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°Josh°

Quando acordei pela manhã, sentia minha garganta queimar quase como se eu tivesse engolido dezenas de agulhas. Até beber água fazia doer.

Comecei a andar pelo iate procurando a Any. Talvez ela tenha ido fazer algum trabalho para a Água, então não me preocupei tanto, já que ela sempre sumia e voltava.

Como café da manhã, eu fiz apenas uma panqueca com um pouco de mel, mas acabei nem tendo forças para comer aquilo inteiro. Eu escarrava sangue a todo momento e nem queria imaginar o estado deplorável que com certeza a minha garganta se encontrava.

As horas foram passando e eu via que Any estava demorando demais para retornar. Esperei o dia inteiro e no fim de tarde, eu estava certo de que ela havia me deixado sozinho. Foi desesperador pensar que Any havia me deixado aqui.

Deitei no chão do convés, de olhos fechados, tomado por toda a dor corporal que eu sentia, se misturando com a minha frustração de ter perdido a única coisa que me restava. Eu só ia ficar aqui e morrer. Nada importava mais.

De longe, eu ouvi um barulho começando a se aproximar. Pareciam as hélices de um helicóptero. E de repente, pareceu mais de um.

Olhei para cima, onde três helicópteros estavam pairados sobre o iate. Fiquei de pé olhando homens fardados descerem por cordas até chegar em mim. Any  fez a principal coisa que eu disse para não fazer: pedir ajuda.

Sem dizer nada, eles enfiaram um colete de proteção em mim, depois usaram o gancho que ficava na parte da frente do colete para me prender em um deles. Foi muito rápido e quando me dei conta, já estava sendo puxado por uma das cordas em direção a um dos helicópteros.

E eu dei de cara com Noah, vestido em seu uniforme naval. Sentei no banco de frente para ele e esperei que ele dissesse alguma frase ácida sobre como eu era idiota por não ter aceitado a ajuda da Any antes.

— Fico aliviado que esteja bem. — franzi a testa, sem acreditar que algo sentimental saiu da boca do meu irmão. — Sinto muito pela Becky. — colocou a mão sobre a minha perna. — Ela vai fazer falta.

— É... — eu ia dizer alguma coisa, mas tornei a tossir.

O médico que estava ao meu lado começou a me examinar, usando uma pequena lanterna para verificar meus olhos e a minha garganta.

— Está com sinais de desidratação intensa. — ele disse. — Mais um dia e nós encontraríamos o seu cadáver. — de uma mochila, ele tirou uma garrafa térmica e me entregou. Era água, pura e fria, diferente da água do iate que havia ficado quente e terrosa. Sequei pelo menos três garrafas daquelas.

— Por que não veio pelo mar? — perguntei, com a voz falha.

— Helicópteros são mais rápidos, além disso, eu recebi uma ameaça e não sei se pretendo navegar por esses dias. — riu sem jeito.

— Ela não faria isso. — afirmei.

— Ela faria isso com qualquer um, menos com você. Viu os olhos dela, não tem uma gota de compaixão ali.

— Acredite, a aparência dela estava muito mais selvagem do que o que você viu. Com a convivência comigo, ela começou a mudar... — coloquei as mãos na cabeça. — Eu achei que a alma dela estava voltando...

— Pelo que ela disse, não precisa de alma para amar você, então creio que a alma dela não estava voltando como você achou. — o doutor que ouvia tudo, olhava para nós dois com a testa franzida. — É um código de irmãos, um jeito de conversar sem que as pessoas ao nosso redor saibam do que estamos falando. — Noah mentiu e o médico pareceu aceitar aquela explicação.

𝑨𝒍𝒕𝒐 𝑴𝒂𝒓 ᵇᵉᵃᵘᵃⁿʸ Onde histórias criam vida. Descubra agora