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Nunca sabemos o que acontece por de trás das cortinas quando estão fechadas, aprendi isso da pior forma, mesmo com os gritos os seus vizinhos não vão te ajudar até que alguém saía em uma ambulância, então eles vão chorar para os policiais dizendo que não desconfiavam de nada, porquê eles nunca desconfiam.

Deslizei quase que em câmera lenta os óculos de sol para o topo da minha cabeça, para poder observar melhor o cenário do lado de fora do carro, me sentia enjoada, não sabia se era por causa das últimas duas horas sentada no banco do carona do Dodge Ram ou porque deveria ser a décima nona vez que repetia Jolene desde que saímos de Nova York.

"Eu posso escolher a próxima música?" pedi.

Patrícia, ou Tia Patty como eu costumava chamar havia assumido a minha depois de tudo, pacientemente ela esperou o meu ano escolar acabar e agora estávamos nos mudando de forma real oficial para Ipswich em Cape May, se eu falasse que aquela era a minha primeira escolha e que eu estava feliz naquele momento seria uma enorme mentira e eu não sou uma boa mentirosa, sou uma mentirosa horrível, então eu preferia apenas ficar em silêncio na maior parte do tempo.

"Claro querida" falou sorrindo "ali! Estamos entrando oficialmente em Cape May!"
"Uuuh!" falei em uma falsa animação, abrindo o porta cd’s.

Deslizei o olhar lentamente pelas às capas de plástico, vendo uma grande coletânea de música country até uma em especial me chamar a atenção, A Night of Opera, um clássico dos anos setenta que continha o arrange de uma das maiores e melhores bandas que Deus permitiu habitar o nosso grande planeta terra, Queen.

Quando Jolene terminou de tocar pela sei lá quantas vezes eu tirei o cd, pondo o do Queen em seguida, pulando algumas músicas até chegar naquela que fazia todos os pelos do meu corpo se arrepiar e a minha respiração falhar por alguns segundos, como uma menina da minha classe costumava dizer, aquilo era melhor do que ser chupada, claro que eu nunca havia sido, mas se ela havia dito, talvez fosse verdade.

Respirei fundo, balançando a minha perna devagar ao ritmo da música com os olhos fixos do lado de fora do carro, uma cabeça apoiada na janela e  aquela sensação, de que estava escutando a melhor coisa já escrita no Universo, Freddie Mercury era um gênio, arriscava dizer.

Ipswich era clichê, essa era a palavra que eu poderia definir perfeitamente o que essa cidade é ou pelo menos o que o subúrbio de Ipswich é, casas brancas com pequenos detalhes em tons pastéis, jardins perfeitamente cuidados, cercas brancas, crianças brincado na rua, era estranho.

"Ali é a casa dos Woodworth, eu e a Brenda dividimos os plantões, ela tem um rapazinho da sua idade, Dale, se não me engano ele tem dezesseis ou quinze" Patty começou a falar "acho que vocês podem se dar bem, ele é um bom rapaz, anda com uma má influência ali, outra aqui, mas ele é um bom rapaz, vocês brincavam nas férias, quando você vinha aqui, consegue se lembrar?"
"Não Tia, desculpa." murmurei, sem prestar muita atenção.

Patty estacionou o carro três casas depois da casa dos Woodworth, o manobrando para frente da garagem, com um enorme sorriso no rosto. Me lembrava brevemente de como era a casa, acho que a última vez que eu havia estado lá fazia quase cinco anos ou quatro.

Mordi o lábio inferior, descendo do carro, observando a casa de dois andares, que tinha todos os detalhes possíveis pintados de um amarelo pastel, com rosas amarelas plantadas do lado de fora da casa, com pequenos arbustos podados, tudo organizado perfeitamente em meio às paredes brancas.

"Patty!" chamaram "Estava te esperando ansiosa, perdeu tanta coisa enquanto estava fora."
"Sabe como às coisas são Sheila, quando a família chama vamos em um piscar de olhos" Patty falou, em um de piada "quero saber de todas às fofocas possíveis."
"Essa é a (SeuNome)?" perguntou, se virando para mim.

1984Onde histórias criam vida. Descubra agora