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°Any°

Tudo era muito novo. Eu estava conhecendo um ser que até então, não existia. Nada do que eu encontrei em Any se assemelhava com algo que eu já tenha visto em todos os meus anos de profissão.

Ela tinha traços humanos até que bem evidentes, mas ainda diferentes do que seria comum. Sua parte marinha, não tinha nenhuma semelhança com as espécies marinhas conhecidas pelo homem. Ao menos, eu consegui entender como Any sobrevivia debaixo d'água. Sua pele era totalmente adaptável a qualquer ecossistema.
Ela começou a surtar um pouco dentro do aquário, relatou algumas alucinações e uma vontade incontrolável de estar no mar. Tudo isso era culpa da Água.

Todos os contos que eu li sobre esse ser místico diziam que não havia maldade na Água. Ela apenas estava sobrevivendo, pois se Ela não se manter forte, não será capaz de suprir as necessidades básicas dos outros seres vivos. Mas porque Ela só tinha controle dos oceanos?

— Any? — a chamei e ela foi até o topo do aquário. — Por que a Água só é consciente no mar?

— Porque o oceano não é manipulado pelos humanos como os rios e demais fontes de água doce.

— Se os humanos tivessem controle de boa parte dos oceanos...

— Provavelmente, a Água não sobreviveria, já que não teria poder para recrutar sereias e mandá-las fazer seus devidos trabalhos. — parei para pensar. — Por favor, não tente encontrar uma forma de apagar a Água. Só existem seres vivos nesse planeta graças à Ela, por mais difícil que seja ter que admitir isso.

— Eu não vou "apagar" a Água. Só quero arrumar um jeito de tirar o controle dEla.

Eu ficava muito tempo preso naquele laboratório. Até Joalin já estava curiosa para saber sobre o que eu estava pesquisando, mas eu jamais contaria nada para ela. Joalin tinha muita influência e era uma grande defensora da ciência, certamente contataria o governo para cuidar da Any e eles jamais a tratariam tão bem quanto eu estou tratando.

Os dias passavam despercebidos, quando eu via, já tinha perdido uma semana ou duas. E a cada dia, ter que controlar a sanidade mental da Any se tornava uma tarefa insuportável. Era difícil lidar com uma sereia prestes a enlouquecer. Se eu não encontrasse um jeito de cortar a ligação dela com a Água, eu a perderia.

Num sábado de manhã, eu saí de casa no horário de sempre e fui até o oceanário. Quando entrei no laboratório, eu vi uma cena que me fez entrar em desespero. Meu irmão estava dentro do aquário, desacordado, enquanto Any o segurava para que seu corpo não boiasse. Ela o olhava obsessivamente.

— ANY! — eu gritei, subindo as escadas do aquário até estar no topo e mergulhar.

Nadei para perto dos dois e a empurrei, a afastando do meu irmão, quase afogado. Entornei um dos meus braços em volta de Noah e nadei para cima. Consegui sair do aquário e o puxei, o arrastei pela escada e com ele deitado no chão, comecei uma massagem cardíaca até que toda a água de seus pulmões fosse jogada para fora.

Ele tossiu um pouco e eu o ajudei a se sentar. Noah respirou fundo de maneira cansada e olhou para o aquário diretamente para a Any, que o encarava com todo o ódio que eu já vi em seu rosto. 

— Ela começou a cantar e eu só fui em direção à voz dela. — ele disse. — Quando saí do transe, já estava me afogando. Ainda bem que você chegou logo depois, se não eu estaria com o papai e a mamãe agora.

— Por que você veio pra cá? — perguntei depois de ficarmos de pé.

— Essa é a primeira coisa que me fala? Não está com ódio desse monstro por quase ter matado o seu irmão?

𝑨𝒍𝒕𝒐 𝑴𝒂𝒓 ᵇᵉᵃᵘᵃⁿʸ Onde histórias criam vida. Descubra agora