Sua mãe contou que ela era muito pequena quando aconteceu um terrível acidente: a jovem foi atropelada por um carro desgovernado.
Isso lhe deixou sequelas muitos fortes. Ela passaria o resto da vida andando em uma cadeira de rodas. Mas o que mais doía era ver o sofrimento de sua mãe, Vera.
Vera era uma mulher forte quando se tratava de sua filha. Sempre cuidou dela dando o máximo de si. Jezebel era muito grata pela sua atitude.
Era noite, e as pessoas andavam pelas ruas vivendo suas vidas normais. Jezebel também queria ter uma vida normal.
Mas isso era impossível, já que ela não podia sair de casa sem o auxílio de sua mãe. Ela quase nunca saía, e quando saía era levada por Vera. Sempre para ir ao mercado ou coisa assim.
Até quando ela iria viver assim? Jezebel se sentia como se estivesse em uma torre, presa.

Cida bateu na porta da mansão da família Romano. Ela tremia bastante com medo do que pudesse acontecer.
A porta se abriu e uma mulher de avental a atendeu. Com certeza deveria ser a empregada da mansão.
- Sim?
- Olá, meu nome é Maria Aparecida. Queria falar com a Lady Romano.
A empregada olhou para trás e disse:
- Pode entrar. Vou chamá-la.
Maria Aparecida entrou e se surpreendeu ao ver a mansão do lado de dentro. Era muito linda e majestosa, quase como um castelo.
Minutos depois, uma mulher surgiu descendo as escadas. Era uma mulher de meia idade com cabelos grisalhos e rugas no rosto. Mas mesmo assim parecia jovem comparada às demais.
- Espero que haja um bom motivo para estragar meu sono de beleza, Josélia.
A empregada sorriu.
- Uma jovem quer falar com você.
Leonora Romano encarou Cida pela primeira vez. Ela tinha um olhar frio e persistente.
- Quem é você?
Cida encarou a mulher.
- Meu nome é Maria Aparecida. Eu tenho algo sério para lhe contar.
Leonora arqueou as sombrancelhas.
- Para vir a minha casa essa hora da noite, deve ser sério mesmo.
Cida suspirou e disse, sem rodeios:
- Eu sou filha do seu marido, Marcelo Romano.
Leonora arregalou os olhos.

Bianca estava em seu quarto, sentada na cama. Fernando estava em sua companhia, sentado ao seu lado.
- Ainda não consigo acreditar que seu pai está ajudando a gente a investigar minha madrasta.
Fernando sorriu.
- Seu Frederico nunca foi com a cara de Suzan. Ele sabe farejar uma golpista a quilômetros.
Bianca riu.
- Não é à toa que ele sempre te alerta sobre essas piriguetes que ficam com você.
Fernando franziu a sombrancelha.
- Mas elas são só diversão. Acho que nunca me apaixonei por alguém de verdade.
Bianca sorriu e se aproximou de Fernando.
- Um dia você vai encontrar alguém. Tenho certeza.
Bianca e Fernando ficaram trocando olhares até que se aproximaram um do outro e se beijaram. O beijo durou alguns segundos até que Bianca se afastou.
- Não! Não podemos fazer isso, Fernando. Somos primos!
Fernando ficou um pouco confuso.
- Você tem razão. Acho que estamos nos deixando influenciar pela vontade de nossos pais.
- Sim... Olha, Feh, já está tarde... Acho melhor você ir para casa.
Fernando assentiu.
- Está bem. Até amanhã, Bianca.
- Até.
Bianca observou o primo indo embora e ficou com os sentimentos confusos. Estaria ela se apaixonando por Fernando?

Vitória Stewart acendeu uma vela em seu quarto e começou a rezar. Todos os dias ela rezava nesse horário, orando pela volta de sua filha desaparecida.
Ela se lembrava bem do dia de seu sumiço. Vitória estava no parque junto com Silvia, e as duas estavam fofocando sobre vários assuntos. O carrinho de bebê onde estava Nina estava do lado delas. Até que Fernando acabou indo para o meio rua e as duas mulheres correram até ele para impedir que ele sofresse um acidente. Quando elas voltaram, o carrinho de bebê tinha desaparecido.
Nina estaria com 20 anos hoje. A polícia já percorreu toda São Paulo para encontrá-la, mas nem sinal dela. Era como se ela tivesse evaporado no ar.
- Nossa Senhora, por favor, me ajude a encontrar Nina.
Ela encerrou a reza e foi para a cama.

Bianca desceu as escadas da mansão e saiu de lá, indo para o pátio. Chegando lá, ela encontrou Kevin parado na frente da limusine dos Blanco.
- Boa noite, Kevin - disse ela, sorrindo.
Kevin sorriu.
- Boa noite, senhorita Blanco.
Bianca balançou a cabeça.
- Me chame apenas de Bianca.
- Certo... Bianca.
Bianca fechou os olhos e sentiu o vento batendo em seu rosto.
- Está uma noite muito agradável - disse ela.
- Pois é. Quer que eu lhe faça companhia? - Perguntou Kevin.
- Quero. Sabe, eu sempre me senti muito sozinha desde a morte do meu pai. Eu sei que eu tenho Fernando, minhas amigas... Mas sabe quando você se sente sozinho mesmo estando rodeado de pessoas?
- Sei como é - disse Kevin. - Eu cresci sozinho. Nunca conheci meus pais. Pelo menos você teve uma figura paterna.
Bianca assentiu. Ela pensou em seu pai e lágrimas saíram dos seus olhos.
Kevin percebeu e se aproximou de Bianca.
- Calma, senhorita Blanco. Quer dizer, Bianca.
Bianca se aproximou de Kevin e o abraçou. Ele correspondeu ao abraço.
De longe, o mordomo Nico observava tudo.

  - Quer dizer, então, que Bianca está se engraçando com o motorista - disse Suzan, em frente ao espelho. - Ela sempre disse que eu era interesseira, mas ela também não pode ver um homem. Primeiro é aquele primo dela, e agora o motorista.
Nico assentiu.
- Eu queria entender o motivo de você ter contratado Kevin.
Suzan sorriu.
- Está bem, vou lhe contar. Eu preciso dar um jeito de tirar Bianca do meu caminho. Ela está investigando demais a morte de Tiago. E também é a única herdeira dos Blanco.
Suzan encarou seu fiel escudeiro.
- Eu preciso matá-la, Nico. Mas eu já matei o pai dela, e isso foi complicado. Então agora eu decidi mandar alguém fazer isso.
Suzan encarou o espelho.
- E esse alguém será Kevin, o motorista.

Felizes para Sempre? Onde histórias criam vida. Descubra agora