Intimidade

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6. EM CASA

Não conseguia pregar os olhos, sabendo que ele estava ali. Em um momento dormindo, no próximo, poderia estar dentro de um avião e só deus sabe quando o veria novamente. Já passava de meia-noite e eu estava grudado no celular, me perguntando o que poderia fazer para ele ficar. Me sentia impotente e aquilo me tirava o sono. Cheguei devagar no quarto, ele estava dormindo pesado. O celular na mesa de cabeceira. Era tão leve e despreocupado. Parecia que há muito, vinha carregando o mundo nas costas. Mas ali, dormindo em minha cama, podia relaxar e esquecer os problemas. Peguei o celular vagarosamente, sem tirar os olhos dele. O levei para sala. Qual era a senha? Qual poderia ser? Eu não tinha nenhuma pista, não sabia nada da vida dele. Se eu tentasse muitas vezes, o celular iria travar e James saberia que o que eu havia feito. Não podia arriscar. Voltei ao quarto, dessa vez ainda mais cauteloso do que antes. Ele continuava dormindo pesado, como se nenhum barulho pudesse acordá-lo. Esgueirei o celular pelo lençol até alcançar a mão dele. Pressionei com cuidado o polegar de James no Touch ID do celular. A tela se desbloqueou instantaneamente e eu suspirei de alívio, quase prendendo a respiração.

 Meus olhos foram direto ao aplicativo de pegação, contava com 44 notificações ao todo. Porra. Ele podia escolher quem quisesse, esse crédito precisava admitir. A maioria eram nudes e perguntas bem diretas sobre suas preferências sexuais. Nunca na vida havia visto tanto homem nu. As fotos de James eram bem sensuais, mas nunca nudes em si. E nenhuma delas contava com seu rosto, apenas corpo. Não entendi bem porquê, talvez o mínimo de privacidade. Você não precisa disso. Pensei, quase furioso. Minha vontade era de deletar o app. Como James não percebia que era bem melhor do que aquele bando de pervertidos? Eu precisava abrir seus olhos e mostrar a James que ele podia receber o afeto que merecia. Devolvi o celular para a mesa de cabeceira e voltei para a sala.

- Também não consegue dormir? - Meus olhos se arregalaram com a voz dele, de pé na sombra do corredor. Ele veio para mais perto. Havia mais ou menos uns quinze ou vinte minutos que visitara o quarto. Será que o havia acordado? - Desculpe, não quis te assustar. - Sua voz era baixa e macia. - Eu conheci o Phillip quando tinha dezenove anos, ainda morava em Baden-Württemberg. - Ele pronunciou a cidade em alemão e seu sotaque era forte, muito diferente da língua inglesa. - Ainda estou pasmo, não parece que é real. - Ele virou o rosto e desviou o olhar, claramente querendo evitar as lágrimas. Eu entendia exatamente pelo o que ele passava, Becky me deixara um vazio que ainda não havia compreendido como preencher.

 - Você quer um café? - Era o que eu tinha para oferecer. Seu semblante mudou na hora e ele chegou a sorrir torto, não entendi. - Sem ofensas, mas o café de vocês é péssimo. Parece água. Amanhã eu vou no mercado local e compro um café bom pra gente. Café, vinho, cerveja. Tudo aqui de vocês parece tão cheio de açúcar.  - Ele soava como um personagem europeu de livro. Pela lista, James parecia ter planos de ficar um pouco mais, o que era bom. Me dava tempo. - Posso ficar um tempinho aqui com você? -  O loiro sentou ao meu lado, assim que eu concordei.

- Obrigado por me receber. Eu amo a Delilah do fundo do meu coração, mas foi bom eu ficar aqui. Ela iria querer conversar e tudo o que eu preciso agora é só ficar na minha. Acho que encontrei a pessoa mais calma de LA. - Ele sorriu, olhando diretamente em meus olhos. Imediatamente me lembrei do sonho que tive com ele, do jeito que ele falava, olhava, se comportava. Do nosso beijo... Engoli a seco. James notou. - Está tudo bem? - Não respondi, apenas continuei o olhando da mesma maneira que ele olhava pra mim.

James passou o polegar no meu lábio inferior, ainda sem tirar os olhos do meu. Seu toque era suave e quente. Ele aproximou a boca muito devagar, pedindo minha permissão. Meu silêncio foi meu consentimento. Diferente do sonho, ele me beijou com calma, serenidade. Eu sentia meu rosto quente e minha cabeça ardendo. Eu apenas seguia os movimentos dele com a boca, deixando-o me levar. A todo momento, minha mente não conseguia parar de comparar o beijo do sonho e como esse real era muito mais vivo, muito mais ele. Suas mãos percorriam meu corpo, minha nuca, meu peitoral. Enquanto a minha se mantinha firme na nuca dele, receosa em explorá-lo. 

ObcecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora