desprovido de cor

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Finn Wolfhard.

Na segunda-feira, esperei por Millie na saída do colégio. E na terça. E na quarta. Em nenhum desses três dias ela apareceu, assim como já havia feito antes e assim como todas as outras vezes, eu não entendi suas razões para tal.

Na quinta, ela foi para a aula, mas permaneceu apenas olhando para seu caderno cheio de girassóis que ela sempre desenhava.

Sequer havia visto ela indo embora ou chegando.

Estava indo para casa com Nick como sempre fazia enquanto pensava em Millie e no modo em que às vezes ela conseguia ser tão diferente.

Segundo meu irmão, que teve a mesma aula que ela no primeiro horário, ela não foi. O que deu a entender que ela tinha aparecido apenas no último horário para entregar nosso trabalho de Literatura.

– Você deveria falar com ela – Nick disse ao meu lado enquanto atravessávamos uma rua. O encarei. – É sério. Ela vive fugindo sem motivos, você precisa perguntar a razão, caso contrário você nunca descobrirá.

– Eu sei... – pelo menos acho.

– Ela mora em frente a nossa casa, você nem precisa atravessar o mundo para falar com ela – brincou.

Não respondi. Continuamos andando em silêncio, até que quando chegamos na nossa rua, Nick apontou com a cabeça para a casa amarela. Juntei toda e qualquer coragem que eu tinha e fui até lá.

Bati na porta branca de madeira e esperei.

No lugar de ver Millie, quem apareceu foi uma mulher, que provavelmente era sua mãe. Os cabelos e olhos eram iguais aos dela, mas bem mais sérios e sem vida, como se o tempo tivesse causado aquilo.

– Olá? – ela olhou ao redor.

– Oi... – pensei por um segundo no que falar. – A Millie está?

A mulher me encarou, franzindo a testa por um segundo.

– Sim... Você é...?

Naquele momento, Millie apareceu, descendo as escadas rapidamente como se tivesse ouvido o que acontecia do andar de cima e, olhando em minha direção ela veio andando com os olhos arregalados e mexendo nas mechas coloridas do cabelo.

– Mãe... – a mulher olhou para dentro, na direção em que ela estava.

– Tinha acabado de perguntar quem era ele... Já não bastava Jack e Caleb, Millie? – ela disse séria.

– Esse é o Wolfhard – ela ignorou. Naquela única vez, não pronunciou meu sobrenome com ironia. – É minha dupla nos trabalhos de Literatura. Se lembra da professora Willians? – a mãe assentiu.

– Entre – ela sorriu para mim e abriu espaço.

– Eu não...

– Eu faço questão.

Entrei, sentindo o olhar das duas sobre mim. A mãe de Millie me avaliando e ela tentando entender o que acontecia.

– Temos visita – a mulher falou, e quando olhei para o sofá branco, um homem estava sentado, junto de uma garota que parecia ser alguns anos mais velha que Millie, a irmã, provavelmente.

– E esse é...? – o homem perguntou olhando para mim e depois retornando o olhar para a TV.

– Um amigo.

– Tem certeza? – a garota questionou, dando a entender que desconfiava da própria irmã mais nova.

– Sim, Paige, tenho – Millie balançou a cabeça. – Finn só veio até aqui porque precisava pegar um caderno... não é?

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