não é com você

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Finn Wolfhard.

Já havia um mês. Um mês desde que ela havia se mudado para algum lugar que ninguém sabia onde. Millie, e sua família haviam desaparecido como se sequer tivessem existido para começo de conversa.

O que havia sobrado era apenas casa amarelo canário do outro lado da rua com uma placa de vende-se.

Estávamos no último dia de aula, numa quinta-feira neutra. Era como se minha vida houvesse retornado a estaca zero.

Eu sempre vi minha vida e a das outras pessoas apenas passando por mim, e eu nunca fiz nada para mudar isso. Eu nunca realmente havia usado minha vida para viver. Até que Millie deixou com que eu me aproximasse dela e me mostrasse tantas coisas que eram confusas, mas que no fim de contas, faziam sentido.

Estava na mesa sozinho, apenas ouvindo o eco de voz de senhorita Willians até que ela me tocou, chamando minha atenção.

– Querido? Todos já saíram – ela disse com seu sorriso calmo corriqueiro.

Guardei tudo o que tinha e saí. Mas voltei segundos depois.

– Imaginei que você voltaria – ela a sorriu novamente.

– Você sabe para onde ela foi?

– Eles retornaram.

– Retornaram...?

– Sim. Pelo visto, houveram algumas complicações com o avô de Millie, e eles precisaram voltar para Londres.

O avô de Millie. O avô que ela tinha medo de ficar igual, por causa de sua doença... Ela estava agora, do outro lado do Oceano, no mesmo lugar onde sua irmã havia partido e feito com que eles fugissem disso com tudo o que tinham e se mudassem para a casa amarela. Era como se tudo tivesse voltado para antes de Millie ter chegado aqui no fundamental, antes de ter assustado a mim e a Nick quando tentamos dizer oi.

– Mas, olhe – ela começou a mexer em sua bolsa vermelha. – Ela veio se despedir de mim, e, principalmente, deixar isso.

Nas mãos dela, haviam um envelope cinza, assim como minha casa e um pendrive amarelo, assim como a dela.

– Ela disse que era para eu entregar para o único com quem ela conversava. Bem, é você, Finn.

A encarei. Eu era o único que havia conseguido sua amizade no meio de tantas pessoas naquela escola. Mesmo com o ímã-Millie e mesmo com o medo que todos tinham de se aproximarem.

Me lembrei da primeira vez que ela sentou ao meu lado quando a classe estava lotada, todos ali ficaram encarando, como se, estranhamente, quisessem estar ao meu lugar.

Peguei o envelope e pendrive e sorri em agradecimento para a professora.

– Eu disse que vocês podiam se ajudar. Estava certa, não estava?

– Sim... – olhei pela janela vagamente. – Vou precisar fazer os trabalhos por conta própria ano que vem – disse antes de sair.

– Sim, vai – ela riu e eu saí, para que fosse embora para casa logo.

Quando cheguei em casa, subi imediatamente para meu quarto e fechei a porta, colocando o envelope e pendrive em cima da mesa e apenas os encarando. Logo me peguei olhando para a janela, onde havia visto ela pela primeira vez na rua, carregando seu contrabaixo amarelo junto de seus amigos. Agora eu sabia que era um baixo, porque, como ela havia dito, ela preferia contrabaixos.

Respirei fundo e tentei criar coragem para abrir o envelope, mas não abri. Fiquei assim até pegar no sono, e acordei na sexta feira, no primeiro dia de férias. O envelope ainda ali, esperando para ser aberto.
Respirei fundo de novo, realmente criei coragem e o abri.

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