Prólogo

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Pode chamar do que quiser, carma, destino ou simplesmente ironia. Aposto que as respostas para o grande mistério da humanidade chamado acaso ainda não foram comprovadas cientificamente e mesmo que já tenham sido, ainda continua sendo um grande mistério o motivo pelo qual duas pessoas são forçadas a se encontrar pelo destino. Se pararmos para pensar existem milhares de pessoas espalhadas por todo o planeta terra, por que especificamente aquele ser humano se tornou importante de alguma forma para cruzar o seu caminho?

Leticia nunca foi uma garota de acreditar em destino, ela mal se ligava as previsões furadas de seu signo e muito menos acreditava que carregava em si alguma característica do seu signo. Ao contrário do que as revistas diziam, ela discordava completamente da ideia que os virginianos eram meticulosamente organizados. Verdade seja dita que era uma grande fã de um bom planejamento, se tornava até um pouco obsessiva com as suas listas de tarefas, mas ainda assim se recusava a acreditar que tinha alguma coisa a ver com o fato de ter nascido em setembro dentro do período de Virgem.

Definitivamente não tinha tempo para perder com essas bobeiras de signos, destino e muito menos procurar por um amor. Existiam tantas outras prioridades que esses assuntos sempre foram terciários em sua vida. O último ano do ensino médio estava sendo estressante o suficiente, os vestibulares batiam a sua porta e o Enem estava cada dia mais próximo, aumentando ainda mais a sua ansiedade sobre suas incansáveis horas de estudos, mas como sempre tudo estava dentro do esperado. Tudo sempre estava dentro do seu controle, por isso ela se dava tão bem com a rotina atarefada. Nunca foi um peso carregar sozinha o trabalho de ser representante da turma, mesmo que esse fardo fosse compartilhado, não se importava nem um pouco de tomar todas as decisões sozinha, aliás até preferia que fosse assim, digamos que seu parceiro não era dos melhores.

Gustavo era um problema em sua vida, sempre foi um completo peso morto em seu dia a dia. Infelizmente tiveram a infelicidade de se conhecer no jardim da infância os unindo em uma vida de intermináveis discussões e brigas. Definitivamente não eram amigos, nunca se quer chegaram a ter uma conversa amigável que não tenha terminado em um caos. As diferenças entre os dois eram gritantes, simplesmente impossíveis de se reverter, por mais que Leticia tentasse não conseguia ignorá-lo por completo, parecia que ele era responsável por um terrível gatilho em seu cérebro que sempre se manifestava de forma negativa quando ouvia sua voz.

Ser representante de classe sempre foi um trabalho exclusivo de Leticia, todos da sala sempre votaram nela em suas campanhas de eleição, exatamente por sempre ter as melhores ideias e por ser extremamente organizada, além de ser a melhor aluna com as notas mais altas da turma, isso dava uma credibilidade inacreditável perante seus colegas. Nunca ouve nenhuma concorrência, sempre manteve sua liderança intacta até o último ano onde Gustavo decidiu deixar de ser completamente inútil se metendo a se candidatar para ao cargo de representante. As suas intenções obviamente não tinham nada a ver com as obrigações do cargo e sim com as novas preocupações que ser representante da turma no último ano tinham, basicamente deveriam decidir todo o destino da turma em relação a formatura.

Pensando nisso se candidatou na primeira oportunidade que teve, com a sua popularidade instantânea logo abalou os votos de Leticia transformando a sua campanha sempre perfeita em uma luta de egos e brigas, fazendo com que o Diretor tomasse a decisão de cancelar a campanha os obrigando a dividir o cargo. Como era de se esperar Gustavo não levou a sério as funções do cargo se esquivando de qualquer assunto que não estivesse relacionado a formatura.

A verdade é que nada daquilo importava realmente para ele, como não era um aluno exemplar só queria terminar aquele infortúnio da escola com chave de ouro com uma bela viagem de formatura e a diversão de todos os eventos que envolviam o último ano. Tinha certeza que Leticia não saberia como planejar decentemente nada relacionado a diversão, ela não tinha nem a popularidade necessária e muito menos a vivência para tomar decisões tão importantes como o local da viagem de formatura. Seu maior objetivo foi impedir que ela destruísse a diversão os levando a uma viagem completamente chata em alguma cidade histórica com museus e bons pontos de foto, todo mundo sabia que não era isso que todos estavam esperando da última viagem juntos.

Tirando que irritá-la também era um grande benefício do cargo compartilhado, ele sempre procurava maneiras de causar as discussões, parecia que tinha uma necessidade de arrumar motivos para iniciar uma briga. Leticia era tão inflamada que era muito fácil tirá-la do sério, a sua falta de paciência e mania por organização a deixavam um alvo fácil para as provocações infantis de Gustavo. Era simplesmente divertido a dinâmica que compartilhavam, mesmo contra a vontade de Leticia ele a considerava como uma amiga, afinal se conheciam a muitos anos para simplesmente ignorar o fato de que faziam parte da vida um do outro.

Seria possível que as diferenças os unissem em uma virada louca do destino? Poderiam eles se tornarem algo a mais do que inimigos declarados? Como já venho dizendo desde o começo o acaso ainda é um grande mistério...

Nada é por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora