A carta no meio do livro

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Óscar está na cama de novo, depois de estar quase uma semana sem dormir, ele tenta dormir novamente, mas ele sabe que é supérfluo fazer mais uma tentativa, enquanto aquele livro continuar em cima da sua banca. Já encontra-se empoeirado, depois de quase uma semana sem o pegar e atalhar olhá-lo a todo custo.
Quando Óscar o recebeu, após uma sugestão da sua melhor amiga, amiga esta que ele já não suporta tela como simples amiga tinha algo em sua mente. No dia que ele havia interrogando-a do porquê ela estava lendo sempre esse mesmo livro. Ela respondeu, dando-lhe mil razões para que ele também pudesse ler o grande clássico de Euclávia Viagem “Sorriso apagado,” uma escritora que ela tanto admira. Óscar recebeu o livro com uma intenção, torná-lo apenas um adorno, mas ele ficou estagnado com o livro em suas mãos e agora é um livro sem propósito nenhum. Tal como o Óscar desde que lhe partiram o coração e ele não consegui a si mesmo perdoar, ou perdoar a ela que se casou no sábado passado.
Ela enviou o convite do seu casamento para o Óscar e ainda ligou dias antes pedindo para que ele não faltasse, como seu melhor amigo que era.
Ele se vira na cama, tentando a todo custo não olhar ao livro, lembrou-se que ela ainda voltou a ligar para lhe dizer que o casamento séria hoje as 15hr na igreja Assembleia de Deus Vencedor em Cristo, no mesmo local onde se haviam conhecido, após o culto de avivamento, “Equilíbrio de Nabi Elias F.j”, no momento em que o pregador chamou as pessoas que queriam entregar a sua vida para Cristo, eles levantaram-se e sem se aperceberem estavam os dois do mesmo lado enfrente da plataforma chorando.
E a partir daquele azado momento, eles se conheceram no final do culto e nada os separou, se tornando os melhores amigos, só que Óscar não queria apenas ser o melhor amigo de Luci. Óscar prometeu para ela que comparecia sem falta, pós ela não aceitou nenhuma desculpa que ele havia inventado.
Após ter escolhido a roupa com a maior minuciosidade, pôs-se a caminho. Vendo a igreja de longe, parou o carro o mais perto e discretamente que pode. Olhou para o banco de lado, lá estava a carta no meio do livro no mesmo lugar onde ele havia deixado, após ter recebido a notícia.
Pegou o livro, o segurou com as duas mãos entre o seu corpo, desfolhou até ao meio, encontrou a carta que ele havia escrito no mesmo dia que ele havia recebido o livro prometendo que iria ler com a maior diligência, mas no fundo ele sabia que não estava interessado em ler o livro, mas sim em escrever uma carta declarando o seu amor. E isso não foi difícil para ele o fazer.
No dia que ele levou de volta o livro, pois a carta no meio do livro, dentro de um envelope cor-de-rosa perfumado e ele também não deixou de estar bem cheiroso. No momento que ele começara a debruçar o seu discurso que ensaiara há mais de um mês e em seguida entrega-la o livro. Ela o cortou, dando-lhe a pior notícia de sua vida. Ele viu as pessoas a entrarem na igreja e passando alguns minutos, viu a noiva a chegar, toda linda e sorridente.
Ligou o carro, deu meia volta, entrou no bar mais próximo que encontrou.
Luci ligou brava e totalmente magoada:
― Estavam todos lá, apenas faltou você. – Falou ela com uma tristeza na voz. ― Procurei-te com os olhos em todos os lugares… Estragaste o meu grande dia. ― Se calou tentando não chora.
Ele teve que dizer a verdade:
― Estava lá, mas não consegui entrar.
― Como assim não conseguiu entrar? ― Perguntou ela, mostrando-se surpreendida.
― Sei lá! Não consegui. Não suportaria ver-te a casar com outra pessoa que não fosse eu.
Finalmente, ele conseguiu dizer alguma coisa que estava dentro de si, tudo graças ao empurrão do álcool.
― Como assim, Óscar? ― Ela mostrou-se surpreendida com essa declaração e ao mesmo tempo com raiva por ele estar a dizer isso apenas agora. Em seguida ela disse em meio choro: ― Já é tarde. Eu… eu esperei você muito tempo para se declarar, mas não o fizeste. Enquanto esperava noite e dia o dia que o farias. Eu esperava você com um “sim” na ponta da língua e… ― desligou sem permitir que ele disse-se alguma coisa e nem ela mesma. Agora ela não pode conter as lágrimas que escorriam sem parar, logo no dia do seu casamento.
Posto em casa, depois de ter colocado o livro na banca, ficou dando voltas no quarto e repreendendo-se:
― Óscar, és um covarde, perdeste a mulher que amas, por nunca ter tido a coragem de dizer que a ama, ― jogou o copo de uísque contra a parede. Em seguida jogou-se na cama, deu as costas à banca onde estava o livro, apartado a todo custo olhar à carta no meio do livro. Pegou o travesseiro, abraçou-lhe fortemente e começou a chorar, sem permitir que se consolasse.
Virou, os seus olhos esbugalhados fruto de quase uma semana não dormida e choramigando se deparou com o livro e a ponta da carta que estava meia salienta. Fixou os seus olhos nela, ergueu os seus braços, alcançando o livro, segurou-lhe firme, encostou-o até ao seu peito e levantou-se em seguida com uma determinação nunca antes sentida. Abriu o livro ao meio onde estava a carta, passou os seus dedos na carta no meio do livro, contemplou por alguns minutos a sua beleza, disse para si mesmo: ― não pode terminar assim. ― Voltou a gritar para si novamente: ― deves despertar Óscar e fazer alguma coisa para ter o amor de sua vida.
Tirou a carta no meio do livro, colocou o livro de volta por cima da banca e levantou-se. 

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