Capítulo 3: O castelo

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Ohm estava correndo contra o tempo, mas não se sentia saindo do lugar, já que o trânsito tumultuado de Bangkok parecia tornar tudo ainda mais lento. Ligou a sirene e conseguiu ver algum espaço se abrindo no meio do mar de carros. Mesmo avançando a toda velocidade, se sentia dirigindo na lama, apenas patinando sem realizar grandes progressos.

"Ohm, preciso que você venha no endereço que vou te passar por mensagem. Outra vítima do serial killer que estamos investigando. Dessa vez, no apartamento da testemunha que entrevistamos alguns dias atrás.", era o que Boun havia falado. Por ter reconhecido o endereço e pelo conteúdo da ligação é que Ohm estava correndo tanto e tinha o pânico escrito no rosto. Não conseguia sequer imaginar algo acontecendo com Titi. Titi do rosto jovial e olhar esperto, cuja imagem voltava ao seu pensamento a cada segundo.

Chegando ao local, Ohm foi impedido de entrar por detrás da fita amarela porque, num erro de principiante, deixou suas emoções tomarem conta e acabou esquecendo a sua identificação profissional na Delegacia. Seu coração acelerava com o empilhamento da ansiedade por busca de respostas e os guardas novatos colocados para controle dos curiosos não estavam ajudando ao impedi-lo de entrar na cena do crime. 

"Boun!", Ohm gritou para chamar a atenção do colega no meio da multidão. Logo o alto homem loiro cutucou um dos guardas e liberou a sua passagem.

"O que aconteceu? Quem é a vítima? Como acharam o corpo?", Ohm perguntava sem dar chance ao amigo de longa data responder.

"Acharam outro corpo, 1 metro e 70 de altura e deformada como as anteriores, mas…", Boun foi interrompido porque do nada brotaram braços esguios roubando a atenção de Ohm ao se entrelaçarem na sua cintura.

O detetive reagiu instintivamente abraçando a pequena figura à sua frente, mas ao reconhecer Titi viva, tornou o aperto um pouco mais forte. Seu alívio evidente.

"O-Ohm… m-mataram… a-a…", Titi não conseguia completar a frase.

"Shh, eu sei. Mas você está a salvo. Você agora está comigo, ok?" Ohm assegurou Titi num tom que serviu de calmante aos calafrios que ela sentia.

Enquanto 2 guardas orientados por Ohm iam até o quarto de Titi para pegar algumas roupas e objetos pessoais, o detetive ouvia o relatório dos legistas. Confirmado o padrão das demais vítimas, o único ponto estranho era que esta foi a primeira vez que o criminoso atacou alguém dentro do próprio apartamento. Em geral, ele torturava e matava em um lugar que eles não haviam encontrado ainda e despejava o corpo em outro, mas de todo modo, eram sempre lugares públicos e sem relação com a vítima.

Outro ponto que chamava atenção é que, além de não ser reconhecido por nenhum dos moradores do prédio, no geral, pessoas com vidas tão escusas que sequer faziam questão em reparar neste tipo de detalhe justamente para reduzir seu envolvimento com a Polícia, havia uma vítima acidental. O serial killer havia matado Tawan, o cachorro de Titi, que estava no apartamento na hora do crime.

Mesmo sem ter tanto tempo em mãos, o homem arranjou um meio de dominar Candie, matá-la e ao pequeno Tawan. No caso da mulher, o procedimento incluiu a remoção das partes do corpo tal qual foi feito com as demais vítimas. Quanto ao animal, este também fora brutalmente agredido: tinha as costelas esmagadas, seu pêlo macio ainda mostrando a marca do sapato impressa, e o olho perfurado pelo mesmo bisturi usado para cortar a mulher. Sem digitais, sem testemunhas. Aliás, os vizinhos do apartamento no final do corredor ouviram um barulho abafado de grito, mas acharam que eram apenas os ruídos naturais da atividade que as moradoras do apartamento exerciam. 

Somando as informações em mãos, isto é, o fato daquele ser o apartamento que Titi dividia com uma colega de profissão e a morte de Tawan, tudo se tornava mais óbvio. O criminoso já a havia identificado, tinha raiva e estava atrás dela.

A princesa e o detetiveOnde histórias criam vida. Descubra agora