Assim que ocupou seu respectivo assento no avião, Bexley Radcliff inspirou fundo e colocou os fones de ouvido — a música alta abafando tudo em volta e a permitindo mergulhar, de vez e finalmente, nos próprios pensamentos. Nos pensamentos que vinha evitando com tanto afinco nos últimos tempos.
Nos pensamentos que a levavam diretamente até ele.
Fechando os olhos, a americana encostou a cabeça no estofado da poltrona e permitiu que a imagem de Jonah Marais se formasse sob suas pálpebras. Permitiu que as memórias daqueles quase três meses de verão que havia passado na companhia do rapaz a invadissem como um tsunami, trazendo consigo também todos os cheiros, gostos, sons e sensações, dos quais ela ainda se lembrava tão bem.
A primeira coisa que a atingiu foi o aroma de café fresco e pães recém-assados, como deveria ser. Cheiros familiares e apreciados por Bex desde que ela se entendia por gente. Cheiros que dominavam todo o ambiente da cafeteria onde ela e Jonah se viram e conversaram pela primeira vez.
A geminiana ainda se lembrava do meio sorriso que enfeitava o rosto do rapaz quando ele se aproximou da mesa em que ela estava sentada. Bex o encarou com uma pergunta silenciosa nos olhos castanhos enquanto tomava um pouco do café extragrande que havia pedido.
O mesmo que Marais tinha em mãos, fumegante.
— Posso me sentar com você? Acho que todas as outras mesas já estão ocupadas — foi o que ele escolheu dizer na época, sem rodeios. Passando os olhos pelo lugar e por todas as mesas e cadeiras claramente vazias, Bex arqueou uma sobrancelha em divertimento e deixou um riso baixo escapar.
— É claro. Que tipo de pessoa eu seria se fizesse você tomar todo esse café em pé, já que não tem mais nenhum lugar onde você possa se sentar? — entrou na brincadeira, ainda que nunca tivesse sido o tipo de pessoa que fazia aquilo. Havia alguma coisa em Los Angeles, entretanto, que a despertava uma vontade quase irrefreável de se soltar e ser uma versão completamente nova e diferente de si mesma.
Durante aquela tarde, entre cafés e cupcakes, Bex e Jonah se divertiram tanto conhecendo um ao outro e descobrindo incontáveis coisas em comum que, quando se deram conta, o céu da Cidade dos Anjos já escurecia do outro lado das grandes janelas de vidro que cercavam a cafeteria.
Bexley ainda se lembrava com exatidão do sorriso orgulhoso do rapaz ao dizer que fazia parte de uma banda, a pegando completamente de surpresa. Ainda se lembrava do interesse genuíno em seus olhos claros enquanto ela contava que havia ido para Los Angeles para fazer o curso de verão de literatura oferecido pela Universidade da Califórnia, animada por poder se aprofundar em ainda mais aspectos da graduação que fazia e, principalmente, por ter a chance de finalmente conhecer a cidade na qual sempre sonhara em morar.
Depois da cafeteria, a americana podia contar nos dedos os dias daquele verão em que não vira Jonah pessoalmente. Determinado a fazer com que a estadia de Bex em Los Angeles fosse memorável, como ele mesmo havia decretado que deveria ser, o rapaz não poupou esforços ao apresentá-la a todos os pontos mais importantes da cidade, sempre com uma história pessoal e engraçada sobre algo que vivera em cada um deles.
O programa favorito de Bexley, entretanto, era simplesmente passar a tarde na casa que Jonah dividia com os quatro amigos, fosse jogando conversa fora, disputando partidas barulhentas de videogame ou simplesmente acompanhando a produção das músicas que estariam no próximo álbum da banda.
Exatamente como tinha feito no seu último dia na Califórnia, uma semana depois do fim do curso de verão, quando, assim como a estação mais quente do ano, ela também se preparava para deixar a Cidade dos Anjos e voltar para casa.
O sol já começava a se pôr no horizonte quando eles saíram da piscina — onde haviam passado toda a tarde — e Jack, Corbyn, Daniel e Zach praticamente desapareceram como fumaça de forma nada sutil, cada um com uma desculpa mais esfarrapada do que a outra, exigindo de Bex até mesmo o autocontrole que ela não possuía para evitar soltar uma gargalhada alta.
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EFÊMERO | LIVRO DE CONTOS
Short StoryDerivado do termo grego "ephémeros", que significa "apenas por um dia", efêmero é o adjetivo usado para designar algo transitório ou temporário, que existe apenas brevemente. Efemeridade, entretanto, ao contrário do que acredita a filosofia, nem sem...