Capítulo 10

37 8 8
                                    

 Gustavo

Esfreguei os olhos duas vezes forçando até demais as minhas pálpebras, meu cérebro estava literalmente fritando dentro da minha cabeça, como em um milhão de possibilidades Leticia veio parar aqui? Olhei para os dois lados no corredor ainda procurando uma câmera escondida, aquilo bem que poderia ser uma pegadinha do Silvio Santos. Estávamos mais sozinhos naquele corredor do que o Tom Hanks em Náufrago, o silêncio invadia a minha alma de uma forma tão assustadora que nem mesmo os carpetes de veludo daquele hotel seriam capazes de abafar o som do vazio.

--O que você está fazendo aqui? -- Repetiu a pergunta quebrando os tensos minutos de completo silêncio.

Pigarrei tentando limpar o nó sufocante que prendia minha garganta – Estou de férias, minha mãe resolveu que esse seria o destino desse ano...

--Isso só pode ser um pesadelo... -- Murmurou colocando as duas mãos na cabeça.

--Que legal, nós também escolhemos Nova York como a viagem da família desse ano. -- Joca abriu um sorriso me lembrando automaticamente as razões pelas quais eu o achava muito mais legal que a irmã -- Mamãe fechou um pacote de viagens na agência do shopping...

Estava com medo de dizer em voz alta e simplesmente confirmar mais uma coincidência infeliz do destino, murmurei torcendo para que eles não tivessem me escutado – Agência Sonhos de Mel do Barra Shopping?

--Como você sabe? -- Joca perguntou fechando o tempo em minha direção.

Leticia soltou um grunhido dolorido – Isso definitivamente é um pesadelo!

--Moramos no mesmo bairro é meio natural que a gente frequente os mesmos lugares, então isso de termos escolhido a mesma agência foi pura coincidência... -- Conclui ainda perdido nas teorias malucas que minha mente formava.

Leticia arregalou os olhos -- Será que nossas mães combinaram essa palhaçada?

--E por que elas iam fazer uma coisa dessas?

--Sei lá Gustavo! Mães fazem essas coisas o tempo todo... -- Esbravejou pegando o celular rispidamente do bolso da jaqueta vermelha – Que ótimo estou sem nenhum sinal aqui...

Aproveitei a deixa, fazia tanto tempo que não nos falávamos que mal tinha percebido como sentia falta de seus chiliques, passei um braço pelo seu ombro a forçando a caminhar ao meu lado – Sabe Lety essa pode ser a oportunidade perfeita para você voltar a conversar comigo, fazermos as pazes quem sabe?

--Você é um ridículo mesmo! -- Tirando rispidamente meu braço do seu ombro se afastou alguns passos me lançando aquele seu olhar de nojo característico que só a Leticia sabe fazer -- Se está pensando que essa... "situação" ... que estamos envolvidos muda alguma coisa entre a gente você está muito enganado...

--Não acha que precisamos de uma trégua? -- Disse a seguindo até o hall do elevador – Olha só a situação Lety, você e eu nos ignorando por longas duas semanas no meio de uma viagem incrível de férias em Nova York. Imagina o drama que vai ser?

--Até que o ponto de vista dele faz sentido Le...

--Calado Joca!

Segurei a porta do elevador impedindo que descessem, eu ainda tinha mais um ponto a adicionar a minha lista de motivos – E outra Lety é Natal, seria muito maldoso da sua parte guardar rancor nessa época do ano... o Papai Noel vai com certeza te colocar na lista dos malcriados...

Leticia revirou os olhos apertando o botão do térreo repetidas vezes, entrei no elevador que fechou a porta segundos depois – Podemos fazer um acordo então...

Nada é por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora