Gustavo
Era só bater na porta, respirei fundo encostando meu punho na superfície de madeira branca do quarto, desisti voltando a andar de um lado para outro no carpete do corredor. Peguei meu celular na esperança de ver uma notificação de mensagem mais nada, ela nem sequer tinha recebido as minhas mensagens. Respirei fundo tomando coragem para acabar com todo aquele sofrimento em uma batida firme.
Ouvi uma movimentação no quarto, depois de alguns segundos torturantes Joca abriu a porta – Em que posso ajudar?
--Sua irmã está por aí? -- Perguntei esticando meu corpo para conseguir ver dentro do quarto.
Joca fechou um pouco a porta acabando com a minha investigação -- Ela não está...
--Pode me dizer onde ela foi?
--Não...
Precisei respirar fundo para não ter um surto com a cara de deboche que Joca me encarava, sempre pensei que ele gostasse de mim -- Tá... você pode ao menos dizer que procurei por ela?
--Por que você mesmo não diz da próxima vez que encontrar com a Leticia? -- Revirando os olhos disse antes de fechar a porta bem na minha cara -- Não sou pombo correio.
Sai enfurecido pelo corredor pegando o elevador com todo o ódio que não fui capaz de esconder, porque era tão difícil responder uma simples mensagem eu só queria uma chance de poder me explicar. As portas do elevador se abriram em meio ao caos do saguão movimentado, não pensei duas vezes quando atravessei o mar de pessoas e malas de viagem em direção as portas giratórias, precisava de ar puro, mandei uma mensagem simples para minha mãe me livrando do dia de compras jogando um caô de que iria até as lojas de quadrinhos que tanto enchi o saco para colocar no nosso roteiro.
Não tinha um lugar específico em mente, só precisava desafogar os meus pensamentos. A lembrança de seus lábios ainda continuava a atormentar os meus sentidos, meu coração sentia ridiculamente a sua falta, me fazendo enxergá-la em todos os lugares como se sua imagem me perseguisse quebrando cada pedacinho que ainda se mantinha intacto dentro do meu peito.
Caminhei no sentido da Times Square ignorando o frio que cortava as minhas bochechas, a cidade ainda continuava naquele clima natalino irritante, depois do desastre na festa de ontem não sei se o natal ainda continua sendo o meu feriado favorito. Eu ainda não consigo entender qual foi o momento em que as coisas deram tão errado, pensei que tivesse a situação sob controle.
Planejei cada momento minunciosamente pensando em surpreendê-la com um encontro digno de um filme de romance e mesmo assim não foi suficiente. Olha que eu sou um cara super desapegado quando o assunto é romance, nunca cheguei a esse nível com nenhuma garota, nem mesmo com a Nicoly que foi de longe o meu "relacionamento" mais longo. Sempre achei bem brega essas demonstrações de amor em público, nunca botei fé que as pessoas realmente fossem capazes de fazer todas essas loucuras por livre espontânea vontade.
Agora olha só pra mim, sentado na escadaria vermelha da Times Square comendo um cachorro quente horrível sofrendo por uma garota que claramente não dá a mínima para nenhum dos meus sentimentos, tá aí um plot twist que eu nunca esperei que viveria na minha vida...
O que mais eu poderia fazer para enfim convencer a Leticia de que nós poderíamos ter um futuro? As palavras de Kira ainda me assombravam me fazendo acreditar que tudo aquilo só tinha dado errado por minha culpa, nunca pensei que minha reputação um dia fosse me prejudicar tanto, se eu pudesse apagar do histórico da minha vida todas as vezes que eu tomei decisões erradas só para provar coisas para pessoas que hoje não fazem a menor diferença eu pagaria pelo preço que fosse.
Respirei fundo deixando meus pulmões absorverem o ar gelado, peguei meu celular do bolso na esperança de ver alguma notificação de mensagem e nenhum sinal de vida. Eu podia seguir em frente com essa história, afinal não seria tão difícil assim superar tudo que aconteceu... quem eu estou querendo enganar?
--Eu sou um babaca... -- Murmurei pra mim mesmo.
Para melhorar ainda mais o meu dia um pedido de casamento começou a acontecer bem em frente aos meus olhos me obrigando a assistir aquela palhaçada, o cara foi tão supremo no ato de amor que só fazer o pedido no meio da Times Square com uma plateia imensa não foi suficiente ele precisou ainda da ajuda de um grupo de dançarinos da Broadway que fizeram quase um show ao ar livre.
Observando a cena percebi que no fim o amor é isso, a loucura de tentar o impossível só para arrancar um sorriso. Me levantei em um pulo da escadaria com o coração metralhando dolorosamente em meu peito, só tinha uma pessoa que poderia me ajudar no maior ato de loucura que eu estava prestes a cometer – Alô...? Kira sou eu o Gustavo... preciso muito de um grande favor...
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Nada é por acaso
RomanceLeticia é obcecada por organização e planejamento, enquanto Gustavo é o oposto deixando sua personalidade um tanto egocêntrica ser sempre o centro das atenções. Depois do desastre na viagem de formatura Leticia e Gustavo cortam relações de vez, mas...