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"Tanto eu fiz por quem pouco fez que agora tanto faz."


Eu disse que tínhamos acabado, que não voltaria atrás, que estávamos decididos. Disse o que devia dizer para que parassem de me perguntar como eu me sentia; eu não queria sentir nada,quem dirá tudo o que se passa aqui dentro. Aliás, que não passa:tudo o que ficou enraizado nas memórias me ancorando ao passado.

 Tem dias em que eu realmente acho que te esqueci; faço planos,vou a festas, aceito aquele convite que estava evitando. Mas, aí,vejo um carro igual ao seu parado em frente à minha porta e desejo que tenha vindo se declarar, pedir outra chance. Mas, aí,ouço nossa música na rádio ou seu nome me acerta como uma flecha em qualquer conversa alheia. Mas, aí, alguém me diz quete viu em uma balada. Feliz.

 Superar não é tão fácil quanto eu imaginava. Mesmo tendo tudo fresquinho na cabeça, sabendo de cor e salteado os motivos pelos quais não voltar atrás. Não é uma questão de força, mas de disciplina. É sério. Eu listo diariamente as razões que me levaram a desistir. Decidir desistir não foi uma escolha minha,confesso. Você tomou a iniciativa, você ditou o fim. Eu apenas revidei por noites a fio na esperança de acender qualquer chama no teu peito que te fizesse lembrar de mim, de nós.

 Acontece que, quando alguém quer terminar, não adianta o quanto tentemos reverter a situação. Ainda que você acabasse por ceder aos meus apelos, não seria verdadeiro. Não seria inteiramente por me querer. Então, dessa vez, quem decidiu desistir fui eu.

 Para algumas pessoas isso pode bastar; meio que ter alguém ao lado pode ser melhor do que se ter por inteiro. Mas, para mim,não é o suficiente. Saber que eu dava tudo de mim todos os dias,que fazia malabarismo com a tristeza pra que desviasse da nossa porta, que mastigava a insegurança pra não lhe cuspir provocações e que, mesmo assim, não conseguia dar vida ao seu olhar, me fez sentir incapaz. Eu não sabia onde estava errando. 

Tanto eu fiz por quem pouco fez que agora tanto faz. Aprendi a desistir e posso dizer, sem sombra de dúvidas, que fiz isso por mim. Somente por mim. Se eu tivesse pensando em você ou acreditado em cada armadilha do destino, que me trazia seu perfume com o vento pra amolecer minha certeza, eu teria voltado. 

Difícil mesmo é suportar essa ausência. Não é amor, não é saudade, eu juro. É só a falta. E para o caso de não passar,preciso me acostumar com esse vazio. Em primeiro lugar, aceitá-lo, e daí por diante preenchê-lo com pequenas doses de esperança e paciência. Sem exageros. Fingir que ele não existe é pior, acredite.

 Superar é um processo e, como todo processo, é doloroso. Eu minto sobre ter te esquecido. Eu mudo de assunto sempre que minha memória me trai e traz seu nome até minha boca. Eu evito conversas que me deem qualquer pista de onde você está (e principalmente com quem). Eu não sei quanto tempo isso vai durar, mas não vou me entregar. Pode chamar de orgulho se quiser, não me importo. Eu chamo de recomeço.

 Superar é ser egoísta. E não faz mal, sabe? A gente tem que se pôr em primeiro lugar para que ninguém nos trate como segunda opção. A única pessoa que tem obrigação de me priorizar, de me amar incondicionalmente e de lutar por mim pelo resto da vida sou eu.

500 Dias sem vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora