epílogo

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UM ANO E CINCO MESES DEPOIS

Finn Wolfhard.

Estávamos todos reunidos na casa cinza, fazendo biscoitos de gengibre, já que estávamos na véspera de natal.

– Finn, para de roubar todo o chocolate! – Caleb gritou e Sadie, Nick e Gaten riram.

– Agora eles entenderam o que queremos dizer quando falamos que você é viciado.

– Nem é tanto assim – respondi de cara feia.

– Claro que não e a Sadie é loira.

– E o Nick não é seu irmão.

– E eu estou de férias em Cancún.

– Isso aí, Tia! – Gaten riu.

– Mãe! Você precisa me defender!

– Mas não dá, F – Lizzy riu.

– Ela está certa, filho, desculpe... Vocês não vão queimar os biscoitos dessa vez, vão? – minha mãe brincou, olhando para a lata de lixo que estava cheia de biscoitos queimados que não tiveram salvação.

– Dessa vez nós vamos prestar atenção, eu juro – Nick bateu continência e minha mãe bagunçou seu cabelo sorrindo.

– Eu vou para NY depois de amanhã, então espero que vocês não estraguem o dia de hoje outra vez igual fizeram queimando os biscoitos. Gostaria muito de levar biscoitos para lá.

– E lá não vende? – perguntei. – Gengibre tá em falta em Nova York?

– Já percebeu que você só fala sobre quando vai para NY agora? – Nick disse e nós reviramos os olhos.

– Filho, eu aposto que você faria o mesmo no lugar dela.

Mãe!

– Não sei como o Caleb suporta – Gaten riu.

– Do mesmo jeito que a Lizzy suporta você, Idiota – Sadie revidou e nós rimos deles.

– Acho que a gente precisa de mais açúcar – meu pai, desligou a batedeira onde estava o chantilly e coçou a cabeça. Ele agora tentava se fazer mais presente, pelo menos em seus momentos livres e nos fins de semana. Meus pais finalmente haviam parado de tentar controlar todo e qualquer dinheiro que conseguissem para a faculdade minha e de Nick – essa a qual já estava quase totalmente planejada, graças aos olheiros que sempre o observavam jogando por aí. Eu ainda precisaria descobrir meu próprio caminho.

– Vai lá, Finn!

– Por que eu, Jack?

– Porque a casa é sua.

– Também é do Nick, da mamãe, e do pai.

– Aqui o dinheiro, Maninho – meu irmão entregou.

Coloquei meus fones de ouvido e sai, para tentar achar algum mercado aberto em plena véspera de Natal. Me encontrei olhando para a casa amarela. Até aquele dia, ninguém havia se mudado. Era como se estivesse abandonada por completo.

As plantas que ficavam na parte da frente jaziam tristes e quase mortas, se é que já não estavam.
Havia tanto tempo desde o dia em que abri a carta de Millie e a vi tocando pelo pendrive que fazia parecer que haviam dez anos de distância, e não apenas um. Às vezes eu pensava nisso quando me sentava na calçada ao pôr do sol, uma parte de mim ainda esperançosa de que ela apareceria chorando e se sentaria ali ao meu lado. Mas ela estava em Londres, provavelmente cuidando de seu avô e fazendo cara feia para todos de sua nova escola.

Naquela madrugada, ela havia dito que talvez fosse a última vez que nos víssemos, e, pelo visto, realmente foi. E eu nunca consegui cumprir minha promessa interna de ajudá-la. Talvez sua dor realmente não tivesse uma solução. Pelo menos não alguma que eu pudesse encontrar.

Voltei para casa com o açúcar no automático, como se eu não estivesse realmente ali.
Todos estavam na sala de estar assistindo a um filme enquanto Caleb vigiava os biscoitos na cozinha.

– Acho que algum dia, ela ainda vai voltar – ele disse. – Ela sempre volta, acredite.

Naquele ano, me aproximei muito de Caleb. Assim como Lizzy e Jack, ele entrou para nosso ciclo interno, mas era como se com ele, as conversas fluíssem mais facilmente,  principalmente sobre Millie, já que ele a amava como um irmão.

– Talvez.

Oh, estão prontos! – ele sorriu e eu devolvi com um sorriso amarelo, deixando o açúcar que eles pediram em cima da bancada. – Sadie disse que quer decorar, pode chamar ela pra mim?

– Claro.

Sadie e Caleb, gostavam um do outro, e isso era claramente notável, mas até agora, não haviam assumido nada. Era como se eles, em um dia estivessem apaixonados e no outro brigados. O fato de que daqui um tempo ela iria para Nova York piorava ainda mais isso. Os únicos que realmente falavam para todos os lados de que estavam juntos era Lizzy e Gaten. Às vezes o grude dos dois conseguia ser insuportável, mas de um jeito fofo.

Chamei minha amiga ruiva, porém todos foram para a cozinha para decorarem os rostos dos biscoitos de gengibre. O que era um pouco problemático, já que logo depois eles iriam comê-los.

– Tô saindo – falei à mamãe depois de pegar uma mochila no meu quarto, antes de ir até o Lady Bird Lake, como ia em quase todos os sábados.

Coloquei meus fones e andei até lá. Antes eu ia de metrô, como quando foi com Millie, porém, agora, já havia me acostumado a andar até lá. Abri o zíper da mochila e tirei uma toalha dali. A joguei no chão e me sentei nela, olhando para a água enquanto ouvia música. Antes, eu não era uma pessoa que carregava fones de ouvido por ai, mas depois de um tempo, por alguma razão, isso se tornou uma rotina que nem eu entendia tão bem o porquê.

A única coisa que eu tinha de Millie, eram músicas. Um contato estranho me mandava nomes de várias. Uma vez ao mês. Eu apenas assumi que seria ela, mesmo que ela poderia claramente me mandar alguma mensagem que não fossem nomes de músicas, caso fosse. Mas, mesmo assim, fazia sentido ela nunca mandar nada além. Afinal, era Millie Bobby Brown.

Fiquei sentado ali, com a mísera esperança que nunca se permitia acabar de que em algum momento, ela apareceria de novo. Depois de um tempo, quando vi que aquele também não seria o dia em que ela cruzaria novamento o Oceano, fui para casa.

Quando me aproximei da calçada, vi alguém sentado ali.

Era ela. Millie estava ali. Bem ali.

– É quase pôr do sol – ela sorriu e eu me sentei ao seu lado.

Seus cabelos agora, eram quase totalmente vermelhos. Ela estava diferente. Totalmente diferente, como se estivesse mais livre, porém ao mesmo tempo, mais presa do que antes. Ela estava diferente, mas ainda era a mesma. Aquilo não fazia sentido. Já havia tido sonhos assim, porém, parecia muito real.

– Caso você esteja se perguntando, sim, eu estou realmente aqui e não, você não está sonhando, Wolfhardela estendeu uma caixa rosa que segurava, onde haviam dois donuts ali, um de chocolate e um de morango.

– São os que nós pedimos naquele trabalho? É sério? E eu pensei que você não fosse clichê – sorri.

– Cale a boca.

Você realmente voltou?

– Eu disse que não era um adeus, Wolfhard.

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