os sonhos deles

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(coloquei uma música na mídia que eu acho que combinaria com o momento, caso queiram ouvir.)

Finn Wolfhard.

Estávamos sentados na estrada, ao lado do carro da diretora Johnson, observando as estrelas e com o rádio dentro do carro ligado, tocando músicas aleatórias ao fundo.

– Qual a coisa que você nunca disse pra ninguém? – Millie perguntou se supetão, deitando em meu ombro, provavelmente com sono.

– A senhorita Willians disse uma vez que nós talvez "pudéssemos nos ajudar". Acho que ela estava certa – respondi e Millie riu ao meu lado.

– Ela também me disse isso uma vez, e que a razão das duplas terem se tornado fixas foi porque ela achava que eu estava muito "solitária", e que você era um "bom garoto" – ela sinalizou aspas. – E ela realmente estava certa... Mas não foi exatamente isso o que eu perguntei. Da pra notar que há algo que há anos você guarda pra si. O que é? E aliás, nós já tivemos essa conversa antes. Sobre a Srta. Willians.

Apenas aí me lembrei. Tentei pensar em outra coisa e perguntei:

– Você realmente era minha stalker?

– Só porque eu te observava por aí? Não, eu tinha mais o que fazer... tipo avisar a CIA sobre seu paradeiro de sempre, essas coisas.

– Nunca elogiei sua casa.

– O quê?

– Sempre achei ela mais bonita que a minha, por alguma razão. Acho que são as cores.

– A sua por dentro é mais bonita que a minha – ela deu de ombros. – Mas obrigada, aceito o elogio.

– Às vezes sinto como se não tivesse um lugar. É como se eu fosse...

– Neutro?

– Sim.

– Talvez você seja. Isso não é algo ruim. Mas pra mim, você é colorido. Só depende do ponto de vista. Srta. Willians me ensinou isso.

– E você?

– Eu o quê?

– Qual a coisa que você nunca disse pra ninguém?

– Eu quero viver no Havaí quando envelhecer. É algo meio aleatório e que a maioria das pessoas provavelmente concordariam e diriam "eu também", mas para mim é algo realmente especial e que eu quero realizar um dia.

– Por que lá?

– A atmosfera – ela deu de ombros. – Mas, além disso, já que você disse duas coisas sobre você, eu também vou. Todos sempre dizem que eu sei fazer muitas coisas, que quando eu precisar criar um currículo, haverá milhões de coisas diferentes lá, mas isso me deixa louca. Eu não sei o que eu realmente quero. Eu quero fazer de tudo um pouco, mas eu não posso, porque é impossível. Então eu apenas continuo fazendo as mesmas coisas que me deixam "louca" sobre isso, porque também são as que me mantém sã sobre outras coisas, acho que também já tivemos uma conversa mais ou menos assim.

– Já... Nós vamos encontrar um caminho – respondi e a apertei com o braço que estava ao redor dela.

– Eu espero que sim, Wolfhard.

– Você realmente nunca vai me chamar pelo primeiro nome?

– Já disse que não tem graça.

– Como você conheceu os garotos? – perguntei depois de algum tempo em silêncio.

– Quando era menor, eu ficava olhando as pessoas que andavam de skate na pista perto das nossas casas, daí achei Caleb nesse exato lugar. Logo depois, Jack também, já que eles são amigos há anos. Ele foi quem me ensinou a andar de skate e te roubou esse cargo – ela brincou e ficou em silêncio por alguns segundos. – Talvez essa seja a última vez em que nos vemos. Na verdade, com todo mundo, todos os dias. Às vezes, olhar para as estrelas me lembra isso. Acho que a maioria pensa como algo ruim, mas é incrível.

– Sim, é – respondi, pegando meu celular e vendo que já era quase quatro da manhã. – Acho que temos que voltar...

– Puta que pariu! A gente precisa ir agora – nos levantamos de supetão do chão e logo entramos no carro vermelho, voltando o mais rápido possível para o parque onde estávamos acampando.

🌻

Depois de estacionar onde o carro estava antes e entregar as chaves para Millie, segurei seu braço, antes que ela saísse correndo para colocá-las onde estavam.

– Por que você estava tão distante até mais cedo? – perguntei.

– Eu te pedi desculpas uma vez. Eu disse que por vários motivos que você ainda não entende. Esse é um deles. E o que virá depois também. Por favor, se lembre disso – ela sorriu tristemente enquanto eu ficava cada vez mais confuso e saiu do carro correndo.

Estava seguindo para a área das barracas, porém gritos vindos do lago me chamaram a atenção. Segui os gritos e o que achei foi todos meus amigos, sem nenhuma excessão, dentro da água, que provavelmente estava congelante. Todos gritavam, ou de frio, ou rindo, ou jogando água um nos outros.

– O que vocês estão fazendo...? – gritei para eles.

– Você foi quem desafiou Nick a fazer isso! E ele carregou todos nós junto!

– Depois que a festa acabou, Nick chamou a gente aqui e jogou água em todos nós, nos forçando a entrar ou morrer de frio do lado de fora – Caleb explicou.

– Essa lógica não tem sentido algum – Millie respondeu, ao meu lado, me assustando.

– Tem certeza? – Nick perguntou se aproximando. Eu conhecia aquele olhar...

– Millie ele... – não consegui avisar antes. Ele jogou água em nós dois primeiro.

– Filho da...!

– Não xingue a mãe! – ele gritou, gargalhando.

Encarei Millie, que me devolveu o olhar e olhou para todos eles ali, brincando na água como crianças. Estava ficando frio ali fora, principalmente depois de Nick ter nos encharcado.

Pulamos na água juntos, jogando água em todos eles ali.

– Meu cabelo! – Sadie gritou.

– Vocês que começaram!

– Finn, você foi que desafiou ele!

– Eu só tinha falado a primeira coisa que veio à mente!

Todos continuaram gritando, até que, repentinamente, a diretora Johnson apareceu com sua carranca de sempre. Eu e Millie nos encaramos, mas ela nunca soube quem foram os culpados por ter roubado seu carro de madrugada, isso se ela sequer chegou a saber do acontecimento.

– O que está acontecendo aqui?!

– Estamos aproveitando cada segundo da viagem, Senhora! – Nick gritou de volta.

– Saiam daí agora!

Logo atrás dela, nossa professora de Literatura apareceu, tentando esconder um sorriso, que Millie devolveu à ela secretamente.

– Eles são jovens, têm muita energia para gastar. Apenas parem de gritar tanto!

– Não me responsabilizarei por nenhuma doença que vocês possam ter depois!

– Tudo bem! – gritamos de volta e voltamos a jogar água um nos outros.

Meu irmão estava certo, aquela viagem, sem dúvidas alguma, havia sido a melhor de todas até agora.

colors | fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora