nove.

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Parei de andar quase trinta minutos depois, estava no parque de Ipswich, que estava vazio devido o horário, ficar irritada me deixava burra, o que me acabava levando ao um parque fantasma às onze e meia da noite.

Fui em direção de um dos bancos me sentando em silêncio, sentia que tudo estava uma confusão, estava tão irritada por ter ido morar em Ipswich, por Tommy, pelos os meus pais, era tudo tão... tão injusto naquele momento.

"Para com isso, para de ser lo..."
"(SeuNome) Alvez é você?"

Seria cômico se não fosse trágico. Ergui o meu olhar em uma quase câmera lenta, encarando o homem a minha frente. Senti a minha garganta fechar e a minha boca ficar seca.

"S-senhor MacKay" murmurei "o que você está fazendo aqui?"

O homem me encarou por alguns segundos, antes de abrir um sorriso, tocando o meu ombro esquerdo de leve, fazendo uma dormência se instalar no local.

"Costumo correr aqui" explicou "mais e você, está meio tarde, não?"
"Eu me perdi." falei, não era uma total mentira.
"Se perdeu?" perguntou franzino às sobrancelhas.
"É, estávamos brincando de pique - esconde e eu acho que fui longe demais" falei confusa "meu senso de direção é um pouco..."
"Complicado, hein?" falou sorrindo "E você está meio longe de casa, vem comigo, eu te dou uma carona."
"Não precisa." falei em um murmúrio.
"Claro que precisa, sua tia me assassinaria se soubesse que eu deixei você sozinha aqui, pode confiar em mim."

Pisquei os olhos algumas vezes, sentindo a mão de MacKay pousar no meu ombro esquerdo, enquanto ele me guiava pelo o parque em silêncio.

Sabe quando as pessoas falam que antes de morrer, elas viam toda a sua vida bem diante dos seus olhos? E toda essa merda?

Bem, isso é uma mentira, uma grande mentira fodida, porque eu não estou vendo a minha vida diante dos meus olhos, eu estou tremendo com o meu coração batendo ao pé do meu ouvido sem que eu possa ao menos argumentar nesse momento, até então não tinha nenhum motivo para sair gritando e correndo e se eu tentasse seria estranho, porque ele é um policial.

Entrei no carro no banco do carona, tentando me manter passiva nesse momento, mas tinha quase certeza que ele saía apé de casa quando saía para correr. Coloquei a mochila no meu colo, observando de rabo de olho MacKay ligar o carro, fazendo o rádio lugar junto e a voz do Michael Jackson em Thriller ecoar pelo carro, era irônico, não?

"(SeuApelido), por favor me responde..."
"Acho que tem alguém tentando falar com você aí." falou divertido.

Respirei fundo abrindo a mochila e pegando o Walkie-talkie, sentindo o nó se intensificar na minha garganta e às minhas mãos tremerem a medida que eu apertava o botão para iniciar a comunicação.

"Tommy..." falei baixo.
"Finalmente, te procurei em todos os lugares" falou rapidamente "me fala onde você está que eu vou te buscar."
"Não precisa me buscar Tommy, o Senhor MacKay..." comecei.
"Por favor, me chame só de Wayne." interrompeu.
"Claro, claro, Wayne está me dando uma carona até em casa." falei com a voz trêmula.
"Eu estou te esperando na porta da sua casa" avisou "só para checar."

Fechei os olhos por alguns segundos, sentindo os meus olhos transbordarem, não estava em uma posição favorável, mesmo que a vitimologia do assassino de Cape May fosse meninos, ele havia matado duas, uma mulher adulta e uma menina que não tinha mais do que dez anos e eu era uma presa fácil naquele momento.

"Só para checar." murmurei, antes de abaixar o Walkie-talkie.

O enfiei na mochila, mesmo ligado, se acontecesse alguma coisa comigo Tommy iria saber e saberia quem tinha sido o culpado.

"Wow, me desculpe" falou, me olhando rapidamente "é que você me lembra tanto a sua mãe, foi uma tragédia o que aconteceu com ela, não tive oportunidade de falar mais, meus sentimentos."
"Está tudo bem Senh... Wayne."
"Sabia que estudamos juntos no Ensino Médio?" falou sorrindo "Claro que ela era alguns anos mais velha do que eu, estava no terceiro ano quando eu entrei, mas ela sempre foi a melhor, muito amorosa, o Mundo não é justo com pessoas boas, você é uma pessoa boa (SeuNome)."

Sentia os meus olhos transbordarem de lágrimas, assim como sentia o peso nas palavras de MacKay, o assunto era recente e me machucava de uma forma que eu jamais havia sido machucada na vida, não sabia como agir, então apenas fiquei em silêncio.

"Lembro que saíamos para zoar no píer, vocês, adolescentes, ainda fazem isso?" perguntou animado.
"Ainda não tive a oportunidade" falei breve "mais pretendo ir."
"Vá no festival, leve o seu amigo, Tommy, um bom rapaz com uma família quebrada" falou em um tom de pesar "ele precisa tomar cuidado, senão vai acabar como o bêbado do pai ou o perdido do irmão mais velho e ele tem futuro, eu espero, mas sabe, vocês estão nessa época, de errar e errar, te vi quando era apenas uma criança (SeuNome) e agora você é quase uma adulta, fico com vontade de manter vocês assim para sempre, sem os problemas da vida adulta, só sendo às crianças que eu vi crescendo."

Quando Wayne estacionou na frente da minha casa, senti como se fosse um elefante sendo tirado bem de cima do meu peito. Murmurei um "obrigada" e fui rapidamente em direção de Tommy, que estava sentado nas escadas, entrelacei os meus dedos aos do rapaz e o puxei em direção da casa, tentando enfiar a chave na fechadura.

Tommy pegou a chave da minha mão, abrindo a porta e a empurrando, me dando passagem. Entrei em passos pesados, tirando a carteira de cigarros do bolso de trás e me sentando na escada.

"Tranca a porta" pedi "pelo amor de Deus."
"O que aconteceu?" perguntou "Só consegui falar com você naquela hora, depois ficou um chiado estranho com a voz de vocês no fundo."
"Eu não sei definir Tommy, só que ele me passa uma sensação ruim" falei acendendo o cigarro "é quase como se ele estivesse esfregando na nossa cara que ele pode fazer o que quiser."
"Então, você acha que é mesmo ele? Que o MacKay é o assassino de Cape May?" perguntou, se sentando ao meu lado.
"Eu não acho Tommy, eu tenho certeza e isso que me assusta, porque não é mais uma brincadeira."

1984Onde histórias criam vida. Descubra agora