Novos começos

Capítulo 1: Novo emprego

O zumbido de uma mosca que acertava persistentemente a janela tentando sair para o ar livre preenchia o ambiente e fazia o visitante se sentir um tanto quanto claustrofóbico. Uma gota de suor havia se desprendido dos seus cabelos na nuca e andava sinuosamente pela linha da sua coluna, colando a camisa fina à sua pele. Aquele verão prometia ser um dos mais quentes dos últimos anos, segundo os especialistas, e já dava mostras disso.

"E você tem alguma experiência nesse serviço?", o homem perguntou escarrando ao seu lado.

Fluke quase havia esquecido de onde estava e o tom brusco do homem o levou a se assustar levemente, quebrando o estado hipnótico em que se encontrava, o forçando a focar a atenção novamente no proprietário do lugar.

A aparência do sujeito à sua frente era repugnante: a camisa estava manchada com algo que não parecia ter sido lavado nas últimas 24 horas, a barba espessa estava coberta de farelos de alimentos, o homem usava o dedo mínimo para cutucar o ouvido e ainda escarrava com uma frequência absurda. Mesmo assim, essa era a última esperança de Fluke e ele estava disposto a engolir tudo isso em troca de um salário razoável e por ter um lugar onde ficar. Por acaso, as duas eram as qualificações da vaga que tentava preencher agora e que não exigia experiência, o que ele fez questão de lembrar ao dono do estabelecimento.

"Isso não era pedido no anúncio.", Fluke respondeu.

"Espertinho, hein? Não vai durar muito sendo assim por aqui. Mas como eu não tenho outra opção e preciso de alguém no bar, você vai servir. Pode começar hoje à noite?", o homem perguntou passando na camisa o mesmo dedo que usava para cutucar o nariz.

"Claro! Quanto antes, melhor!", Fluke deu um sorriso confiante ao lembrar que além do salário fixo mensal, o cargo também vinha com um bônus diário, pago ao final de cada expediente.

Logo em seguida, ao sair da sala do dono, o mesmo chamou James, um dos funcionários do lugar, para mostrar a Fluke onde ficava o quarto dele. Não era um lugar espaçoso ou que trouxesse a mais remota sensação de conforto, mas era embutido na vaga de emprego e ele não precisava pagar nada além por ele. Motivos mais do que suficientes para quem não queria chamar atenção e não tinha muitos recursos disponíveis para procurar opções mais luxuosas. 

Quando o turno começou, pouco depois das 19 horas, Fluke entendeu o motivo da vaga ter um bônus por noite: era insuportável lidar com os bêbados. O bar era fartamente frequentado por sua proximidade com um núcleo de escritórios localizado a algumas quadras, então os engravatados buscavam o lugar na esperança de encontrar alguma diversão para o happy hour. Infelizmente para os funcionários do lugar, isso significava que os clientes bebiam muito e passavam dos limites.

Especialmente por este ser o seu primeiro dia, Fluke havia tentado levar na esportiva e recusar com modéstia e educação as investidas de dois homens e uma mulher, mas o cara que estava diante dele no balcão há bons 40 minutos não dava mostras de ser tão fácil de espantar quanto os candidatos anteriores. Quanto mais o homem insistia, mais irritado Fluke se sentia.

"Vamos, Nong!", o homem implorava num tom que provocava a repulsa de Fluke. Na casa dos 40 anos, o homem ostentava uma aliança que indicava seu estado civil de forma clara, mas mesmo assim ele ainda dizia que precisava de uma recompensa do bartender para completar o dia que tinha sido muito bom com a sua nova promoção e outros eventos que eram absolutamente desinteressantes para Fluke.

"Khun, não posso tratar os clientes de forma diferente, certo? Se eu te der um beijo, logo vou precisar fazer o mesmo com todas as pessoas que pedirem isso. O senhor entende?", Fluke explicou tentando suprimir a sua ira por trás da polidez.

"O que você vai fazer depois de me beijar não é problema meu, sua puta!", o homem despejou sem cerimônia, um soluço cortando a sua chance de falar qualquer absurdo a mais.