Sem respirar - Prólogo.

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Merda, merda e merda!

Já começamos assim, tudo desmoronando e dando errado... Minha única munição é mais inútil que esse vestido horrendo, correr rápido com ele é como beber vodkca pura pela primeira vez e tentar não fazer careta.

Sinto as gramas do jardim do Palace cortarem meus pés descalços, molhados pela fina chuva que recai sobre nós, sinto frio, a noite estava fria, o céu fechado, sem estrelas, e eu correndo, fugindo deles.

Colocar no meu relatório que descobriram o meu disfarce perfeito de acompanhante francesa seria vergonhoso, o papel era ótimo para mim, contudo o ápice da vergonha viria ao ser velada com o meu belo rosto deformado pelas balas de prata torneada que carregavam as armas dos membros da Gangue do Daniel, aqueles olhos verdes assassinos acariciavam a minha pele mais cedo, era o sinal de que essa noite seria a minha última respirando.

Encho meus pulmões de ar e solto em uma arfada forte e alta, o portão estava mais a frente, logo estaria bem longe dessa merda toda! Em situações como essa, eu tentaria vence-los com o meu carisma em uma ótima conversa enganadora, mas com dez homens atrás de mim, determinados a me entregarem com vida ou sem ao seu Chefe, seria impossível.

Ouço ainda a agitação que fica para trás, as pessoas ansiosas para saber o que estava acontecendo, as labaredas, os murmúrios e vozes histéricas das jovens mulheres, não as culpo, queriam apenas barganhar joias valiosas em um leilão clandestino destinado para a alta sociedade de Vérnia, ora, se não fosse por mim seus desejos até poderiam ser atendidos.

Um estouro atrás de mim, tiro, não apenas um, três. Estão mirando as cegas, não importa se a minha cabeça explodir nessa perseguição.

- Merda! – Me impulsiono ao chão em um amortecedor, posso sentir os projeteis passarem a cima cortando a chuva que engrossa. Ainda no solo, me arrasto até a estrada central que leva ao portão. Antes de levantar-me, olho ao redor, três na direita, três a diagonal e um atrás, armados e com lanternas, não vejo se há mais homens, isso é bom.

O portão de três metros ornamentado de forma única estava ao meu lado, agora agachada com as costas nos grandes blocos de concreto, eu o observo, trancado, não seria tão fácil claro. Os muros tinham cercas elétricas, impossível a passagem por cima.

É, essa era a minha única saída...

- Vamos lá vadia, você já pulou muitas cercas... – Meus sussurros se perdem ao som dos trovões que cortam o céu. Saio do ponto cego, e segurando firme as grades do portão eu me impulsiono para escala-lo.
O vestido se rasga em uma fenda quando me movo para colocar um dos meus pés no adorno circular mais acima, rapidamente eu já estou do outro lado. Antes que eu possa aterrissar segura no chão, uma luz passa por mim, é tão rápido que não tenho tempo de reagir quando os homens da direita atiram na minha direção.

Suas vozes mais ao longe, abafadas, sinalizam que haviam me achado.

- Acertamos ela, a mulher está no portão central. Repito, todos aqui imediatamente, não a deixem escapar!

Eu caí, me contorço no chão molhado, por mais habitual que eu esteja com essa dor, não me acostumo a ela, meu estomago se revira e eu seguro a respiração em reflexo, maldito escargot!

Sem mais cerimonias eu olho para os homens, perto, eles estão perto demais. Ao tentar levantar a dor aguda rasga a carne da minha perna, olho abaixo e lá está aquela maldita bala de prata torneada, minha garganta corta quando suprimo um grito de dor, não há o que fazer até sair desse maldito território.

Com a outra perna e a ajuda dos braços eu me lanço para ficar em pé, dor.

 Já do outro lado dos portões vejo mais a frente o estacionamento da Mansão.

Através dos meus olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora