dois.

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"Tem certeza que você vai ficar bem?"
"Absoluta" falei firme "pode ir trabalhar, eu vou ficar bem."

Patty me encarou, com aqueles seus olhos enormes, antes de me puxar para um abraço, me afundando contra os seus enormes seios me fazendo perder o ar por alguns segundos, dando vários tapinhas em seu ombro de forma desesperada.

"Deixei uma lista de telefones colada na geladeira" avisou "o primeiro é do Wayne MacKay, ele é policial, mora a três casas da nossa, pode ligar pra ele se acontecer alguma coisa, fique com às portas trancadas e não abra para estranhos."
"Não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem" falei tentando tranquilizar a mulher "vai ficar tudo bem Tia, pode ir trabalhar em paz."
"Também deixei dinheiro debaixo do microondas, pede uma pizza" falou ignorando o meu comentário anterior "vou sentir saudades queridinha."
"Eu também vou Titia, agora vai, senão você vai se atrasar para o plantão."

Patty assentiu, indo em direção do carro enquanto eu me sentava na pequena escadinha que havia na parte da frente da casa. Observei silenciosamente às crianças que corriam pela rua animadas e o carro de Patty sumir da minha visão, antes de puxar um maço de cigarros do bolso de trás do short.

Coloquei o cigarro na boca e peguei o isqueiro branco, que tinha uma coroa desenhada com esmalte preto na parte da frente e acendi o cigarro, puxando toda a fumaça tóxica para dentro dos meus pulmões.

Eu não costumava fumar, claro que quase noventa e cinco porcento dos adolescentes ou jovens adultos da década de oitenta fumam, mas não era uma coisa que eu costumava fazer, mas depois que descobri que jovens com um passado traumático tem tendências estranhas a usarem coisas que vão diminuir a qualidade de vida, percebi que cocaína era caro demais e metanfetamina iria me matar antes dos vinte e eu ainda não tinha idade para comprar álcool, então decidi abraçar o velho cigarro, apenas.

"Isso dá força pro câncer, sabia?" Curtis falou, se sentando ao meu lado na escada.
"Eu ainda não tenho câncer, então eu ainda não estou alimentando ele, certo?" falei, erguendo o cigarro para ele.

Observei o loiro erguer o cigarro e dar uma pequena puxada, antes de começar a tossir repetidamente, me fazendo dar alguns tapinhas de leve nas suas costas, enquanto o mesmo puxava novamente a fumaça.

"Pra sua primeira vez até que você foi muito bem." falei rindo.
"Quem disse que foi a minha primeira vez?" rebateu, me fazendo rir mais ainda "O que você vai fazer agora?"
"Acho que merda nenhuma, torcer pra passar um filme de terror na televisão, porque?" perguntei breve.
"Estou indo pra casa da árvore do Eats, quer ir junto?"
"Claro, só preciso fechar a casa e pegar um casaco, me espera?"

Curtis assentiu e eu me levantei, deixando o cigarro com ele e indo para dentro de casa. Fui em direção do meu quarto, vendo às roupas ainda espalhadas por ali, não iria arrumar nem tão cedo.

Peguei um casaco de moletom simples, frente única, sem bolsos ou zíper e vesti, antes de descer, fechando a porta dos fundos e a da frente, vendo Curtis que terminava de fumar o cigarro naquele momento, afundando ele contra o chão e levando para dentro de uma das lixeiras.

"Estou pronta" avisei sorrindo, indo em direção dele "então, quem é Eats?"
"É o Tommy, o sobrenome dele é Eaton" explicou "geralmente ele curte o apelido, mas acho que é porque você é uma menina bonita, então ele ficou meio sem graça."
"Isso quer dizer que vocês me acham bonita?" falei, vendo o menino ficar com às bochechas vermelhas "Não precisa ficar vermelho, eu sou bonita mesmo."
"Realmente, você é, deve ter vários namorados de onde você veio." falei sem graça.
"Não, os meninos de onde eu venho são uns babacas" falei estalando a língua no céu da boca "eles só pensam em uma coisa."
"No que?" perguntou curioso.

1984Onde histórias criam vida. Descubra agora