Obcecado

Rejeição

2.0 - JAMES

- Deve ter lá dentro. - Ele disse e já foi entrando para a cozinha. Eu o segui. Abriu a porta da geladeira e pegou uma lata de energético pra mim. Ficou claro que ele preferia o destilado puro. - Então, Will... o que você faz? - Antes que pudesse inventar alguma desculpa, fomos interrompidos por uma notificação no celular dele. Ele tirou o Iphone do bolso, não sei que modelo era, meu celular de marca chinesa jamais poderia competir. Deu risinho de lado abrindo a tela num aplicativo de pegação. Espiei pelo canto de olho e vi que ele trocava mensagens com algum rato de academia. Ele suspirou - Vocês americanos não prestam. Na Alemanha somos mais discretos. - Comentou, sem tirar os olhos da tela, enquanto digitava algo rapidamente. Fiquei alguns segundos sem conseguir pensar numa resposta. Nunca tinha interagido com um cara assim. O que dizer? Para ser franco, nunca havia comentado sobre mulheres em aplicativos com outra pessoa também. Será que ele pensava que eu era gay? Não... Não era possível. Éramos diferentes demais. - Pode crer. - Soei como um machão desconfortável.

- James, você precisa parar de ficar no grindr saindo com esses babacas, sério. - Delilah chegou para me salvar da conversa estranha. - E me ajudar a criar um perfil pra esse aí! - Disse, apontando pra mim. Isso definitivamente não era o que eu tinha em mente. 

- Então, Wil... O que te atrai numa mulher? - Ele acabou de deduzir que sou hetero. Isso é bom... eu acho. - Hm... acho que a personalidade. - Nesse momento não conseguia parar de pensar em Beck. - WILL!!! Você não vai transar com a personalidade da garota! Acorda! Loira, morena? - Delilah resmungou. 

- Loira. - Indaguei. - Pele pálida, sorriso simpático. Culta, que goste de bandas antigas. - Porra. Acabei de descrever minha ex morta. Delilah revirou os olhos, colocando o indicador para dentro da boca e a língua pra fora, gesticulando um sinal de vômito. - Que tédio... - Acho que no fundo, ela se sentiu um pouquinho ofendida. Acabara de descrever uma mulher que nada tinha a ver com ela.

- Acho que você descreveu o James só que mulher. - Ela riu e James a acompanhou na piada. Olhando pra mim, ele me descartou sem hesitar. - Ele não faz o meu tipo. - Eu acabei de ser rejeitado por um homem, por que estou me sentindo ofendido? Isso não deveria importar, uma vez que nem de homens eu gosto. Tomei um gole da minha vodka com redbull.

- E qual é o seu tipo? - Não sei porquê perguntei, não me importava. Mas fiquei curioso para saber o que ele diria. - Carinhoso, gentil, atencioso, sério. - Não condizia em nada com o perfil que ele estava vendo no aplicativo. - E nesse app você acha esse tipo de cara? - Delilah respondeu por ele. - Will, esse tipo de app não é pra conhecer o amor da sua vida... - Ela revirou os olhos. - É só pra transar e pronto. Não precisa nem saber direito o nome do cara. - James parecia concordar com ela. - Prefiro transar com pessoas que eu saiba o nome. De preferência, que eu tenha alguma conexão emotiva. - Comentei. - Pessoas? No plural? Mulheres... Homens? - James olhou para mim com um sorriso safado na boca. - Quem sabe? - Rebati. Talvez pelo álcool correndo em meu sangue, eu estava mais desinibido. Jamais em minha vida, sonhei em me envolver com um homem. Mas desde o momento em que bati os olhos em James, algo me despertou.

Não digo amorosamente ou de forma sexual. Mas ele era intrigante. Tudo nele era. Sua voz, seu cheiro, seu cabelo loiro penteado, sua barba, seu sotaque alemão, sua pele alva, sua excelente polidez. Parecia que ele carregava consigo um grande segredo. O fato dele ser gay assumido descartava a sexualidade como confidência. Eu não sabia o que era, mas parte de mim queria muito descobrir. O que ele poderia guardar de tão sombrio por detrás daquele olhar penetrante?