CAPÍTULO II: MADE IN BARONESA.

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(clique na imagem acima)

PONTO DE VISTA DO DIOGO (CAIRO)

Nasci e fui criado no Morro da Baronesa, no Complexo Dois Irmãos. Minha família era mais uma desestruturada em que o pai "sai pra comprar cigarros", nunca mais volta, e deixa o filho para ser criado pela mãe.

Mas não sinto por isso, pois minha mãe sempre cumpriu muito bem os dois papéis, sendo uma guerreira determinada a me criar.

Infelizmente, houve uma intervenção policial no morro quando eu tinha uns 6 anos. Foi muito violenta e, no meio da guerra dos traficantes com a polícia, uma bala perdida acabou acertando minha mãe.

Ela estava comigo no colo, correndo para se abrigar em casa e fugir daquele cenário, mas lembro que do nada começou a sair um rio de sangue dela.

• FLASHBACK ON •


Eu não sabia o que estava acontecendo, ela não conseguia mais correr, e nos levou para um beco, onde se sentou no chão, e começou a dizer "Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem". Eu me agachei ao lado dela, pegando em sua mão, e foi quando um moço armado até os dentes nos encontrou.

- Porra, vou chamar os meninos pra te tirar daqui! Você precisa de médicos! Porra, esses desgraçados desses vermes! - xingou ele.

- E-esquece... - minha mãe disse, sem forças - já é tarde demais. Eu perdi muito sangue...

Lembro da imagem do rastro vermelho vivo que ela deixou no caminho. Sangrou até chegar naquele beco. Então, ela agarrou a mão daquele moço com as suas últimas forças, e clamou:

- Apenas prometa pra mim que vai cuidar do meu filho! Tire ele daqui em segurança! É meu último desejo, é só isso que eu quero!

- Eu prometo. Dou a minha palavra. Vou tirar seu filho vivo daqui, vou cuidar dele, e proporcionar um enterro digno para você. - respondeu o moço, resignado.

- Diga sempre a ele que ele teve uma mãe, e que eu o amei muito até o último instante.

Então, ela olha nos meus olhos, tocando minha bochecha com as pontas dos dedos:

- Filho, seja bonzinho, e obedeça o moço, tá bom? Seja o menino educado e gentil que te criei pra ser, ok? E pense sempre em mim, não me esqueça, por favor...

- P-por quê, mamãe? Eu te vejo todos os dias, eu lembro de você! - eu disse, inocente.

- Adeus, meu filho... eu te amo... - ela disse com dificuldade e chorando.

E ali, naquele lugar estreito e úmido, ela expirou pela última vez. Bem na minha frente.

• FLASHBACK OFF •


Durante o episódio, eu só ficava agachado ao lado dela, chorando e assistindo a cena, muito confuso com tudo. Eu também estava coberto do sangue dela, mas parte de mim não entendeu que aquela seria nossa última vez juntos.

Apesar de serem memórias vagas, lembro muito bem desses diálogos.

Depois daquilo, o tal moço me pegou no colo e me levou para uma mulher, numa casa no pico mais alto da favela, e saiu logo em seguida. Fiquei sob os cuidados dela aquela tarde inteira, mas por mais que ela tentasse me distrair com desenho animado na TV e guloseimas, eu não esboçava uma expressão sequer de felicidade. Fiquei atônito assim por muitos dias.

O Dono da BaronesaOnde histórias criam vida. Descubra agora