Os Pesadelos

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Pesadelos são como mãos invisíveis que te enforcam aos poucos até que você desperte, ou morra. Quando fugi do Monastério, ainda menina, achei que não seria mais assombrada pelas grandes mãos do Pesadelo, mas eu estava enganada, elas sempre estavam ao meu lado. Elas estavam em tudo e em todos, mesmo que as ignorasse.

E agora não só estava sentindo a pressão no meu pescoço, como estava vendo as várias mãos...

No primeiro momento achávamos que aquele telefone velho que o Connor trouxe do monastério não seria compatível com a alta tecnologia que era feito aquela pequena placa de metal. Eu tomei as rédeas e usei o treinamento iniciante que há alguns anos o Claus havia me dado, após uma semana pegando no seu pé por ser "burra", e ele não fazer questão de me ensinar suas artimanhas.

Com um digitar aqui e um clicar ali passei pela criptografia do pendrive, com uma segurança tão simples, havia sido fácil demais acessar os documentos.

- Merda... – Frustrado Connor passa as mãos pelos cabelos.

Entrando na única pasta que não estava bloqueada, chamada "progresso", vários documentos de todos os formatos possíveis surgiram na pequena tela, Connor se aproxima de mim e eu levo o telefone para mais perto de nossos rostos. Em um impulso abro o único vídeo que havia ali no meio de tantas fotos.

O meu estomago logo se embrulha nos seus primeiros segundos.

- Você não tinha me dito que era contrabando de... Crianças.

- Eu não sabia. – Diz ele engasgado.

Os olhos de Connor arregalados de surpresa tal como os meus, transpareciam algo que eu não identificaria, algo indecifrável.

O vídeo nos mostrava dezenas de crianças de idades e aparências diferentes, elas estavam em um lamaçal rodeado por muros altos, estava chovendo, a qualidade de imagem era péssima, conseguíamos escutar os trovões, choros e gemidos de todas as direções do vídeo. As crianças não vestiam nada, estavam todas magras, pareciam tão frágeis ao ambiente que lhes rodeava. Em um pequeno freme eu pude ver um símbolo talhado em uma placa no muro, era um triângulo invertido constituído por uma rosa em cada extremidade, era algo que eu não conhecia, nunca tinha visto.

No decorrer do vídeo surgiram um estouro atras do outro, cada vez mais perto da câmera... um tiroteio teve início.

As crianças corriam como se fossem animais em época de caça, a chuva abafava seus gritos de socorro, mas eu ainda podia ouvi-los, como se estivesse lá com eles. A minha respiração para quando o ângulo da câmera muda nos mostrando vários corpos desfalecidos sobre a lama, homens ao longe recarregavam suas pistolas para começar a matança de novo, aquelas crianças não tinham chance alguma de viver. Ouvimos uma voz, dizendo coisas indecifráveis, e as crianças restantes, do qual ainda eram muitas, pouco a pouco começaram a levantar seus braços, elas foram agrupadas por um dos homens armado, e em uma fila foram levadas para algum lugar.

Os choros e gemidos não cessaram, a chuva não cessou... o que apenas teve fim naquele lugar foi a vida das crianças que se negaram a levantar seus braços. O vídeo automaticamente se fecha.

Tudo parecia um pesadelo.

Soltando o ar com os lábios trêmulos eu tento achar a calma, e ao olhar com cuidado o resto dos documentos, havia algo mais aterrorizador.

Eu identificava o lugar daquelas imagens... Era uma das antigas casas do Daniel, um temido lugar que já foi fechado a anos pela Agencia, ele servia como base de mais um de seus cartéis de drogas. Passo as imagens para o lado e cada uma era mais perturbadora que a outra, em contra ponto, não eram crianças e sim homens e mulheres dilacerados em outro dia chuvoso, que se misturavam com a terra molhada. Para a nossa infelicidade os rostos estavam borrados... Haviam tantas vítimas.

Através dos meus olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora