Capítulo 6: O servo

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Titi sentiu uma mão grande cobrindo a sua coxa. Quando abriu os olhos, deu de cara com aquele olhar que tanto a cativava. De companhia, vinham o sorriso e a covinha irresistível. Quando ela tentou levantar o braço para alcançar o rosto amado do homem à sua frente, se sentiu amarrada e sem conseguir se mover. A imagem do detetive foi vagarosamente desaparecendo diante dos seus próprios olhos até sobrar apenas a escuridão. Acordou.

"Oi, boneca!", uma voz arrastada disse ao seu lado.

Titi abriu os olhos com dificuldade e levantou a cabeça. O esforço fez a sua cabeça latejar. Na verdade, sentia todo o corpo dolorido e os punhos unidos por uma algema começavam a arder nos pontos de contato entre pele e metal. Mesmo assim, virou a cabeça para o lado do motorista e abriu a boca em espanto: o assassino procurado por Ohm, o mesmo que havia invadido seu apartamento e matado sua amiga e seu cachorrinho, estava dirigindo o carro.

"Dormiu bem, amor?", Titi ouviu o homem perguntar sem desviar os olhos da estrada. A única coisa que indicava que ela era a destinatária daquela pergunta era o suave aperto que o homem deu na sua coxa nua. Ainda vestia a roupa horrenda que ele havia colocado nela após o sequestro.

Aquele toque indesejado, somado ao que conseguia se lembrar de pouco antes de perder a consciência, provocavam ânsia em Titi que mal conseguia se controlar. Numa tentativa que sabia ter grandes chances de ser frustrada dada a velocidade com que o carro seguia, ela alcançou a porta e tentou abri-la.

Notando a movimentação ao seu lado, o homem tirou a mão da coxa de Titi e deu um tapa no rosto dela. O som parecia ecoar dentro do veículo e aumentava o desespero que ela sentia.

"Não tente nenhuma gracinha! Eu poupei a sua vida pensando que você fosse diferente, mas caso não atenda a minha expectativa, pode ter certeza de que eu não vou pensar duas vezes antes de fazer o mesmo que já fiz com as outras!", o homem ameaçou.

A fala do homem não fazia qualquer sentido na sua mente e ela virou o rosto na direção da janela para tentar reconhecer o caminho pelo qual seguiam. Não demorou muito e apareceu na beira da estrada uma placa marcando a fronteira das províncias: haviam chegado a Lamphun.

Algum tempo se passou e depois de elaborar uma teoria com as poucas informações sobre as quais tinha conhecimento, Titi resolveu arriscar a falar com o homem:

"O que você tá fazendo? Pra onde tá me levando?"

"Pra onde você quiser, princesa! Ordene e seu servo terá prazer em oferecer tudo que desejar!", o homem disse com um sorriso.

Ouvir o tratamento que Ohm usava com tanto carinho saindo da boca daquele criminoso repugnante doía em Titi tanto quanto um dos tapas, socos ou chutes que ele havia dado nela. Mas se todas as temporadas de Criminal Minds que ela lembrava de ter assistido fizessem sentido na vida real, o cara era tão maluco que parecia ter se apaixonado pela própria vítima. Ainda com dúvidas sobre o que havia descoberto, resolveu testar sua intuição.

"Qual o seu nome?", perguntou hesitante, suor se formando na sua testa e debaixo das axilas.

"Mok. Mas pode me chamar de seu servo, princesa.", o homem respondeu sem hesitar e lançando um rápido olhar na sua direção antes de voltar a atenção para a pista, com o que Titi se sentiu aliviada, pois algo naqueles olhos inspirava nela medo por si só de uma forma irracional e que a fazia se sentir congelada no próprio lugar. Inclusive, se sentia pior ainda por causa do cheiro das roupas e que saía do seu próprio corpo. Parecia que haviam passado alguns dias desde o seu sequestro e cada célula do seu corpo gritava por um banho e roupas limpas.

"E-então e-eu quero tomar um banho… servo!", Titi tentou usar todo o poder de persuasão que tinha, mas fechou os olhos já antecipando a punição física que poderia receber caso o homem pensasse que ela tinha passado de algum limite.

A princesa e o detetiveOnde histórias criam vida. Descubra agora