De mãos atadas.

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A confiança e a desconfiança andam lado a lado. É quase com uma balança que em certas situações um pesa mais do que o outro.

Essa é uma das várias lições que aprendi ainda muito jovem... Mascare sua desconfiança ardilosamente, não há plano melhor do que ter alguém achando que tem a sua confiança. No final da história, se você fizer certo, não terá ninguém para medir seus atos, a não ser você mesmo.

O inimigo do meu inimigo é meu amigo, minha bunda!

As únicas pessoas em que eu confio não estão aqui, escutar e cooperar com o plano do tal Connor faz parte do meu plano. Olhando para o teto do quarto, já deitada, lembro-me das suas palavras, falando tão calmamente quase como apático às coisas. Seus olhos perfuravam um ponto especifico entre seus dedos manchados com o próprio sangue.

"O presidente do monastério está tramando algo grande com a Máfia local, estão importando armamento e um tipo de droga, além do contrabando de Pessoas."

Sento na cama e cruzo minhas pernas.

A máfia local de Vérnia, comandada por Daniel, o filho da puta mais procurado do território, ele não se envolve com ninguém, a não ser que lhe beneficie em algo. Seu estilo de batalha nunca foi indireto, todos sabem o que ele faz, mas... contrabandear pessoas? Essa é nova.

"No mesmo dia que o Cassino do Daniel foi atacado, o presidente que estava em viagem, decidiu voltar imediatamente para o monastério, ele disse que perdeu algo valioso, por isso está de volta nessa manhã... O Monastério de alguma forma fez uma aliança com a Máfia, os dois tem trabalhado juntos faz um bom tempo."

Meus impulsos me fazem pensar em apenas uma coisa.

Ele volta nessa manhã. Ele volta nessa manhã. Ele volta nessa manhã!

"...Eu só precisei pensar um pouco para ligar as peças do quebra-cabeça até chegar em você, era apenas uma suspeita, mas quando me atacou, eu tive certeza."

Merda! Fui com muita sede ao pote.

Lembro de ter investido nele justamente para não ser incomodada, que erro. Podia ver a satisfação no seu rosto em ver que estava certo sobre mim.

Eu compartilhei sobre o roubo do pendrive, mas falei que não tinha nada ver com que ele acabara de me dizer. Eu não iria ajuda-lo, não da maneira que ele queria e deixei claro, estávamos apenas trocando favores por necessidade.

"Só preciso que você me mostre o conteúdo do pendrive, e deixarei você ir, te ajudarei a sair daqui."

Era apenas uma suspeita, mas ele queria ver qual era o conteúdo e o porquê aparentava ser importante o suficiente para fazer o presidente voltar às pressas para essa pacata cidade, o alvoroço daquela noite não tinha sido por pouca coisa, e confesso que até eu estava ficando curiosa a respeito. Connor não disse mais nada sobre as suas intenções, e para mim não importava, o que ele me falara já era o suficiente, eu também não perguntei como ele sabia da minha posse do pendrive, mas mais tarde eu tiraria essa dúvida.

E assim finalizou nossa interação, voltei para o quarto acompanhada dele, os vigias não disseram nada e nem interferiram. Connor me deixou na porta e seguiu para outra ala do monastério, seu pescoço devidamente enfaixado. Senti orgulho pelo meu trabalho, mas me repreendi mentalmente, eu deveria ter sido mais cuidadosa pois, de todo modo ele não era confiável.

Agora pequenos feixes de luz ultrapassavam a cortina pesada e traziam uma manhã ensolarada, eu estava sozinha, esperando o tal aparelho telefônico que o Connor disse que traria esta manhã, iriamos ver juntos o que tinha no pendrive, e depois ele me certificaria que eu teria uma saída segura do Monastério.

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